Alagoas

Musicoterapia incentiva a profissionalização e resgata autoestima de reeducandos

Projeto voltado à cultura muda perspectiva de vida dos reeducandos do Núcleo Ressocializador da Capital

Agência Alagoas | 17/03/19 - 10h32

Propagar a arte da música como instrumento de transformação do reeducando. Foi com este objetivo que a gestão do sistema prisional decidiu retomar, há três meses, o projeto denominado Musicoterapia, destinado a 20 reeducandos do Núcleo Ressocializador da Capital (NRC), onde são ministradas aulas de violão, baixo, teclado e bateria. Com o projeto, a Secretaria de Estado de Ressocialização e Inclusão Social (Seris) tem resgatado a autoestima dos reeducandos, despertando talentos e ofertando, inclusive, a chance de profissionalização.

Antony Câmara é músico, agente penitenciário e responsável pela musicoterapia no NRC. Segundo ele, as aulas teóricas e práticas acontecem sempre as quartas, quintas e sextas-feiras, das 14h às 16h. “Agora, estamos trabalhando, em especial, para uma apresentação no Dia das Mães. Temos de caminhar no ritmo dos reeducandos, já que todos eles têm outros afazeres dentro do núcleo. Mas estamos evoluindo muito bem enquanto grupo musical e, em breve, vamos expandir este projeto”, explica Antony, destacando a intenção de também implantar a musicoterapia no Centro Psiquiátrico Judiciário (CPJ) e no Presídio Feminino Santa Luzia.

Ainda de acordo com o agente penitenciário, o mais importante dos requisitos para participar do projeto é a vontade de aprender. “Este projeto é a ressocialização por meio da cultura. A música supera outras áreas do saber porque oxigena a mente e toca o coração do ser humano, fazendo-o refletir sobre vários aspectos da vida”, analisa o agente penitenciário, que ressalta, ainda, a alegria dos reeducandos em satisfazer os familiares envaidecidos.

“Eles se orgulham muito em dizer aos pais, filhos ou esposas que já tocam um instrumento. E todos passam a se relacionar melhor. Também é muito gratificante saber que talentos começam a de fato desabrochar. Nesse sentido, o benefício vai muito além do resgate da autoestima”, reforça Antony Câmara.

O projeto, inclusive, já chama a atenção da academia. É que músicos e professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) têm contribuído, voluntariamente, com a musicoterapia, auxiliando os reeducandos no processo de aprendizagem. “Isso só reforça a confiança no trabalho que se tornou realidade graças também ao apoio do secretário de Ressocialização e Inclusão Social, coronel PM Marcos Sérgio de Freitas”, salienta o agente, que não esconde seu entusiasmo com o alcance da iniciativa.

“Outro detalhe é a rotatividade dos seus componentes. Isso porque, em alguns casos, o reeducando acaba recebendo um alvará de soltura e, com isso, tendo de deixar o sistema prisional, o que não deixa de ser uma boa notícia, já que ele se despede do nosso projeto com outra visão de mundo. E as aulas acontecem com a porta da sala aberta para que o som ecoe por toda a unidade, inspirando outras pessoas interessadas em participar”, revela Câmara.

DOIS ANOS SEM REINCIDÊNCIA

Já o chefe do Núcleo Ressocializador da Capital, agente penitenciário Eduardo Gouveia, explica que a musicoterapia veio para reforçar conquistas celebradas no âmbito do sistema prisional alagoano. Uma delas é o fato de não se registrar casos de reincidência envolvendo egressos do NRC já há dois anos.

“Uma das nossas práticas no Núcleo Ressocializador é aproximar família e reeducando, desde que este cumpra rigorosamente as normas estabelecidas por uma equipe multidisciplinar. E não nos preocupamos apenas em cobrar disciplina e respeito ao próximo, mas também em ofertar alternativas como a musicoterapia”, relata o agente.

Para Gouveia, o projeto que ensina a arte da música aos reeducandos é, sobretudo, uma forma de promover o crescimento individual de cada participante. “Afinal, o Núcleo Ressocializador não pode ser apenas um lugar considerado tranquilo. Precisa também ser uma ferramenta de transformação deste reeducando. Portanto, vamos seguir implementando todas as ações que entendemos salutar no processo de ressocialização, a exemplo da musicoterapia”, emenda o chefe do NRC.

Entre os reeducandos, por sua vez, não faltam exemplos de perseverança. É o caso de Washington Ribeiro, de 27 anos. Ele está aprendendo a tocar violão e já cogita, inclusive, tornar-se músico profissional quando deixar o cárcere. “A música significa muita coisa para mim. Estou trabalhando, estudando e, agora, aprendendo a tocar um instrumento que pode me trazer um emprego lá fora, se Deus assim quiser. Estou orgulhoso de mim porque sei que minha família está muito feliz. Por isso, quero seguir treinando bastante para fazer bonito durante a apresentação do Dia das Mães”, conta o reeducando.