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Sem-teto na Filadélfia processa casal que arrecadou US$ 400 mil em seu nome

Valor arrecadado não teria sido entregue ao beneficiário, que atualmente está em uma clínica de reabilitação; o casal conta que parte do dinheiro foi usado por Bobbitt para comprar drogas

Estadão | 30/08/18 - 16h42
O casal e Bobbitt | Elizabeth Robertson/The Philadelphia Inquirer via AP

Quando um homem sem-teto no Estado da Filadélfia deu a um casal sem dinheiro os últimos US$ 20 que tinha para que pudessem comprar gasolina, os dois ficaram tão inspirados que começaram uma campanha online para arrecadar fundos e ajudar o homem, Johnny Bobbitt Jr.

O objetivo, no site GoFundMe, foi estabelecido em US$ 10 mil, mas ao longo de nove meses, mais de 14 mil pessoas doaram mais de US$ 400 mil. No entanto, Bobbitt conta que ainda não recebeu o dinheiro e está abrindo uma ação contra o casal do Estado de New Jersey, Mark D'Amico e Kate McClure.

Bobbitt ainda é um sem-teto e estava mendigando até ser internado em uma clínica de reabilitação. "Ele está vivendo a partir da bondade de estranhos", disse Jacqueline Promislo, advogada de Bobbitt, em uma entrevista. 

O casal contou seu lado da história na manhã da segunda-feira 27, no programa de TV Megyn Kelly Today, na NBC.

Inicialmente, D'Amico e Kate disseram ter tentado transferir o dinheiro para uma conta bancária de Bobbitt, mas ele não tinha nenhum documento de identidade. Disseram que teriam dado US$ 25 mil em dinheiro a Bobbitt no último Natal, mas ele gastou a quantia em 13 dias. O casal acrescentou que Bobbitt teria usado sua conta no aplicativo de caronas Lyft para pedir serviços de carro até locais conhecidos pela venda e compra de drogas.

D'Amico e Kate disseram ter então decidido manter o resto do valor para o bem do homem. "Não queríamos dar a ele US$ 400 mil", disse D'Amico. Em vez de lhe entregar mais dinheiro, os dois tentaram comprar coisas para Bobbitt. Ajudaram-no a comprar um trailer, que fica estacionado em sua casa. "Nós o levamos e ele escolheu", disse D'Amico.

Embora a história tenha sido convincente no programa de TV, a advogada Jacqueline, que representa Bobbitt sem cobrar qualquer custo, disse que seu cliente não tem nenhum trailer. "Eles compraram em seu nome e mantiveram em seu nome", disse. "Acredito que venderam", acrescentou. 

Bobbitt acredita que o casal está gastando o dinheiro em viagens e na compra de uma nova BMW. Segundo o casal, o carro que compraram é usado.

Jacqueline se recusou a dizer quem estava pagando pela reabilitação de Bobbitt ou há quanto tempo ele está sob tratamento para vício em drogas.

Segundo a ação judicial contra o casal, um tribunal nomearia um administrador para o dinheiro, mas a advogada se recusou a dizer se um parente ou sua firma estariam dispostos a assumir tal papel. Ela acrescentou que "o dinheiro nunca foi doado a Mark ou Kate, mas eles colocaram o dinheiro em sua conta pessoal".

D'Amico disse, na entrevista, que "queria ter certeza de que, no fim do dia, quando ele estivesse pronto, houvesse algo para Bobbitt". Ele admitiu ter usado US$ 500 em uma aposta, com a permissão do sem-teto, mas disse que havia devolvido o dinheiro.

Má gestão financeira de doações ou fraudes não são um problema novo para sites de financiamento coletivo. "Acontece mais do que o GoFundMe admite", disse Adrienne Gonzales, que gerencia o GoFraudMe, site de vigilância. 

Ela citou o exemplo de pessoas que arrecadam dinheiro para tratamentos contra o câncer, mesmo quando não têm câncer, ou que não entregam as doações arrecadadas para gastos como funerais.

Segundo porta-voz do GoFundMe, o serviço devolverá as doações caso suspeite de mau uso do dinheiro, ou se certificará de que a quantia chegará ao beneficiário. De acordo com a advogada de Bobbitt, o sem-teto quer uma casa. "Ele quer seu dinheiro", reiterou.