Cinema

Sequência de filme da Lava Jato não terá prisão de Lula e vazamento de mensagens de Moro

Folhapress | 15/07/19 - 15h49

 Alguns dos fatos mais marcantes da Operação Lava Jato, como a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 73, e o vazamento de supostas mensagens do ministro da Justiça, Sergio Moro, 46, não deverão aparecer na sequência do filme "Polícia Federal: A Lei é para Todos", que inicia gravações neste semestre. 

A nova produção, que já está com roteiro pronto, deverá mostrar o andamento da Lava Jato, após a condução coercitiva de Lula, ocorrida em março de 2016 e mostrada no final do primeiro filme. A partir daí, ela abordará o aprofundamento das ações em Brasília e no Rio de Janeiro, saindo do foco em Curitiba.

"A prisão de Lula não passa por um assunto investigativo, que é o foco do filme. Depois que os fatos da Lava Jato vão para o Judiciário deixa de interessar no ponto de vista cinematográfico. A gente quer fazer um filme investigativo.

O imbróglio jurídico não é interessante", afirmou o diretor Marcelo Antunez, durante a feira de segurança ISC Brasil 2019, que aconteceu no fim de junho em São Paulo.

Segundo o cineasta, o filme mostrará a investigação sobre o empresário Joesley Batista e a sua JBS, sobre o ex-presidente Michel Temer e sobre o deputado Aécio Neves (PSDB), além das prisões do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) e do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB). 

"Cabral é tão complexo que daria para fazer um outro filme, acho até que poderia ser uma série. Mas não queria deixar de tê-lo na trama, já que ele foi um marco importante. Até porque, quando Cabral é preso e não consegue sair, liga uma luz vermelha em muita gente", avalia o diretor. 

Ele ainda brinca que o segundo filme será uma espécie de "Império Contra Ataca" (1980), numa referência ao filme da série Star Wars. "É quando a Lava Jato começa a se abrir e se aprofundar nas investigações, e vários grupos começam a se incomodar, se preocupar, e começam a reagir."

Antunez continua: Enquanto a investigação estava focada no empresariado, os deputados e o Congresso de forma geral não se mexiam. Quando ela começou a incomodar o Congresso, o Executivo permaneceu tranquilo. A Lava Jato então chegou ao Executivo, e assim sucessivamente. 

Entre os fatos marcantes da política nacional que estarão na produção, está o impeachment de Dilma Rousseff, em agosto de 2016, que o diretor avalia como um momento marcante, já que o MDB chega à Presidência num período em que as investigações, até então focadas no PT, avançam sobre o partido.

Com expectativa para um terceiro filme, "Polícia Federal 2" deverá mostrar o andamento das investigações da Lava Jato até meados de 2017, destacando a apreensão de R$ 51 milhões, atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, apreendidos em um apartamento em Salvador. O dinheiro seria resultado de propina. 

Com a mudança do foco de Curitiba para Brasília e Rio de Janeiro, o elenco também deve sofrer mudanças significativas neste segundo filme, que deverá ser lançado no segundo semestre de 2020, embora alguns atores sejam mantidos, como Bruce Gomlevsky, que vive o delegado, Julio César, no primeiro filme. 

HISTÓRIAS REAIS 

O personagem de Julio, assim como os demais que aparecem em "Polícia Federal: A Lei é para Todos", não têm relação direta com a realidade. Segundo Antunez, eles foram criados a partir das coletas de informações da Lava Jato, tendo havido fusão de características de personagens e criação de novos. 

"Isso não é um documentário", afirma o diretor, destacando que Julio, o personagem que concentra os maiores embates pessoais do filme, foi criado para dar uma maior humanização à história. "É um projeto para entreter, queremos o apelo dramático, mas sem defender lados", completa Antunez. 

"São fatos reais, não distorcemos os fatos, tudo consta nos autos. Não os diálogos, mas os acontecimentos estão todos lá", completa o produtor Tomislav Blazic, que diz ser uma responsabilidade muito grande tratar de histórias reais. 

Ele ainda comparou "Polícia Federal: A Lei é para Todos" com a série "O Mecanismo" (Netflix), que também aborda a Operação Lava Jato, e diz que elas não têm qualquer ligação. "'O Mecanismo' optou por ser uma produção ficcional, apenas inspirada em fatos reais, nós somos baseados em fatos reais."

ORÇAMENTO

Ao contrário do que aconteceu no primeiro filme, "Polícia Federal 2" vai contar com parte de seus recursos vindo de leis de incentivo à cultura do governo federal. Foi justamente a demora na liberação desse dinheiro que atrasou as gravações, previstas inicialmente para o primeiro semestre deste ano. 

Segundo Antunez, houve um "desconforto" durante o projeto do primeiro filme, por falar do governo tendo usado verba pública. Além disso, os produtores teriam visto na época um grande potencial comercial na produção, já que a Lava Jato era um "assunto quente", sempre na capa dos jornais. 

"Então [pensamos] em deixa o orçamento para quem não tem potencial comercial. São filmes que dependem da lei de incentivo... O público brasileiro está monotemático, sempre nas comédias, em cima de alguns temas, ele não prestigia muito o cinema nacional, então [alguns filmes] precisam do apoio das leis."

"E naquela época ninguém sabia como ia sair o filme", continua Antunez. "Agora, com o filme pronto, todo mundo dá uma relaxada e surgem os interessados para investir, mas as empresas querem através da lei de incentivo, porque tem imposto para pagar. Já os ataques virão com ou sem o uso da lei", brinca.