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Jovem chilena pede direito à eutanásia e reacende debate sobre o tema

14/02/18 - 22h58
Reprodução/Twitter/DescansoParaPau


O caso de uma jovem chilena de 19 anos despertou comoção e polêmica nas redes sociais. Desde o fim de 2013, Paula Díaz sofre de um mal raro que, até agora, não foi diagnosticado de forma conclusiva. Por isso, Paula quer morrer. Pede direito à eutanásia, prática proibida no Chile.

Um vídeo compartilhado pela família no início deste mês, no entanto, ultrapassou as fronteiras do país. Nele, a jovem pede de forma desesperada à presidente Michelle Bachelet que autorize sua eutanásia porque não suporta mais a dor e não aguenta mais viver.

“É algo tão terrível que não consigo descansar. Nem de dia, nem à noite (…). Já não suporto meu corpo. Ele está despedaçado. Não consigo apoiar qualquer parte dele sem sentir dor. Como não conseguem entender que já não aguento mais?”, diz em sua mensagem.

A família afirma que, no decorrer dos últimos quatro anos e de forma cada vez mais intensa, Paula faz movimentos involuntários, tem episódios de perda da consciência, paralisia das extremidades e uma dor que a jovem define como “insuportável”.

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A ausência de informações claras sobre seu problema de saúde, de um diagnóstico conclusivo e um laudo médico que lhe atribui um transtorno psiquiátrico, que seria o responsável pelos sintomas que Paula alega sentir, fizeram com que a polêmica que cerca a discussão sobre eutanásia no Chile se aprofundasse ainda mais.

Vanessa Díaz, irmã de Paula, diz à BBC Mundo que tudo começou no fim de 2013, quando a jovem foi hospitalizada com sintomas que os médicos associaram à coqueluche. Ela contou que, pouco antes de ir ao hospital, a jovem recebeu a vacina tríplice que protege contra três doenças – tétano, difteria e coqueluche.

Familiares e alguns médicos – nenhum de forma escrita, segundo a BBC – acreditam que um vírus presente na vacina se alojou na medula de Paula e é responsável por sua condição atual. O caso é sem precedentes no país.

Segundo a família, Paula já foi avaliada por dezenas de especialistas, sem que eles tenham encontrado uma causa para o que ela diz sentir.

De acordo com o jornal chileno El Mostrador, nos prontuários das diferentes clínicas pelas quais a jovem passou desde 2013 são encontrados diagnósticos que vão de bronquite obstrutiva, pneumonia e edema de laringe a transtorno depressivo maior, perda auditiva, escoliose, ataxia (perda de coordenação muscular), síndrome da conversão (transtorno mental que causa reações neurológicas sem uma causa aparente) e encefalite.

Até o momento, contudo, a família não apresentou laudo médico que atribui os sintomas a um problema neurológico degenerativo – e a clínica onde aparentemente o diagnóstico foi realizado proibiu, para preservar a privacidade dos pacientes, a divulgação de detalhes do tratamento de quem passou por ali.

Por isso, um dos dilemas éticos do caso é o fato de as informações serem muito precárias. As incertezas só aumentaram depois que um outro laudo médico sobre a jovem foi emitido por um renomado hospital chileno.

“Nos disseram que minha irmã tinha síndrome da conversão e que ela estava causando a si mesma os sintomas”, afirmou Vanessa à BBC. A síndrome da conversão é uma rara doença psiquiátrica que gera sintomas que se assemelham aos de uma doença neurológica.

Após o diagnóstico de Paula, o hospital sugeriu transferir a jovem para uma clínica psiquiátrica para fazer tratamento, recomendação que a família rejeitou.

“Conhecemos minha irmã, era uma menina saudável que não tinha nenhum problema, nós sabemos que não é um problema psiquiátrico”, alega Vanessa.

Desde 2015, a família se nega a submeter Paula a novos exames e decidiu apoiá-la em sua decisão de tentar a eutanásia. “Estamos respeitando a vontade de Paula, não queremos que ela continue sendo obrigada a passar pelas hospitalizações”, afirmou a irmã.