Economia

ONG expõe desigualdade na cadeia de fornecedores de supermercados

20/06/18 - 21h35
Márcia Ribeiro/Folhapress

Apenas dez redes supermercadistas respondem por metade de todas as vendas do setor na Europa. Isso é o que mostra o estudo Desigualdade e Sofrimento Humano nas Cadeias de Fornecimento dos Supermercados, divulgado nesta quarta-feira pela ONG Oxfam Internacional. De acordo com o relatório, essa concentração contribui para o agravamento da pobreza dos trabalhadores e produtores de alimentos vendidos pelo setor supermercadista.

“A renda dos agricultores vem sendo arrochada de forma brutal, os baixos salários são generalizados e os direitos trabalhistas, negados a pessoas que trabalham para fornecer diferentes produtos a supermercados em todo o mundo”, afirma Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam Internacional no prólogo do relatório.

Segundo ela, as pesquisas mostram que trabalhadores das cadeias de fornecimento de supermercados têm dificuldades para alimentar adequadamente suas próprias famílias. Na África do Sul, por exemplo, mais de 90% das trabalhadoras entrevistadas em fazendas de uva disseram não ter tido alimento suficiente no mês anterior. Quase um terço afirmou que elas próprias ou um membro de suas famílias tinham ido dormir com fome pelo menos uma vez naquele período.

Para que os trabalhadores dessas cadeias de fornecimento não passem mais fome, a Oxfam lançou uma campanha pelo salário digno. No caso do Brasil, o salário considerado digno é aquele calculado pelo Dieese, de 3.747,10 reais – o salário mínimo oficial do país é de 954 reais por mês.

Segundo a Oxfam, os supermercados ficam com uma quantidade cada vez maior do preço final que os consumidores pagam – 48,3% para as grandes redes e apenas 6,5% para os pequenos agricultores e trabalhadores.  No caso do suco de laranja fabricado no Brasil e vendido para a Europa e Estados Unidos, a fatia dos pequenos produtores e trabalhadores rurais é de 4%.

Na opinião de Gustavo Ferroni, assessor de políticas da Oxfam Brasil, a preocupação crescente dos consumidores com a sustentabilidade de toda a cadeia de produção dos itens que consomem obrigará as grandes redes a mudar de postura.

“Com o poder de compra que possuem, eles podem interferir direta e indiretamente nas condições de produção, exigindo – por exemplo – o compromisso de seus fornecedores para acabar com jornadas exaustivas, empregos informais, trabalho escravo e outras condições desumanas no campo”, afirma ele.

Em abril, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para combater práticas comerciais desleais na cadeia de abastecimento alimentar que prejudicam pequenos produtores agrícolas.