Futebol Internacional

Trabalhadores da Fiat anunciam greve após acerto da Juventus com Ronaldo

12/07/18 - 17h25
Juventus

Trabalhadores da fábrica da Fiat-Chrysler (FCA) na cidade de Melfi, no sul da Itália, anunciaram greve de dois dias em protesto ao alto valor desembolsado pela Juventus para a contratação de Cristiano Ronaldo.
A chamada para a manifestação foi feita pelo líder operário Domenico De Stradis, da União Sindical de Base, no povoado de 17 mil habitantes.

"O problema não é o Cristiano Ronaldo, e não é verdade que não estejamos felizes com sua contratação", diz. "Mas esse jogador é um bom exemplo do que está acontecendo na nossa sociedade, em que algumas pessoas têm salários tão altos, mas tão altos, que já não sabem nem como gastar."

Os trabalhadores de Melfi se indignaram com a notícia de que a Juventus vai pagar o equivalente a R$ 450 milhões de reais na compra do ex-atacante do Real Madrid, eleito cinco vezes como o melhor jogador do mundo.

Uma das sócias majoritárias do time italiano, a holding de investimentos Exor, tem 30% das ações da montadora -que nos últimos anos vêm pedindo que os seus operários façam sacrifícios devido a restrições financeiras no setor.

Milhares de funcionários da Fiat Chrysler recentemente tiveram seu número de horas de trabalho reduzido devido à desaceleração da produção nas fábricas. As instalações em Melfi, onde estão previstas as greves, montam os automóveis modelo Fiat Punto e 500X. A Fiat Chrysler tem outras fábricas na Itália, e o dano deve ser limitado.

"A nossa fábrica e a Juventus têm o mesmo dono. Por que os nossos investidores só prestam atenção ao time? Por que sempre nos pedem que façamos sacrifícios?", pergunta o sindicalista De Stradis.

Os trabalhadores paralisarão as atividades às 20h de domingo (15) até às 6h de terça-feira (17). "Nós merecemos o mesmo respeito que eles dão ao Cristiano Ronaldo. Não digo o mesmo salário, porque eu nem quero ser tão rico quanto ele. Mas é uma questão de tratamento. De ter qualidade de vida. Boas condições de trabalho na linha de montagem", afirma.

O sindicato de Melfi não está integrado às grandes organizações trabalhistas do país nem congrega, segundo a imprensa italiana, todos os operários da montadora. Mas o fato de terem decidido criticar justamente Cristiano Ronaldo, cuja contratação foi celebrada pelos fãs da Juventus, fez com que a causa tivesse alcance.

"Como ele é uma estrela mundial, a nossa greve recebeu toda essa atenção", afirma De Stradis. "Eu queria, aliás, agradecê-lo por isso."

"Não acho que vamos mudar as coisas de um dia para o outro, mas precisamos tentar. O que queremos é que a nossa sociedade seja mais igual. Não é possível, por exemplo, que o Brasil ainda tenha favelas enquanto o Neymar ganha milhões de euros. É uma injustiça", diz o sindicalista.