Brasil

Apesar de obras, São Paulo ainda precisa de chuva para evitar nova crise hídrica

25/02/18 - 18h43

Em março, enquanto especialistas e chefes de Estado estarão debatendo a gestão sustentável dos recursos hídricos no planeta, no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, a capital paulista completa exatos dois anos do anúncio do fim da crise hídrica no estado. À época, em 2016, a informação era de que a Grande São Paulo não enfrentava mais problemas de falta de água e que os reservatórios que abasteciam a cidade estavam em níveis seguros. Especialistas concordam que a situação atual é melhor, mas alertam que os riscos do desabastecimento não estão totalmente afastados. Hoje, em pleno verão, o reservatório da Cantareira, o principal da metrópole, apresenta os mesmos níveis da fase anterior ao início da crise, quatro anos atrás.

Em entrevista à TV Brasil, o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo e presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, afirmou que a situação atual é mais tranquila e que obras e a conscientização da população ajudaram nessa melhora. “Estamos numa situação relativamente tranquila do ponto de vista dos recursos hídricos. Passamos em 2014 e 2015 uma situação muito complexa, mas as obras que executamos e as medidas que foram tomadas no controle do uso das águas pelas pessoas tiveram uma colaboração importante”, ressaltou. Embora considere a situação normal, o secretário espera pelas chuvas: “Estamos aguardando as chuvas do verão para que a gente possa encher os reservatórios e ficar mais sossegados ainda no início do ano que vem”.

O engenheiro especializado em gestão de recursos hídricos e professor da Universidade Mackenzie, Paulo Ferreira, concorda que a situação está mais tranquila, mas, segundo ele, não há água de sobra no estado. “Hoje estamos no limite, o que produz gasta, e nós não temos reserva. Dizer que estamos fora da crise hídrica é um pouco temerário. Se ficarmos com um período hidrológico de um ano irregular, acho que voltamos para a crise. A Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] tem gestão eficiente para trabalhar, tem recursos, capacidade técnica para enfrentar, então vai ser minimizado esse problema, mas não vai deixar de existir, estamos no fio da navalha em termos de consumo e produção”. Ferreira também já atuou como diretor da Sabesp e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

Obras hídricas

A interligação Jaguari-Atibainha é uma das principais obras em execução para ampliar os níveis de segurança hídrica da região metropolitana de São Paulo, e liga as represas Jaguari, na Bacia do Paraíba do Sul, e Atibainha, uma das que compõem o Sistema Cantareira. Segundo a Sabesp, quando estiver concluída, a interligação permitirá transferências de água a uma vazão média de 5.130 litros por segundo (l/s) e máxima de 8,5 mil l/s da represa Jaguari para a Atibainha, e de 12,2 mil l/s no sentido contrário, garantindo assim o abastecimento de toda a população atendida pelos dois sistemas. “Hoje, o Sistema Cantareira abastece cerca de 9,5 milhões de pessoas e o Paraíba do Sul, 3 milhões. Ao conectarem-se ao sistema integrado que abastece a Grande São Paulo, mais de 20 milhões de pessoas serão beneficiadas. As obras foram 96,5% concluídas”, disse em nota. A companhia não informou a data de inauguração.