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Áudio de atendimento polêmico de médico gera críticas ao Samu de Natal; ouça

19/08/17 - 15h11

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Rio Grande do Norte foi alvo de críticas após um atendimento polêmico de um médico a uma mulher que solicitou socorro ao advogado Rodrigo Paiva, de 37 anos, baleado em uma tentativa de assalto, no bairro Barro Vermelho, em Natal, no dia 12 deste mês.

Um áudio do chamado da mulher circulou pelas redes sociais e mostrou o momento em que o médico, de forma ríspida, disse que ela entrasse em contato primeiro com a polícia, para que pudesse encaminhar ambulância. O advogado (foto) havia sido baleado no tórax e teve fígado, estômago e pulmão perfurados.

No áudio, a mulher, que não conhecia a vítima, pede urgência à primeira atendente com quem conversa, e diz que o tiro pode ter atingido o coração da vítima. A atendente segue o protocolo do Samu e faz os questionamentos sobre o local e pontos de referência. Em seguida, diz que vai passar a ligação para um médico.

"Minha senhora, não tem como mandar logo não? É uma urgência", questionou a mulher que fez a ligação. "Tem que falar com o médico. Ele é que libera a ambulância", responde a atendente.

A mulher que fez a ligação fala com outras pessoas se queixando do protocolo de atendimento. "Eu estou pedindo, mas tem que responder um protocolo do tamanho do mundo", disse a mulher, que foi atendida neste momento e ouviu resposta do médico, em tom ríspido.

"É assim mesmo, senhora, funciona desse jeito", disse o médico. "É que o homem foi baleado", disse a mulher". "E a culpa primeiro não foi da gente", responde o médico.

No cumprimento do protocolo, o médico questionou sobre a região do corpo onde a vítima foi atingida, mas não foi claro o suficiente para a mulher, que deu novamente o endereço. "O ferimento foi em que local?", questionou o médico. "Foi aqui na Régulo Tinoco", respondeu a mulher. "Não! Foi na bunda, na perna, na cabeça, na orelha?", questionou novamente.

Ouça

O médico, em seguida, pergunta se havia alguém da polícia no local e a mulher informou que sim. No entanto, ela passou o telefone para um enfermeiro. O médico, então, informa que só manda ambulância se a polícia estiver no local e diz para as pessoas chamarem os policiais.

Em seguida, o enfermeiro desliga o telefone e, com a ajuda de outras pessoas, leva o advogado para o hospital.

A ligação tem 3 minutos e 26 segundos. Apesar de não ter recebido atendimento do Samu, o advogado recebeu alta e passa bem.

Secretaria de saúde admite “tom” errado do médico

De acordo com o secretário de Saúde de Natal, Luiz Roberto Fonseca, o protocolo do Samu foi seguido, apesar de admitir que o tom utilizado pelo médico não foi o ideal e soou jocoso. "Sei de que médico se trata, é um dos melhores do Samu, e preciso entender em que situação se deu, para aí sim chamá-lo para conversar. Tem que analisar as colocações que foram feitas, embora ele não tenha errado na regulação. Talvez a forma como teve, pode ter havido um tom jocoso e vale a pena conversar. Protocolarmente, não houve erro", explicou Luiz Roberto Fonseca.

O secretário explicou que, em casos de feridos a tiros, descargas elétricas ou incêndio, é protocolo do Samu que a Polícia e o Corpo de Bombeiros, respectivamente, atuem para evitar que os socorristas possam se tornar novas vítimas. Contudo, no entendimento do secretário, o protocolo merece ser rediscutido. "O que vejo é que o próprio Samu poderia ter entrado em contato com a polícia. Esse caso nos mostra que é preciso uma reflexão do Poder Público sobre a questão de despacho imediato. É um incidente mostra que os protocolos devem ser revistos", disse o secretário, que confirmou que o médico será ouvido sobre o caso.

Ainda de acordo com Luiz Roberto Fonseca, o Samu teria chegado ao local 11 minutos após o chamado.