Brasil

Crianças refugiadas mergulham pela primeira vez em praia no Rio

23/11/17 - 19h14
Reprodução/Facebook

Poderia ser um passeio como outro qualquer, para curtir o sol em Copacabana, comer biscoito Globo e jogar conversa fora. Mas a quinta-feira passada diante do mar teve um significado especial para cerca de 20 crianças refugiadas, a maioria da República do Congo, que foram à praia pela primeira vez. Filhos de alunos do curso de português promovido pela Pares Cáritas RJ, em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), eles acabaram protagonizando um vídeo emocionante, que, até a tarde desta quarta-feira, já tinha mais de 5,5 mil visualizações no Facebook. As imagens, que mostram a felicidade dos pequenos, foi compartilhada mais de duzentas vezes.

"O passeio foi uma atividade do curso que a gente queria fazer há muito tempo. Muitos dos adultos nunca tinham ido à praia, alguns não conhecem os pontos turísticos do Rio. Eles acabam circulando apenas pela periferia, não andam muito pelo Rio", conta Domenique Sendra, coordenadora pedagógica do Pares Cáritas RJ, instituição ligada à Arquidiocese do Rio que acolhe refugiados.

Segundo Domenique, o curso de português para refugiados existe há 13 anos e é voltado para adultos. O objetivo da excursão, além de garantir um bom mergulho, era contar um pouco da história do Rio:

"Esse era um tema que já vinha sendo estudado na sala de aula, e havia uma demanda."

O passeio faz parte de um programa da faculdade, junto à Cátedra Sérgio Vieira de Mello - fórum acadêmico que promove os direitos do refugiados em universidades e ligado à ONU -, cujo objetivo é apresentar a esses estrangeiros os espaços culturais da cidade. Responsável pelo projeto, o professor da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) da Uerj Alexandre Ribeiro Neto conta que, em outras ocasiões, o grupo já havia visitado o Museu da República e o Museu de Arte do Rio (MAR):

"O último trabalho de campo, que contou com a presença de voluntários que trabalham na Pares Cáritas, era conhecer a orla da Zona Sul. Fomos ao mirante do Leblon, onde aprenderam sobre a história da evolução urbana do Rio, e, depois de descerem a orla, foram até a praia."

Para Ribeiro Neto, o projeto é importante para integrar essa população, que acaba circulando por poucos locais e não conhece de fato o Rio:

"Eles só conhecem o lugar onde moram, a Cáritas e a Uerj. Mas só esses lugares não conseguem explicar a sociedade em que eles vivem."

O professor conta ainda que, apesar da crise financeira que afeta a Uerj, funcionários da universidade foram solidários e ajudaram na organização do passeio. Foram eles que conseguiram reservar dois ônibus da instituição para levar o grupo à praia:

"Ainda que em tempos sombrios, e com todas as precariedades que o governo impõe à Uerj, esse tipo de trabalho mostra como ela é necessária. É um patrimônio do Rio. A gente consegue cumprir nosso objetivo. E, se não fossem os funcionários da subreitoria de graduação, como Tânia Netto e outros, esse passeio não teria acontecido."

Visita ao cinema

Para o próximo ano, a ideia é tentar levar o grupo para outros pontos do Rio. Tudo depende, no entanto, de apoio. Um desejo de Domenique é poder levar as crianças ao cinema para assistir a um blockbuster na telona:

"A gente acaba conseguindo levar a filmes mais cult, que não são muito interessantes para as crianças. Estamos tentando, para o próximo ano, levá-los para assistirem a um filme desses de grande bilheteria. Eles nunca foram ao cinema."