Futebol

Cerca de 20 árbitros estão envolvidos em escândalo no futebol da Paraíba, diz polícia

Testemunha afirma que presenciou negociações de árbitros com dirigentes de futebol; alagoano Francisco Carlos do Nascimento, o Chicão, é suspeito

15/05/18 - 16h12
Raniery Soares/Jornal Correio da Paraíba

Aproximadamente 20 árbitros estão sendo investigados pela Delegacia de Defraudações e Falsificacões de João Pessoa, após denúncia de manipulação de resultados de jogos no Campeonato Paraibano. A polêmica ultrapassou divisas e começa a atingir Alagoas.

Nesta terça-feira (15), o blogueiro do Portal TNH1, Marlon Araújo, publicou um áudio em que o árbitro alagoano Francisco Carlos do Nascimento, o Chicão, conversa com o presidente do Campinense, William Simões, na semana que antecedeu o primeiro jogo da final do estadual da PB, apitado por Chicão. No diálogo não fica caracterizado um possível esquema, mas a conversa levantou suspeitas da polícia. 

O TNH1 tentou contato com o árbitro alagoano, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.

Em entrevista à Rede Tambaú de Comunicação, da Paraíba, um árbitro que estaria envolvido no esquema, mas não quis se identificar, confessou que presenciou diversas vezes as negociações da compra de resultados, mas nega participação.

“Quem fazia as escalas dos jogos não era a comissão de arbitragem, e sim os dirigentes dos clubes, que ligavam para o diretor de arbitragem e até para o presidente da federação para pedir árbitro A, B e C”, relatou o árbitro que diz sofrer ameaças de morte.

“Em jogo de clube grande ele chegou a desembolsar até 50 mil por uma partida apenas, da final do Paraibano, e as vezes era vendido para as duas equipes, tanto para equipe A quanto para a equipe B. Todos pagavam, e quem não ganhasse perdia o dinheiro", continuou.

O árbitro também conta que está desestimulado a continuar na profissão devido ao atual momento de corrupção do futebol no estado. "Se hoje começasse um novo campeonato, não teria árbitro para trabalhar, porque 75% dos árbitros da Paraíba estão envolvidos", acrescentou.

Presidente da FPF afastado

Em um pronunciamento realizado à imprensa, na sede da Federação Paraibana de Futebol (FPF), o presidente da entidade, Amadeu Rodrigues, afastado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nessa segunda-feira, 14, relatou que estava tranquilo e aguardava novos desdobramentos das investigações. “Nós temos a serenidade de saber que não tomamos qualquer atitude com o intuito de ludibriar instituições e pessoas”, disse.

Além disso, Rodrigues criticou o vazamento de informações sobre o caso e disse que não irá renunciar, apesar de ter sido afastado pela CBF. “O processo assim deixa de ser sigiloso e jurídico, passando a ser midiático. Eles pegam frases, documentos e atos, retirando-os de contexto, seja por desconhecimento ou por má fé, com simples intuito de forçar uma renúncia de mandato ou me retirar à força da presidência", disse.

Delegado afirma que inquérito está quase concluído

Em conversa com o TNH1, o delegado Lucas Sá, da Polícia Civil da Paraíba, responsável pelo caso, informou que até o momento ninguém foi preso.

"O inquérito já está em fase de término, fizemos a individualização de todas as condutas, as provas apresentadas, e esperamos fazer um relatório final para encaminhar à Justiça. Não podemos revelar detalhes por conta do processo correr em segredo de Justiça", disse.

Questionado sobre o número de árbitros envolvidos no esquema e quais já foram ouvidos, o delegado acrescentou que árbitros ligados a outras federações ainda vão depor. "São 20 árbitros investigados e há pessoas de fora da Paraíba. Eles foram intimados a depor. Acredito que semana que vem estaremos colhendo os depoimentos deles", completou.

O caso

Há seis meses a delegacia de Defraudações e Falsificações de João Pessoa investiga uma denúncia sobre supostas irregularidades no Campeonato Paraibano: um esquema de compra de árbitro e de manipulação de resultados.

No início da manhã do dia 9 de abril, um dia após o segundo jogo da final do Paraibano, vencido pelo Botafogo-PB, uma operação denominada "Cartola", cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da FPF, na casa do então presidente da FPF, Amadeu Rodrigues, e na casa de Rosilene Gomes, antecessora de Rodrigues no comando do futebol da Paraíba.

Na ocasião, documentos, súmulas de jogos e computadores foram apreendidos para investigação. Após alguns dias, áudios de Whatsapp e escutas telefônicas foram vazados.