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Com que idade as crianças devem acessar redes sociais? Especialistas respondem

30/04/18 - 13h55

Está nas regras do Facebook, Instagram, YouTube e outras redes sociais: só pode criar conta quem tem ao menos 13 anos de idade. Mas todo mundo sabe que, na prática, não é o que acontece.

Segundo pesquisa de 2017, 86% dos brasileiros de 9 a 17 anos que acessam a internet têm perfil em redes sociais. Entre 9 a 10 anos, o índice é de 62% e, de 11 a 12 anos, 76%. WhatsApp e Facebook são as redes mais acessadas nessa faixa etária, ainda de acordo com o estudo, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).

"Vemos as crianças entrando nas redes sociais cada vez mais cedo e usando por cada vez mais tempo", diz o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor de educação da associação Safernet. "A internet é a maior praça pública do planeta. Você tem que se perguntar: meu filho já tem maturidade para ter autonomia plena nesse lugar público?", questiona.

Autora do livro recém-lançado "Como Criar Filhos na Era Digital" (ed. Fontanar, 220 pág.), a psicóloga britânica Elizabeth Kilbey diz que atende cada vez mais pais preocupados com o excesso de uso dos filhos. "Vejo crianças com ansiedade e tristeza porque acreditam que não são tão populares e bonitas quanto seus amigos nas redes sociais."

Para a filósofa e escritora Tânia Zagury, os pais dessa geração, que convivem com a tecnologia há bastante tempo, acham que não há problema em deixar o filho entrar nas redes sociais precocemente.

"As crianças só têm acesso porque os pais possibilitam. Eles tendem a achar que seu filho é mais maduro do que realmente é", diz ela, que lançou em 2017 o livro "Os novos perigos que rondam nossos filhos" (Rocco, 192 págs.).

Segundo os especialistas, a solução não é proibir ou demonizar as redes. É orientar as crianças para que saibam navegar de forma saudável e segura nesse ambiente. E, uma vez que elas tiverem um perfil, monitorar seu uso.

"Supervisionamos nossos filhos muito mais no mundo real do que no virtual", diz Kilbey. "A maioria dos pais nem sonharia em dar um pote de biscoito ao filho todos os dias, tampouco deixar que comessem todos os biscoitos que quisessem. Mas muitos pais não pensam duas vezes em dar aos filhos acesso irrestrito a um aparelho digital."

A recomendação é estabelecer um diálogo transparente com as crianças. "Não é diferente da orientação que se dava antes da internet, de não conversar com estranhos, não divulgar seu endereço", diz Maluh Duprat, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP. "A internet é o mundo deles, não adianta querer que fiquem fora."

Veja a seguir orientações dos especialistas.

Com que idade devo deixar meu filho entrar nas redes?

Os especialistas não recomendam desrespeitar a norma das próprias redes sociais –quase sempre, a idade mínima é 13 anos. Antes disso a criança pode não ter maturidade para navegar ali.

Mesmo quando ela chegar à idade permitida, vale analisar cada caso. "Posso ver que meu filho de 13 ou 15 anos é imaturo e achar que não vai fazer bem a ele", diz Nejm.

Deixar a criança mentir a idade para criar um perfil é, para Zagury, uma "lição de falta de ética". "Quem age assim ensina aos filhos que, sob certas circunstâncias, é válido fraudar regras", afirma.

A criança não vai se sentir excluída se não entrar em uma rede social?

O argumento "todos meus amigos têm" pode ser desconstruído facilmente, afirma Rodrigo Nejm. "Os pais devem explicar que cada família é diferente e que na casa deles, por acharem que aquilo é o melhor, a regra é essa."

"A pressão social sempre vai existir. Cabe ao adulto ser adulto e decidir o que é melhor para os filhos", diz Zagury.

Devo ter a senha das contas do meu filho?

Se os pais acham que o filho tem maturidade para criar um perfil, não deveria ser necessário compartilhar a senha. O importante é acompanhar o que eles postam e, de vez em quando, entrar no perfil junto com eles, e não escondido. "Se você acha que seu filho não deve ter privacidade naquele ambiente, ele não deveria ter rede social ainda", diz Nejm.

Pais que optam por deixar crianças mais novas usarem as redes podem criar a conta junto com os filhos e avisar que também têm a senha. Mesmo assim, o melhor é acessar o perfil só com o filho ao lado.

Qual é o risco de as crianças entrarem cedo demais nas redes sociais?

Além de serem mais vulneráveis a desconhecidos que cometem crimes pela internet, elas ficam expostas ao bullying com alcance ampliado, sem maturidade para lidar com os riscos, e podem divulgar informações privadas.

Dicas para pais sobre o uso nas redes sociais

1 - Quando der um celular para a criança, deixe claro que ela não pode usá-lo como quiser. Desde o começo, estabeleça regras e monitore o uso

2 - Cheque junto com seu filho a regras com as quais ambos concordem. Se ele se sentir envolvido no processo, aumenta a chance de que cumpra o combinado

3 - Defina filtros para que ele não consiga acessar conteúdo inapropriado e ajuste a privacidade das contas dele para deixá-las restritas a amigos

4 - O conselho "não falar com estranhos" vale para o mundo virtual também. Oriente-o a avisar caso um desconhecido puxe conversa

5 - A criança deve entender que a internet é um arquivo permanente: uma vez que algo é publicado, é impossível voltar atrás. Ensine-a a refletir antes de postar ou mandar mensagens

6 - Explique que há pessoas que vivem da própria imagem e que fotos de influenciadores muitas vezes são retocadas. Comparações injustas podem levar a transtornos alimentares

7 - Preferencialmente, crianças devem usar os aparelhos em áreas comuns da casa. Evite que elas durmam com o celular no quarto – o que ainda atrapalha o sono

8 - Cuidado com sinais de vício. Procure ajuda se seu filho estiver obcecado pelas redes sociais e não tiver outros interesses

9 - Dê o exemplo. Se você vive conectado e posta selfies o tempo todo, a criança vai querer fazer o mesmo