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Serviços de streaming enfrentam pressão por uso compartilhado

12/07/17 - 17h36
Scott Eells/Bloomberg

Mais de um quinto dos jovens adultos nos Estados Unidos que usam serviços de streaming para assistir a programas como “Game of Thrones” ou “Stranger Things” tomam emprestado senhas de pessoas que não vivem com eles, de acordo com uma pesquisa da Reuters/Ipsos.

A pesquisa sugere que as empresas de mídia estão perdendo receita significativa em meio a uma explosão das audiências digitais.

Vinte e um por cento dos espectadores entre 18 e 24 anos de idade dizem ter acessado em algum momento pelo menos um serviço de streaming de vídeo digital, como Netflix, HBO Now ou Hulu, usando credenciais de alguém de fora de sua casa. No geral, 12 por cento dos adultos disseram que fizeram o mesmo.

A receita com assinatura provavelmente ficará sob holofotes a partir da próxima semana, quando os grupos do setor começarem a divulgar resultados trimestrais. A Netflix, o serviço de transmissão dominante, divulga seus resultados na segunda-feira.

Até agora, a Netflix e outras redes de streaming tem aceitado o compartilhamento de senhas, mas podem enfrentar a pressão de investidores para mudar de curso se o número de novas assinaturas diminuir substancialmente, disseram analistas de Wall Street.

A taxa de crescimento da receita da Netflix deverá cair de 31 por cento no segundo trimestre deste ano para 19 por cento no segundo trimestre do próximo ano, de acordo com pesquisa da Thomson Reuters I/B/E/S.

“Se a Netflix passar de uma história de crescimento de receita de 30 por cento para uma história de 10 por cento, o foco ficará sobre o dinheiro deixado na mesa”, disse Justin Patterson, analista da Raymond James.

Representantes da Netflix não comentaram o assunto.

Os entrevistados da pesquisa da Reuters/Ipsos disseram que usam senhas emprestadas para economizarem em assinaturas de vídeo, que podem ser baratas isoladamente, mas que se forem somadas a vários outros serviços online pesam no orçamento.

Donielle Bradshaw, uma babá em Smyrna, na Geórgia, disse que usa a senha de sua irmã de 28 anos para Hulu e a senha de seu irmão de 32 anos para o Netflix.

“Sinto que somos família, está tudo bem”, disse Bradshaw, de 22 anos, que estima que assiste a quatro horas de programação nos dias úteis e 10 horas por dia nos finais de semana.

Se as empresas reprimirem o compartilhamento de senha, Bradshaw disse que está disposta a pagar sua própria assinatura Netflix, mas não tem certeza sobre o Hulu, que é detido por várias empresas de mídia.

“Eu vejo muitos programas no Netflix. Eu não acho que eu poderia ficar sem ele”, disse ela.

As empresas dizem que aceitam algum compartilhamento como forma de promover sua programação para potenciais clientes, mas também tomam medidas para reduzir o uso flagrante dos serviços sem pagamento.

Muitas redes limitam o número de pessoas que podem assistir à programação ao mesmo tempo. A Netflix, por exemplo, permite de dois a quatro transmissões simultâneas por assinatura, dependendo do plano, e cobra mais pelo maior número de transmissões.

A HBO, uma unidade da Time Warner, encoraja os espectadores mais jovens a usarem seus serviços HBO Now e HBO Go gratuitamente, oferecendo-os a cerca de 100 faculdades e universidades dos EUA.

“Para nós, é mais importante que naquela idade em que ainda não sejam financeiramente independentes, eles se habituem a usar o produto para finalmente aspirarem a se tornarem clientes pagos”, disse Bernadette Aulestia, vice-presidente executiva de distribuição global, em uma entrevista.

Os executivos da Netflix também disseram que sabem que alguns espectadores compartilham senhas.

“Nós poderíamos reprimir isso, mas você não transformaria todas essas pessoas em usuários pagos”, disse David Wells, diretor financeiro da Netflix, em uma conferência Goldman Sachs em setembro passado.

Analistas do setor dizem que as empresas estão perdendo a chance de aumentar receita. Uma análise de Parks Associates estima que os provedores de streaming perderão 550 milhões de dólares em 2019 por conta da prática de compartilhamento de senhas.

As empresas poderiam reprimir a prática se quisessem. A Cisco Systems, por exemplo, vende produtos que podem detectar atividades anormais em uma conta, como horário ou local incomuns, disse Conrad Clemson, vice-presidente sênior da Cisco e gerente-geral de plataformas e aplicativos de provedores de serviços.

A pesquisa da Reuters/Ipsos foi conduzida online nos Estados Unidos entre 8 e 26 de junho. O levantamento recolheu respostas de 4.453 adultos. A pesquisa tem um intervalo de credibilidade, uma medida de precisão, de 2 pontos percentuais.