Meio Ambiente

Após tratamento, peixe-boi é reintroduzido à natureza em Porto de Pedras

29/03/17 - 15h49
Edson Moura / TV Pajuçara

Nesta quarta-feira (29) foi realizada mais uma soltura de peixe-boi marinho, da espécie Trichechus manatus, em Porto de Pedras. A equipe do programa Pajuçara Auto, da TV Pajuçara, percorreu toda a faixa da APA Costa dos Corais de carro e irá mostrar matérias especiais nos próximos programas.

Com apoio da Fundação Toyota do Brasil, da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a ação do Programa Peixe-boi/CEPENE (Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste) faz parte da estratégia de reintroduzir peixes-boi como forma de reconectar duas populações do animal existentes no litoral brasileiro que hoje estão isoladas: a do litoral do Amapá, e a da Costa dos Corais.

Este trabalho proporciona o fluxo gênico da espécie, ou seja, a sua união, reduzindo assim as suas chances de extinção. A soltura é a segunda em 2017 e este é o 46° peixe-boi marinho devolvido à natureza no Brasil desde 1994. A APA Costa dos Corais é o único sítio de soltura atualmente em operação no país.

(Crédito: Edson Moura / TV Pajuçara)

O peixe-boi solto nesta tarde se chama Diogo, um macho de aproximadamente seis anos, que encalhou na praia Diogo Lopes, no Rio Grande do Norte e foi resgatado pela equipe do Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB), da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Após reabilitação, Diogo foi transferido para a base do ICMBio em Porto de Pedras (AL). Até os quatro anos de idade o animal aceitava apenas a mamadeira como alimento e, após um período de treinamento pela equipe de veterinários e tratadores, passou a aceitar os demais alimentos ofertados. Atualmente está clinicamente apto para ser devolvido à natureza.

“O peixe-boi será monitorado por meio de microchips e transmissores por satélite para que a equipe possa acompanhar a adaptação de Diogo à natureza, e interferir, caso o animal esteja com algum problema”, explica Fernanda Attademo, veterinária do Programa Peixe-boi. De acordo com a especialista, o acompanhamento permite gerar dados que auxiliarão os pesquisadores a definir áreas importantes para a conservação da espécie.

(Crédito: Edson Moura / TV Pajuçara)

Com Diogo, desde 1994, 46 peixes-boi foram resgatados de encalhes e devolvidos à natureza pela iniciativa. A ação contribuiu para que a espécie deixasse de constar na categoria “Criticamente em Perigo”, sendo listada na categoria “Em Perigo” da Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção em 2014. Atualmente, especialistas contabilizam até 1000 peixes-boi entre Alagoas e o Amapá. Antes eram apenas 500 estimados. Historicamente, distribuídos ao longo do litoral do Espirito Santo até o Amapá, a população do peixe-boi foi diminuindo principalmente devido à caça. Sua baixa taxa reprodutiva também dificulta o repovoamento.

“Hoje a ameaça não é muito mais a caça, mas a perda do habitat, especialmente os manguezais que estão sendo depredados para criação de camarões em cativeiro. Como todo mamífero, a gestação do peixe-boi é demorada. São em média 13 meses de gestação e mais dois anos amamentando. Eles só atingem a maturidade sexual aos seis anos e podem viver até 60”, esclarece Iran Normande, chefe da APA e responsável pelo Programa Peixe-boi na Unidade de Conservação.  

Com o apoio da Fundação Toyota do Brasil, entre 2015 e 2016, mais seis peixes-boi foram reintroduzidos em seu habitat natural depois de passarem por adaptação na área de aclimatação localizada no Rio Tatuamunha, em Alagoas. Recentemente, um novo recinto no estuário também foi construído, dessa vez, para abrigar os indivíduos inaptos à soltura e que poderão servir de sensibilização aos turistas. É importante ressaltar que todos os animais são colocados em ambiente natural para que possam se acostumar com o seu habitat antes da soltura. Porém, alguns animais, após algumas tentativas de reintrodução, rejeitam o convívio em ambiente aberto, apresentando perda de peso, ferimentos e se tornando presas fáceis. Por isso, alguns retornam para os recintos.

“Esse resultados nos deixam muito felizes e animados em trabalhar com organizações sérias e comprometidas. A Fundação Toyota vai continuar apostando em ações e parceiros, realizando práticas verdadeiramente sustentáveis com foco na formação de cidadãos e na preservação do meio ambiente”, afirma Percival Maiante, presidente da Fundação Toyota do Brasil.

(Crédito: Edson Moura / TV Pajuçara)

A recuperação

O nascimento do filhote de peixe-boi marinho no Rio Tatuamunha, em Alagoas, anunciado pelo Programa Peixe-boi do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2016, foi o primeiro filhote nascido no estuário desde o início das atividades, em 1994. O Bacuri, como foi apelidado, é filho de Aira, fêmea reintroduzida em 2009, pelo programa.

“O Programa Peixe-Boi existe em Alagoas desde 1992. A primeira soltura aconteceu em 2008. Esses nascimentos são indicativos de que estamos no caminho certo para o repovoamento da espécie nessa região. Estamos muito felizes e otimistas”, comemora Iran.

Especialistas procuram alternativas para conservação da espécie

Paripueira e Barra de Santo Antônio, no litoral norte de Maceió, em Alagoas, foram regiões escolhidas por especialistas do Programa Peixe-boi para a expedição de campo para captura, marcação com GPS e coleta de material biológico de peixes-boi da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais. Realizada em novembro com o apoio da Fundação Toyota do Brasil, o objetivo da expedição é entender como a espécie nativa utiliza o ambiente na região e também para avaliar a saúde da população de um dos mamíferos mais ameaçados em extinção.

De acordo com Iran Normande, a ação foi um sucesso de modo que a equipe conseguiu capturar o dobro de indivíduos que havia sido planejado. “Por se tratar de extensa área, a nossa expectativa era de conseguir marcar apenas três animais. Mas como selecionamos uma das regiões mais povoadas pela espécie, conseguimos capturar seis indivíduos”, explica.

Dos seis animais capturados, dois eram reintroduzidos e quatro nativos, sendo que dois eram filhotes das fêmeas reintroduzidas. Todos passaram por coleta de material biológico para avaliação clinica e genética, além de serem marcados com equipamento de radiotelemetria. Os animais nativos também receberam nomes para identificação (Rômulo, Iemanjá, Paripueira e Brito). Apesar dos esforços, apenas quatro animais continuam com o equipamento de telemetria, mas todos continuam marcados com microchips, o que garante o monitoramento de longo prazo. Eles estão sendo monitorados para que os pesquisadores possam entender quais as áreas mais importantes para os animais e sugerir medidas de conservação para reduzir as ameaças sobre a espécie.

Uma nova expedição deve ocorrer neste ano no mesmo período para que os profissionais continuem as pesquisas.

(Crédito: Edson Moura / TV Pajuçara)

Curiosidades do peixe-boi marinho

1.  São mamíferos herbívoros, alimentando-se de 8% a 13% de seu peso de plantas como o capim-agulha e folhas de mangue;

2.  Podem atingir 600 quilos e medir até quatro metros;

3.  A população diminuiu drasticamente principalmente devido a caça;

4.  A reprodução da espécie gira em torno de 12 a 14 meses, levando dois anos para se reproduzir novamente;

5.  O animal pode ficar até cinco minutos em baixo da água sem respirar. Se estiver em repouso, o animal pode permanecer até 20 minutos submerso.

A espécie que gera renda

No município alagoano de Porto de Pedras (AL), a formação de cidadãos, geração de renda e o turismo também provam que podem ser aliados na conservação do peixe-boi marinho. A Associação Peixe-boi, que realiza o turismo de base comunitária na cidade, capacita moradores e ex-pescadores para trabalhar no projeto. Hoje, cerca de 70 famílias vivem em razão da espécie. A entidade recebe até 70 visitantes todos os dias para os passeios em jangadas ao longo do Rio Tatuamunha para verem os animais soltos.

“O turismo de observação do peixe-boi-marinho é um dos maiores geradores de renda no município. Muitas pessoas atuam no turismo de observação enquanto outras conseguem obter renda indiretamente, com o artesanato, por exemplo”, afirma Flavia Rego, presidente da Associação Peixe-boi.