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"Netflix do petróleo" gera disputa trilionária por informações

19/03/18 - 21h12
Reprodução

As empresas de serviços que mapeiam bolsões subterrâneos de petróleo, perfuram poços e bombeiam óleo bruto de quilômetros de profundidade estão gerando novas e enormes quantidades de dados cujo valor nunca havia sido notado. Mas suas clientes, as empresas de exploração, estão basicamente exigindo que não se toque em nada que sai dos poços, mesmo que seja um monte de zeros e uns.

“Não tenho dúvida de que estamos produzindo dois tipos de recursos: por um lado, petróleo e gás, por outro lado, dados”, disse Philippe Hervé, que trabalhou mais de duas décadas na Schlumberger e atualmente ajuda as petroleiras a usarem inteligência artificial para obter poços melhores. “No caso do petróleo e do gás está muito claro que pertencem ao operador. Mas quem é o dono dos dados?”

A resposta a essa pergunta exigirá muito dinheiro para uma indústria global que está deixando para trás o pior colapso do petróleo em uma geração. O setor, que usa apenas em torno de 1 por cento dos dados que gera, segundo a Baker Hughes, agora tenta aproveitá-los para ver onde bombear mais petróleo mais rapidamente por menos dinheiro. A transformação rumo aos campos de petróleo digitais pode adicionar quase US$ 1 trilhão à economia mundial até 2025, segundo estudo de 2015 da Oxford Economics e da Cisco Consulting Services.

Especificamente para as empresas de serviços, a posse dos dados -- suficientes para encher 20 milhões de armários de arquivos desde 2010 -- significaria um fluxo de receita completamente novo, talvez com a venda de assinaturas para enormes bibliotecas de dados.

“É como uma Netflix do setor de petróleo e gás”, disse John Gibson, assessor da Tudor Pickering Holt & Co., que antes dirigia o negócio de serviços de petróleo da Halliburton. “Imagine que todos esses dados são como um filme que muitas pessoas diferentes querem assistir, mas em momentos diferentes.”

Para as produtoras, contudo, a posse desses dados significa um cheque a menos a emitir. E garantiria que produtoras concorrentes não possam ver seus dados quando entrarem sigilosamente em um novo campo. A EOG Resources, considerada por um de seus analistas a Apple dos campos de petróleo, é considerada líder entre as empresas de exploração por ignorar as prestadoras de serviços a campos de petróleo e gerar suas próprias inovações internas.

“Os dados mandam e estão entre os nossos recursos mais valiosos”, disse Sandeep Bhakhri, diretor de informação e tecnologia da EOG, a investidores, em teleconferência no ano passado. “Temos que ser donos dos dados. Não podemos terceirizar a coleta, a análise ou a entrega deles.”

A formação de um negócio digital mais robusto também é importante para as grandes provedoras de serviços do mundo, como Schlumberger, Halliburton e Baker Hughes, que lideram a iniciativa, disse James West, analista da Evercore ISI. Apesar de o digital representar menos de 2 por cento da receita total das empresas de serviços, pode chegar a 4 por cento do lucro operacional delas, disse.

“É muito rentável”, disse West. “É preciso construir uma ponte entre ‘o que é meu e o que é seu’ porque faremos poços melhores com informações melhores.”