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O que se sabe sobre os atentados em Barcelona e Cambrils?

19/08/17 - 21h33
EPA

Como acontece sempre em atentados terroristas, as informações sobre os ataques desta quinta-feira (17) em Barcelona ainda são desencontradas, mas as autoridades já confirmaram alguns detalhes. Veja abaixo o que se sabe sobre o episódio:

Como ocorreu o ataque?

Às 17h locais (12h de Brasília), uma van branca saiu da Praça da Catalunha, um dos pontos mais movimentados da cidade, e invadiu as Ramblas, rua de 1,2 quilômetro que segue até a marina da capital catalã.

O local é formado por duas vias estreitas para carros nas laterais e um amplo calçadão no centro, com inúmeras bancas, quiosques comerciais e barraquinhas de souvenires. Situadas em pleno centro histórico, as Ramblas formam um dos pontos turísticos mais visitados de Barcelona e também contam com diversos restaurantes, lojas e mercados.

Fazendo "zigue-zague", a van percorreu cerca de 600 metros no calçadão de pedestres e atropelou dezenas de pessoas até se chocar contra um quiosque. O motorista então abriu a porta e saiu correndo, sem dar nenhum grito - em atentados de matiz jihadista, os terroristas costumam bradar "Allahu Akbar" ("Deus é grande" em árabe). Ele também não aparentava estar armado.

Na madrugada de sexta-feira, a dinâmica se repetiu, porém em Cambrils, 120 quilômetros a sudoeste de Barcelona. Por volta de 1h20, um carro com cinco homens atropelou seis pessoas na cidade – uma delas morreria pouco depois, em um hospital. Todos os terroristas foram abatidos pelas forças de segurança, quatro deles por um único agente.

Além disso, entre 18h30 e 19h, um carro atravessou um controle policial na Avenida Diagonal, que corta Barcelona, e foi perseguido até a cidade vizinha de Sant Just Desvern. O dono do veículo foi encontrado morto a facadas no assento do carona, mas o motorista escapou. Ainda não se sabe se esse episódio tem ligação com os atentados.

Quantas pessoas morreram?

O último dado oficial é de pelo menos 14 mortos, sendo 13 nas Ramblas e uma mulher que havia ficado ferida em Cambrils. Mais de 120 pessoas ficaram feridas, porém esse número não é exato, já que muitos indivíduos procuraram atendimento por conta própria.

Quem reivindicou?

O duplo ataque foi assumido pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), por meio de sua agência oficial de propaganda, a "Amaq". Segundo a milícia, os autores do atentado são "soldados do califado".

O uso de veículos pesados - como vans e caminhões - tem sido o método preferido de simpatizantes do EI para cometer atentados na Europa, como nos ataques de Nice, em julho de 2016, em Berlim, em dezembro do mesmo ano, e em Londres, em março e junho de 2017.

Quem cometeu os ataques?

A célula que atacou as cidades de Barcelona e Cambrils, na Catalunha, incluía pelo menos 12 pessoas. Além dos cinco terroristas mortos em Cambrils, quatro suspeitos estão presos, e outros três foram identificados, mas continuam com paradeiro desconhecido. Nenhum deles tinha antecedentes criminais ligados ao extremismo.

Também foram encontrados restos mortais de dois indivíduos na casa que explodira em Alcanar. Esses traços podem pertencer a dois dos três suspeitos que ainda não estão presos. 

No início desta sexta, os Mossos d"Esquadra, nome da força policial catalã, haviam divulgado as identidades de quatro foragidos: Moussa Oukabir, 17 anos, Mohamed Hychami, 24, Said Aallaa, 18, e Younes Abouyaaqoub, 22. Os três primeiros estão entre os cinco terroristas abatidos em Cambrils, enquanto o último continua em fuga.

A polícia ainda não conseguiu descobrir quem dirigia a van usada para atropelar centenas de pessoas nas Ramblas, no centro de Barcelona, mas ressaltou que “vem perdendo força” a hipótese de que o motorista fosse Moussa.

Também não está claro qual foi o papel de cada pessoa nos ataques, já que a polícia diz ter identificado os cinco terroristas de Cambrils e outros três, mas não divulgou os nomes de todos. Levando em conta que Abouyaaqoub continua foragido, é possível que os restos mortais encontrados em Alcanar sejam dos outros dois suspeitos identificados e com paradeiro desconhecido.

Por conta de uma limitação temporal, é improvável que o motorista do furgão das Ramblas seja um dos terroristas abatidos em Cambrils. Como a polícia também já descartou que um dos quatro homens presos estivesse ao volante do veículo, cresce a hipótese de que Abouyaaqoub tenha sido o autor material do atentado em Barcelona.

O que aconteceu em Cambrils?

Já na madrugada de sexta-feira (horário local), a polícia realizou uma operação em Cambrils, cerca de 110 quilômetros a sudoeste de Barcelona, e matou cinco suspeitos. Os homens estavam em um veículo que avançou contra civis e deixou seis feridos. Todos levavam supostos cinturões explosivos, mas as autoridades detectaram que eram falsos. 

Por que a Espanha?

Se confirmada a autoria do Estado Islâmico, a Espanha terá sido alvo de um atentado jihadista pela segunda vez. Na primeira, em 2004, pelas mãos da Al Qaeda, o país mantinha tropas no Iraque, e o ataque acabou levando à retirada dos militares espanhóis da nação árabe.

Atualmente, Madri participa da coalizão internacional que combate o EI no Oriente Médio. Ainda que sua participação seja apenas por meio de apoio logístico e de inteligência, a Espanha é um potencial alvo da milícia terrorista.

Além disso, parte da Península Ibérica, principalmente a região que hoje corresponde à Andaluzia, permaneceu sob domínio muçulmano por quase 800 anos, entre 711 e 1.492. Há cerca de duas semanas, simpatizantes do Estado Islâmico lançaram apelos nas redes sociais pedindo "ataques iminentes" na Espanha e a "reconquista de Al-Andalus", como era chamada a península até ser retomada pelos cristãos.

Esse período de aproximadamente oito séculos coincide com a Idade de Ouro Islâmica, por isso "Al-Andalus" é usada frequentemente nas mensagens de propaganda jihadista.

Histórico

O atentado das Ramblas é o pior em Barcelona desde junho de 1987, quando uma ação do grupo separatista basco ETA matou 21 pessoas em um supermercado, e o mais grave na Espanha desde março de 2004, quando uma célula da Al Qaeda fez 192 vítimas no sistema ferroviário de Madri.