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‘Tentava encher o estômago com água’, diz jovem tailandês resgatado

As crianças ficaram presas 17 dias em uma caverna inundada; após receberem alta do hospital, distribuíram sorrisos e agradecimentos

18/07/18 - 14h18
Vincent Thian/AP


Os doze meninos e o técnico de futebol resgatados de uma caverna na Tailândia deram sua primeira entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira 18, após deixarem o hospital. “Éramos como uma família dentro da caverna”, disse um dos garotos enquanto sorria. Todos usavam a camiseta do time Javalis Selvagens (“Mu Pa”, em tailandês), time de futebol do qual fazem parte.

Os jovens contam que foram obrigados a beber a água que escorria das rochas para se manter vivos. Eles se revezavam para comer o pouco que possuíam e não tinham como conseguir mais suprimentos dentro da gruta. “Tentava não pensar em comida, pois isso me deixava ainda mais faminto”, disse o mais jovem, de apenas 11 anos. Ele conta que se sentia constantemente fraco, como se fosse desmaiar, e tentava encher o estômago com água para ignorar a fome.

Os meninos, que têm entre 11 e 17 anos, e seu técnico, Ekapol Chantawong, de 25 anos, foram foco de uma operação internacional de resgate na semana passada depois de ficaram presos no complexo de cavernas de Tham Luang. Segundo comentaram na entrevista coletiva, todos concordaram em entrar na gruta para explorar o local e não conseguiram mais sair quando a água bloqueou a abertura para o exterior. Naquele dia, eles estavam em um treino de futebol perto da caverna e era aniversário de 17 anos de um dos integrantes do grupo.

Os primeiros saíram da gruta após quinze dias enclausurados e, os últimos, após dezessete dias. Durante mais de uma semana, eles tiveram de sobreviver sem luz, comida ou perspectiva de resgate, pois só foram encontrados por mergulhadores britânicos quando completaram o nono dia desaparecidos. Um dos meninos disse que, quando a primeira lanterna emergiu da água enlameada, parecia um milagre.

Os meninos estavam visivelmente saudáveis em sua primeira aparição pública. As primeiras imagens deles, feitas dentro da caverna, mostravam os jovens bem mais magros e fracos. Eles contam que, enquanto estavam presos no local, pensavam na bronca que iriam levar dos pais e em toda a preocupação que estavam causando a eles.

    Um deles disse que, no primeiro dia dentro da gruta, não sentiram muita diferença na condição física, apesar de estarem com fome e medo. Foi depois do segundo dia que eles começaram a ficar mais fatigados.

    Eles contaram também que, conforme a água avançava, tinham de andar cada vez mais para dentro do complexo, até encontrarem um local mais alto para se refugiar. Quando chegaram a uma parte sem saída, tentaram cavar as paredes da gruta com uma rocha para tentar sair de lá, mas não sabiam se encontrariam uma saída ou quão longe ela ficava do ponto em que estavam. Por isso, decidiram esperar por ajuda.

    Um dos jovens disse que o técnico era como um pai para os jovens, oferecendo tudo o que trazia consigo para manter os meninos aquecidos, além de mantê-los calmos com técnicas de meditação.

    Quando questionados sobre o que diriam aos seus pais, a maioria dos garotos respondeu com pedidos de desculpas. “Fui teimoso e me comportei mal. Não avisei que estaria na caverna, apenas disse que iria ao treino”, disse.

    Os meninos também ressaltaram que a experiência serviu como uma lição de vida. “Acredito que me deixou mais forte”, disse um. “Depois disso, vou tentar viver cada minuto da minha vida”, respondeu outro. Sobre o sonho de se tornar jogador de futebol, disseram que pretendem continuar tentando, e um deles respondeu, ainda, que deseja se tornar monge.

    A coletiva de imprensa foi monitorada por especialistas, que acompanharam cada pergunta e resposta no local. O departamento de relações públicas da província de Chiang Rai também solicitou as questões antecipadamente à imprensa para submetê-las a psiquiatras.

    Agora, as equipes de resgate dizem que vão focar em cuidar do psicológico dos jovens para que eles possam continuar com as suas vidas normais.