Polícia

Novo Cangaço usa carro blindado, explosivo e ameaça a polícia pelas redes sociais

26/05/16 - 13h01

A história do cangaço parece está sendo revivida no Nordeste na sua pior face: a da violência e da afronta às autoridades policiais.  

No Sertão nordestino, um grupo de assaltantes - parte seria de uma mesma família - que se autodenomina “Novo Cangaço”, tem "tocado o terror” assaltando bancos, fazendo reféns e ameaçando matar policiais da região.

Nesse versão moderna da “trupe” de Virgulino Ferreira, o bando usa veículos blindados, explosivos e armamento pesado, como metralhadoras e fuzis 762 e 556. O arsenal e parte dos integrantes da quadrilha foram apresentados pela Polícia Civil do Piauí no último dia 18, como acusados de um assalto a uma agência do Banco do Brasil de Curimatá, a 775 quilômetros da capital, Teresina. 

AMEAÇAS: “COMO A BALA ENTRA EM NÓS, ENTRA NELES TAMBÉM"

Pelas redes sociais, o bando mandou recados por meio de arquivos de áudio com graves ameaças de morte à  polícia local.

Nos áudios, que você ouve abaixo, os integrantes fazem várias ameaças: “Como a bala entra em nós, entra neles também. A juventude do "Novo Cangaço" vai voltar e vai cobrar. Nós vamos roubar esse banco e vamos fazer latrocínio. Agora, "o polícia" que estiver de plantão vai pagar por essa covardia [a morte de integrante]. Vamos matar qualquer PM na rua, não importa se trabalha no Corpo de Bombeiros”, diz um dos integrantes.

Leia a transcrição do aúdio:

"Vou deixar um recado para o ***, que assim como "nós" sai para trabalhar, ele também sai. Assim como "nós tem" filho, ele também tem. Como uma bala entra "em nós", entra nele também. Então vamos deixar o recado aí para o ***, CPAC [Companhia de Polícia de Ações em Caatinga], Polícia do Piauí, que nós vamos voltar. A juventude do Novo Cangaço vai voltar e vai cobrar, nós vamos roubar esse banco de novo, vamos roubar esse banco e vamos fazer latrocínio. Não vamos dizer se é hoje, se amanhã, daqui a um ano ou quando vai ser. Agora, "o polícia" que estiver de plantão vai pagar por essa covardia aí. Porque vocês são treinados é para prender, não é para matar, não. E nós somos é programados para matar, ***. Nós não temos medo desse negócio de "audiozinho" falando da mãe dos outros, não. ***, ninguém tem medo de conversa, não. Todo mundo sabe onde tu mora, tua hora vai chegar. *** Tua hora vai chegar. E vamos dar uma repostinha. Vamos matar qualquer PM na rua, para ele ver que o bagulho pode ter cobrança. Vamos matar qualquer um na rua. Não importa se trabalha no Corpo de Bombeiros, o que é que ele seja, vestiu farda, trabalhou para o governo, vai ter uma resposta do crime. Vamos "se" unir todo mundo. Mostrar que não é só a polícia que tem força, que sabe matar. E nós não somos covardes como vocês, não, ***, vamos botar "piquete" em vocês, vamos matar vocês vendo, para vocês se defenderem, para ver se brigam, para vocês verem quem é o verdadeiro cangaço, ***". 

SUPOSTA RESPOSTA DA POLÍCIA

Em um segundo áudio também divulgado nas redes sociais, supostamente a polícia aparece respondendo às ameaças que teriam sido feitas a um cabo, chamado de "Souza".

"Venha que a gente tá aguardando. Se vir pra cá vai tomar tiro de fuzil na cara. traga sua família toda, nós estamos esperando por vocês", ouça: 

O TRABALHO DA POLÍCIA

No Em texto divulgado pela Polícia do Piaúi, o  delegado Gustavo Jung, do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Greco) informou que a morte de policial é considerado um troféu para a quadrilha.  

"Esses armamentos vêm via mercado negro. Alguns são produtos de roubo, inclusive da polícia do Ceará. Essas armas entram no país de forma ilícita. Os fuzis tem grande poder de destruição. Um disparo de uma arma dessas é capaz de destruir tudo: parte óssea e muscular", explica o delegado Gustavo Jung, do Greco. 

De acordo com a polícia piauiense, pelo menos 14 homens estiveram envolvidos no roubo ao banco. Eles fizeram reféns no dia da ação - dois ficaram feridos - e continuam abordando famílias, pedindo comida e água. Seis suspeitos foram presos e cinco mortos durante cerco policial. A informação é de que parte dos suspeitos pertencem à mesma família e seriam primos e irmãos. O grupo explodiu a agência, mas levou apenas uma pequena quantia o dinheiro, porque a polícia chegou ao local. Três ainda continuam foragidos. 

"Na semana passada, esses três últimos que estão foragidos caminharam pela chapada e fizeram trabalhadores e o proprietário de uma fazenda réfens. Eles os amarraram, pegaram informações sobre a região, se abasteceram de água e comida e retornaram para a mata. Do jeito que eles fizeram nessa fazenda, podem estar fazendo em outras propriedades e as pessoas não falam com medo. Nessa fazenda, eles tiveram o cuidado de secar os pneus das duas motos que estavam na casa para dificultar qualquer tipo de locomoção", explica o tenente-coronel Josuer Saraiva, comandante do Grupamento Tático Aeropolicial da Policia Militar do Piauí.

Ele disse ainda que o trio planeja chegar à Bahia. Do último ponto em que eles foram vistos até o estado vizinho são cerca de 60 km, de acordo com o comandante do Gtap. "E já na Bahia, até à cidade onde eles querem alcançar são 190 km a pé", reitera. 

DESESPERO: EM VÍDEO, MÃE FAZ APELO PARA QUE FILHO SEJA PRESO

Em um vídeo que circula nas redes socais (assista abaixo), uma senhora, "Dona Aldenora", mãe de um dos bandidos que tocaram o terror na cidade de Curimatá, aparece pedindo para que o filho dela, Cícero Henrique, não seja morto em confronto com a polícia. Desesperada, ela cama pela prisão do filho. "Eu vou ajudar ele na prisão, ele vai pagar, mas eu só tenho um filho".

O “MODUS OPERANDI”

O "Novo Cangaço", como se autodenomina o bando, é um grupo especializado em roubo a bancos no interior dos estados do Nordeste. A ação é normalmente caracterizada pela investida do grupi contra o batalhão da PM ou a delegacia de polícia civil da cidade - assim como aconteceu em Curimatá. O grupo utiliza armamento pesado, como fuzis e metralhadoras, e costuma fazer reféns. 

"Nossa função é prender e cumprir a lei, mas infelizmente esse grupo montado por pessoas de Pernambuco, é bastante conhecido no tipo de modalidade novo cangaço, não tem a mentalidade de rendição. Eles têm a polícia como um troféu e  a partir do momento em que eles entram em confronto com a polícia, eles tentam a todo custo acertar os policiais e tem isto como um troféu no mundo do crime. Infelizmente, o bando tentou nos atingir e nós tivemos que revidar e neutralizar aquela ação", disse Gustavo Jung.

De acordo com delegado-geral, Riedel Batista, cerca de cem policiais do Piauí, Bahia e Pernambuco permanecem em diligência na região. Os presos não tiveram a identidade revelada e estão em Altos, Teresina e Bom Jesus.