Saúde

Fiocruz: há risco de zika ser transmitido por saliva e urina

05/02/16 - 14h13

O zika vírus já foi encontrado de forma ativa, ou seja, com potencial de infecção, na urina e na saliva. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (5) pelo presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Paulo Gadelha. Recentemente, cientistas americanos já haviam levantado a possibilidade de o zika vírus ser transmitido pela saliva. A evidência inédita foi constatada pelo Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do instituto.

Ainda não é possível informar se a transmissão da doença se dá por esses fluidos, mas a instituição recomenda que grávidas aumentem os cuidados. Devem evitar beijar pessoas com zika ou compartilhar objetos como talheres. Também não é recomendado que permaneçam em locais com grandes aglomerações.

Os estudos foram liderados pela pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório, em colaboração com a infectologista Patrícia Brasil, do instituto.

— Já se sabia que o vírus poderia estar presente tanto em urina quanto em saliva. Esta é a primeira vez em que demonstramos que o vírus está ativo, ou seja, com potencial de provocar a infecção, o que abre novos paradigmas para o entendimento das rotas de transmissão do vírus zika. Isso responde uma pergunta importante, porém, o entendimento da relevância epidemiológica destas potenciais vias de infecção demanda novos estudos.

Foram analisadas amostras referentes a dois pacientes e as coletas foram realizadas durante a apresentação de sintomas compatíveis com o vírus zika. As amostras foram colocadas em contato com células Vero, que são amplamente usadas em estudos sobre atividade viral no caso da família dos flavivírus, à qual pertencem os vírus zika, dengue e febre amarela, entre outros.

Os cientistas observaram o efeito citopático provocado nas células, ou seja, foi observada a destruição ou danificação das células, o que comprova a atividade viral, de acordo com a Fiocruz. A presença do material genético do vírus zika foi confirmada pela técnica de RT-PCR em Tempo Real. Também foi realizado o sequenciamento parcial do genoma do vírus. Diagnósticos laboratoriais descartaram a presença dos vírus dengue e chikungunya — para estas análises.

De acordo com Gadelha, a primeira medida é sempre a da cautela.

— O que sabemos hoje é que o vírus zika costuma apresentar quadro clínico brando, com maior preocupação em relação às gestantes por conta dos casos de microcefalia que têm sido acompanhados. Neste sentido, medidas de prevenção já conhecidas para outras doenças precisam de um olhar mais cauteloso a partir de agora, especialmente no caso do contato com as gestantes. Estamos empenhados em gerar evidências sobre o vírus zika e vamos compartilhar estas evidências conforme avançarmos no conhecimento sobre o tema.

Outras perguntas científicas permanecem em aberto, como o período de sobrevivência viral na saliva e urina, por exemplo. 

Vacina contra o zika

Na quarta-feira (4), o presidente disse que o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus zika pode levar cinco anos, prazo menor que a média para a descoberta de outros imunizantes. Segundo Gadelha, a decisão da OMS (Organização Mundial da Saúde) de declarar emergência internacional por causa da microcefalia associada ao vírus zika pode agilizar as pesquisas para o desenvolvimento da vacina.

“A OMS agiu corretamente ao tomar a decisão. É uma iniciativa que pode levar à descoberta da vacina de maneira muito mais rápida, pois a declaração vai facilitar a busca de parcerias em todo o mundo, reunindo esforços de entidades de pesquisas de todo o mundo”, disse Gadelha em entrevista após participar da solenidade que marcou o início das transmissões dos canais do Poder Executivo na TV digital aberta no Rio de Janeiro.