Saúde

Vacina da dengue eleva hospitalizações em áreas críticas, diz estudo

14/01/17 - 12h17

A vacina contra a dengue Dengvaxia pode aumentar o número de hospitalizações mesmo nas situações para as quais a imunização é indicada pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Essa é a conclusão de um estudo feito com previsões matemáticas e publicado no periódico científico PLOS.

A OMS recomenda o uso da Dengvaxia, única vacina para combate à dengue existente e licenciada em diversos países do mundo, apenas onde 50% ou mais da população já tenha sido infectada pela doença --sendo 70% ou mais a faixa ideal. A vacina, indicada apenas para quem tem entre 9 e 45 anos, possui eficácia global de 66%.

A restrição feita pela OMS deve-se ao fato de a vacina funcionar, de acordo com alguns estudos, como uma primeira infecção da doença. A segunda infecção pelo vírus tende a ser mais grave. Haveria por isso o risco de a vacinação de pessoas que nunca tiveram a doença levar a um aumento de hospitalizações entre quem contraísse a doença pela primeira vez, após a vacina. A Sanofi, proprietária da vacina, nega que a vacina aumente as hospitalizações e que aja como uma primeira infecção.

De acordo com a nova pesquisa, os resultados adversos, como aumento de hospitalizações, poderiam ocorrer mesmo onde 80% da população já tenha contraído a doença – ou seja, mais do que índice recomendado como seguro pela OMS. A conclusão é fruto de uma projeção matemática que traça cenários com as consequências da introdução da vacina em campanhas de vacinação. São utilizados dados de testes clínicos que foram realizados pelos fabricantes da Dengvaxia ao longo de cinco anos em países da Ásia. 

"Estimamos para a população entre 9 e 45 anos, a aplicação da vacina aleatoriamente, entre soropositivos [quem já teve a doença alguma vez] e soronegativos [quem nunca foi infectado], e acompanhamos as consequências pelo período de 5 anos. Observamos um aumento de casos graves entre 25% e 70%", explica Maíra Aguiar, biomatemática da Universidade de Lisboa e uma das autoras do estudo.

O aumento no número de hospitalizações seria uma consequência da vacinação de pessoas que nunca tinham tido a doença e depois pegaram dengue. Assim, para os pesquisadores, esse risco existiria em qualquer contexto, e não apenas naquele não recomendado pela OMS. "A Dengvaxia não é segura para pessoas que nunca tiveram dengue", diz a biomatemática.

Contudo, ao limitar as projeções apenas a pessoas que já tiveram dengue, os resultados do estudo são positivos. "Avaliamos o mesmo modelo, mas restringindo a vacina apenas a soropositivos. Nesse caso, observamos uma diminuição de casos graves entre 40% e 60% em 5 anos", diz Maíra. Por isso, os pesquisadores defendem que a aplicação da vacina seja restrita a pessoas que já tiveram dengue uma vez.

"Os nossos resultados confirmam que a melhor maneira de utilizar a vacina seria testando as pessoas e vacinando apenas aquelas que já foram infectadas", diz Aguiar. As conclusões corroboram indicações anteriores feitas no mesmo sentido. Estudos publicados no periódico científico Lancet e na revista Science apontam que a vacina leva a um aumento de casos graves e hospitalizações em quem nunca teve a doença, consequência que poderia ser evitada com testes para detectar se a pessoa já foi infectada antes de ser imunizada. 

De acordo com os pesquisadores do recente estudo, 11 países já licenciaram a Dengvaxia. Grandes programas de imunização foram iniciados nas Filipinas e Brasil, no Estado do Paraná. No caso brasileiro, a vacina é dada tanto para pessoas que já tiveram dengue como para as que nunca foram infectadas. 

Em setembro, reportagem do UOL mostrou que o Paraná não possui pesquisas que indiquem a porcentagem da população que já contraiu a doença.