A dura realidade das BETs: "Como sempre, a banca ganha."

Publicado em 09/07/2025, às 18h20

Redação

Jornalista Leonardo Sakamoto:

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"Considerando que o vício em apostas tem sido responsável pela erosão de famílias e até o suicídio de trabalhadores endividados, não espanta que os gastos com bets foram o motivo de 34% dos jovens adiarem a entrada na faculdade — dados da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior. Não espanta, mas reafirma que as bets se consolidam como um dos mais perversos mecanismos de transferência de renda de pobres para ricos.
 
O governo Lula pressiona o Congresso para aumentar a taxação contra a jogatina, que conta com lobby forte e amigos do peito entre os parlamentares. Mas isso não exime o Poder Executivo de responsabilidade pela situação calamitosa que vivemos hoje.
 
A regulamentação dessa atividade foi mamão com açúcar para as empresas, com gestores mostrando-se satisfeitos com os bilhões que entrariam de impostos. Ignoraram os alertas de que o cascalho arrecadado não iria fazer cócegas diante dos gastos com atendimento aos viciados no jogo. E o SUS já está sobrecarregado com gente que se lascou com apostas.
 
O ministro Fernando Haddad propôs aumentar a taxação sobre os ganhos das casas de apostas, provocando ranger de dentes e ameaças, para substituir o aumento do IOF. Sim, o pessoal que causa um prejuízo incalculável em termos de saúde pública ao Brasil e lucra explorando trabalhadores que fantasiam em resolver seus problemas com alguns cliques no celular deveria estar feliz de poder operar por aqui. Mas faz beicinho.
 
Mas Haddad está errado. Não deveria ter proposto o aumento do GGR (Gross Gaming Revenue), a diferença entre o que se paga de prêmio e o que se arrecada de aposta, de 12% para 18%. Deveria ter ido para 36%, 50%.
 
Seriam necessários muito mais recursos a fim de atender e tratar esses pacientes, além de investimento em campanhas de informação para evitar que famílias continuem sendo desestruturadas. Todos conhecem alguém que se lascou com bets mais do que conhecem alguém que está viciado em pedra ou pó.
 
Não há justificativa para um setor que movimenta bilhões não ser taxado de forma justa - a não ser a velha lógica de que, no Brasil, os ricos têm o direito de ficar mais ricos, enquanto os pobres pagam a conta.
 
As bets proliferam com anúncios agressivos, patrocínios milionários e a promessa de enriquecimento fácil. Não é difícil entender por que as bets se multiplicam como praga em solo brasileiro. O negócio é simples: oferecer ao trabalhador a ilusão de que pode transformar sua vida. O que não se diz é que a esmagadora maioria perde - e perde muito. Tudo isso alimenta um sistema que drena recursos de quem não tem para engordar quem já está nadando em dinheiro.
 
Enquanto isso, famílias são destruídas por dívidas acumuladas em apostas perdidas, histórias de violência doméstica ligadas ao vício em jogos se multiplicam e jovens são seduzidos por uma lógica perversa que substitui o trabalho pelo golpe de sorte. As bets não são apenas um entretenimento inofensivo - são uma máquina de moer gente, especialmente em um país onde a educação financeira é precária e a desigualdade, abissal.
 
O Estado brasileiro demora para proibir anúncios de bets e para aumentar os impostos contra elas, o jogo segue rolando. E, como sempre, a banca ganha."
 
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