A usina de energia limpa que o Brasil está descartando

Publicado em 16/08/2025, às 15h00

Flávio Gomes de Barros

Texto de Daniel Lima Costa, economista alagoano:

"Na era renovável, os formuladores de políticas deveriam entender que elétrons são como dinheiro: não basta produzi-los, é preciso armazená-los com inteligência e usá-los com propósito.

O Nordeste brasileiro é uma potência energética natural. Com sol intenso e ventos constantes, a região já produz grandes excedentes de energia solar e eólica. Mas essa energia limpa, abundante e disponível está sendo desperdiçada por falta de mecanismos que incentivem seu uso inteligente.

A combinação de solar e eólica no Nordeste cria uma janela de oportunidade única. Há momentos em que a região produz mais energia do que consome, e essa energia não pode ser armazenada ou transportada eficientemente para outras regiões. Resultado? Energia limpa sendo jogada fora. É como se estivéssemos jogando no lixo 20% da colheita regional de alimentos pronta para o consumo.

Enquanto não se tem capacidade de armazenamento e de escoamento, poderíamos transformar esse excedente em valor econômico real, sem custo adicional para o sistema, com a implantação de um sistema de alívio tarifário regional nos horários de excedentes de produção.

Imagine o impacto: Indústrias operando com energia barata - turnos produtivos concentrados nas horas de pico solar e eólico, com redução de custos e aumento da competitividade. Projetos estratégicos ganhando viabilidade - irrigação agrícola, produção de hidrogênio verde, refrigeração de alimentos e data centers — todos poderiam se beneficiar da energia abundante e barata. Desenvolvimento regional acelerado - com energia acessível, surgiriam novos negócios, empregos e cadeias produtivas em áreas historicamente menos favorecidas.

O Brasil já é líder em fontes renováveis. Mas liderança energética não se mede apenas em megawatts instalados, ela se mede em capacidade de armazenamento de energia, em inteligência de uso, eficiência econômica e impacto social.

Hoje, estamos desperdiçando energia solar e eólica que poderia estar irrigando lavouras, dessalinizando água, refrigerando alimentos ou produzindo hidrogênio verde. E tudo isso sem sobrecarregar o sistema, sem aumentar tarifas e sem depender de subsídios.

O modelo atual trata a energia como um recurso escasso em todos os momentos — mesmo quando ela é abundante e gratuita. Isso desestimula o consumo produtivo e impede que o excedente solar e eólico se transforme em riqueza regional.

É hora de repensar a lógica tarifária com base em sinais econômicos reais. Se a energia está sobrando, ela deve ser usada — e não jogada no lixo. Sol e vento não são apenas fenômenos naturais. São ativos estratégicos.

E o Nordeste está pronto para liderar — se deixarem."

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