Advogada é agredida em delegacia na Bahia: 'Se fosse homem, não agiriam assim'

Publicado em 07/02/2019, às 16h29
Reprodução/Acervo Pessoal -

Redação

Na noite de sábado (2), a advogada Thalita Coelho Duran, de 30 anos, foi chamada para acompanhar o flagrante de quatro rapazes detidos sob suspeita de tráfico de drogas, na 23ª Delegacia, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador (BA). O que ela não esperava, no entanto, era que ela mesma prestaria queixa contra o delegado Giovani Paranhos dos Santos e um dos policiais da unidade, identificado como soldado Luís Paulo.

LEIA TAMBÉM

Em entrevista à Universa, Thalita relatou que teria sido impedida de ler o depoimento dos rapazes antes que eles assinassem e, depois de insistir, teria sido agredida verbal e fisicamente pela dupla de plantão, que teria tomado seu celular, dado um empurrão e ameaçado prendê-la.

"Ele estava conduzindo o flagrante de forma arbitrária. Fiz meu papel de advogada e não permiti. A partir daí começaram os xingamentos. Decidi filmar, tomaram meu celular, me empurraram e começaram a insinuar que deveriam me prender", contou.

A advogada chegou à delegacia às 23h de sábado (2), acompanhada do noivo, que não é da área jurídica e permaneceu do lado de fora enquanto ela trabalhava.

Quando ouviu a gritaria, por volta das 2h, ele teria aparecido na porta do local para ver o que estava acontecendo -- foi quando a advogada teria decidido sair correndo. "Acabei não assinando nada. Decidi fugir dali porque, se ficasse mais, não sei o que teria acontecido", disse ela.

"Acho que, se eu fosse um homem, não teriam agido dessa forma, com tanta violência. Eles foram mais abusados porque eu sou mulher", acredita.

Thalita é advogada criminal há oito anos e garante que nunca viveu uma situação como essa. Normalmente, ela trabalha ao lado do sócio -- que não pôde acompanhar o flagrante no sábado porque estava em um compromisso familiar -- mas já havia feito o mesmo procedimento sozinha outras vezes.

"Ainda não voltei a uma delegacia depois do que aconteceu. Só vou saber [como vou reagir] nos próximos dias, mas por enquanto só volto a acompanhar flagrantes, principalmente à noite, acompanhada do meu sócio ou do meu noivo", disse.

Consequências

No domingo (3), Thalita reportou as agressões à OAB e ao Ministério Público da Bahia. "Eu só gostaria que se retratassem e não voltassem a tratar outra pessoa dessa forma", pede.

A OAB informou, em nota, que "casos como este não podem acontecer" e que está tomando as providências para que a dupla responda pelas agressões. Na terça-feira (5), a entidade promoveu uma audiência para discutir o caso. Estiveram presentes o comandante-geral da Polícia Miliar da Bahia, coronel Anselmo Brandão, o presidente seccional da OAB, Fabrício Castro, o tesoureiro da OAB-BA, Hermes Hilarião, o presidente da Caixa dos Advogados (CAAB), Luiz Coutinho, e o advogado Saulo Guimarães.

O caso está sendo apurado pela Corregedoria Geral da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Universa tentou ouvir o delegado Paranhos e o soldado Luis Paulo, mas foi informada pela assessoria de imprensa que os dois não devem se manifestar até o fim do processo. Caso as agressões sejam atestadas, os dois podem receber advertências formais ou até serem afastados dos cargos.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Segunda parcela do 13º salário deve ser paga até a próxima sexta-feira Aos 95 anos, morre Haroldo Costa, intelectual e jornalista Caseiro é preso suspeito de matar mulher a facadas em mansão no Morumbi 'Dormi na portaria do prédio', diz idosa há 4 dias sem luz no centro de SP