Alertas de desmatamento na amazônia caem 30% em fevereiro

Publicado em 09/03/2024, às 00h02
Freepik -

Jéssica Maes/Freepik

Os alertas de desmatamento na amazônia tiveram redução de 29,7% em fevereiro, na comparação com o mesmo período de 2023. No ano passado, 321,9 km² de floresta foram perdidos no mês, índice que caiu para 226,2 km² em 2024.

LEIA TAMBÉM

Mesmo com a queda, o índice é o segundo mais alto para o mês na série histórica do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 2016 no bioma.

No cerrado, houve crescimento de 18,5% no desmate em fevereiro, indo de 553,1 km² em 2023 a 655,5 km² em 2024. No entanto, a alta incidência de nuvens no bioma pode ter impactado a precisão dos dados.
Os números foram divulgados nesta sexta-feira (8).

Como a temporada de chuvas dificulta a derrubada da mata, o início do ano normalmente tem melhora nos números de desmatamento. Mas o tempo nublado também atrapalha a captura de imagens pelos satélites que alimentam o Deter.

Em fevereiro, a cobertura de nuvens registrada pelo Inpe no cerrado chegou a 77%, a maior já computada pelo sistema. Assim, é possível que áreas desmatadas que não tenham sido identificadas agora venham a ser contabilizadas nos próximos meses. Na amazônia, a taxa de nuvens ficou em 20%.

A porta-voz do Greenpeace Brasil, Ana Clis Ferreira, ressalta que, ainda que a redução no desmatamento na floresta amazônica seja positiva, não se devem ignorar os altos índices de queimadas registradas no bioma em fevereiro.
"Em geral, o fogo na região está diretamente ligado à atividade humana, como a renovação de pastagens e a limpeza de áreas recém-desmatadas", diz.

"Ainda que em boa parte do bioma brasileiro o período mais seco não tenha chegado, esse não é o caso em Roraima, o estado que registrou sozinho 2.057 ocorrências de focos de calor e 52 km² em alertas de desmatamento, um aumento de 51% em relação ao mesmo período do ano anterior."

Os incêndios florestais em Roraima fizeram as emissões de carbono vindas dessa fonte dispararem no Brasil em fevereiro, atingindo o maior índice ao menos desde 2003, segundo dados do observatório climático e atmosférico europeu Copernicus.

Nas últimas semanas, cidades de Roraima têm ficado encobertas por fumaça, incluindo a capital, Boa Vista. A Terra Indígena Yanomami também foi impactada.

"A falta de pessoal para combater os incêndios e a demora do governo do estado em suspender licenças de uso do fogo pioraram a situação, especialmente em um estado que está enfrentando seu período de estiagem, agravado pelo El Niño", afirma Ferreira.

Segundo o governo federal, cerca de 60% dos focos de incêndio registrados em Roraima neste ano estão em áreas privadas, onde o combate às chamas deve ser, preferencialmente, feito pelos órgãos estaduais.
Atualmente, 341 brigadistas e servidores do Ibama e do ICMBio atuam no estado, conforme o Ministério do Meio Ambiente.

O Deter mapeia e emite alertas de desmate com o objetivo de orientar ações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e outros órgãos de fiscalização. Os resultados representam um alerta precoce, mas não são o dado fechado do desmatamento.

Os números oficiais são de outro sistema do Inpe, o Prodes, mais preciso e divulgado anualmente.
Em novembro, os dados do Prodes mostraram que, de agosto de 2022 a julho de 2023, foram perdidos 9.001 km² de floresta amazônica, uma redução de 22,3% na comparação com o período anterior. No mesmo período, o cerrado perdeu 11.011,6 km² de vegetação nativa, representando uma alta de 3%.

No mês passado, os estados que registraram maior perda de vegetação nativa na amazônia, segundo sistema Deter, foram Mato Grosso (613,4 km²), Pará (386,2 km²) e Amazonas (201,8 km²).
No cerrado, o estado líder em desmate em fevereiro foi a Bahia, com 499,5 km², seguido por Tocantins (432,8 km²) e Maranhão (417 km²).

Desde o início do ano, servidores ambientais do governo federal estão paralisados, em uma reivindicação por reestruturação da carreira da categoria e melhoria nos salários e nas condições de trabalho.
Ainda não se sabe ao certo o impacto da paralisação sobre a política ambiental do governo federal, mas os servidores indicam redução no número de autuações e na emissão de licenças.

As negociações junto aos ministérios da Gestão e Inovação do Serviço Público (MGI) e do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA) seguem sem avanço aparente.

Na última terça-feira (5), foi realizada uma reunião extraordinária entre o MGI e a Ascema (Associação Nacional de Servidores Ambientais), mas, segundo a organização trabalhista, a reunião foi infrutífera e não foi apresentada uma nova contraproposta pelo ministério. Agora, a Ascema busca reunião com a chefe da pasta ambiental, Marina Silva.
Os servidores reclamam que, apesar de a preservação do meio ambiente estar no centro do discurso do presidente Lula (PT), a carreira não foi valorizada, mesmo após anos de sucateamento e ataques durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

MPF tenta suspender extração irregular de areia na Praia do Francês MPF recomenda suspensão de novas obras em área protegida da Laguna Mundaú Chauás: papagaios serão transferidos para reserva ambiental no Rio Niquim nesta segunda COP30 mobiliza 190 países em 120 planos de ação climática