Após ataque, manifestantes deixam a embaixada dos EUA em Bagdá

Publicado em 01/01/2020, às 19h05
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Folhapress

Apoiadores de grupos paramilitares iraquianos com suporte do Irã que atacaram a embaixada norte-americana e atiraram pedras durante dois dias de protestos se retiraram nesta quarta-feira (1º), após Washington deslocar tropas adicionais e ameaçar represálias contra Teerã.

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A escalada verbal entre o Irã e os Estados Unidos – países inimigos, mas com poderes de atuação no Iraque –, no entanto, prosseguiu: o presidente Donald Trump ameaçou fazer o Irã pagar um "alto preço" por ter "orquestrado" o ataque à embaixada, e os líderes iranianos alertaram que responderão a qualquer ameaça feita a seu país. 

Os manifestantes – irritados com ataques aéreos norte-americanos contra o grupo Kataib Hezbollah, apoiado por Teerã, que mataram ao menos 25 pessoas – atiraram pedras ao prédio, enquanto as forças dos EUA, posicionadas nos telhados, jogaram gás lacrimogêneo para dispersá-los.

Na tarde de hoje (horário local), a maioria obedeceu ao pedido de retirada emitido pelo Forças de Mobilização Popular, grupo majoritariamente de milícias xiitas, segundo o qual a mensagem dos manifestantes havia sido ouvida.

Jovens usaram galhos de palmeiras para varrer as ruas à frente da embaixada, enquanto outros guardavam equipamentos e vans chegaram para levar as pessoas embora. Alguns ficaram para formar um acampamento à frente de um hotel próximo.

O exército iraquiano disse que, à noite, todos os manifestantes já haviam ido embora.

Os protestos marcam um novo momento da guerra indireta entre Washington e Teerã no Oriente Médio.

O presidente norte-americano, Donald Trump ameaçou retaliação contra o Irã, mas disse posteriormente que não queria guerra.

Os protestos aconteceram depois de ataques aéreos norte-americanos contra bases do Kataib Hezbollah, em retaliação a ataques com mísseis que mataram um funcionário terceirizado dos EUA no norte do Iraque, na semana passada.

Ontem, a multidão que se concentrava ao redor da embaixada cantou "Morte à América!", ateou fogo e quebrou câmeras de vigilância, além de violarem o perímetro externo da embaixada, mas sem entrarem no complexo principal.

Autoridades dos EUA afirmaram que 750 tropas adicionais inicialmente ficariam baseadas no Kuwait e que até 4 mil tropas poderiam ser enviadas à região nos próximos dias.

Mais de 5 mil tropas norte-americanas estão no Iraque apoiando forças locais. Os ataques aéreos estimularam pedidos dentro do Iraque para expulsá-las.

Muitos na multidão no lado de fora da embaixada disseram que encerrar a presença de Washington no Iraque era o principal objetivo.

Maior embaixada dos EUA A enorme embaixada – construída às margens do rio Tigre na fortificada "zona verde" no centro de Bagdá durante a ocupação norte-americana depois da invasão de 2003 que derrubou Saddam Hussein – é a maior missão diplomática norte-americana no mundo.

Washington disse que seus diplomatas estavam seguros e que estava correndo para deslocar centenas de tropas adicionais à região.

A embaixada informou que todas as operações consulares foram suspensas e todos os compromissos futuros, cancelados.

A ação anti-EUA aconteceu após meses de protestos no Iraque contra o governo e as milícias sob influência iraniana. Muitos iraquianos reclamam que o seu país se tornou um campo de batalha para uma guerra indireta de influência entre Washington e Teerã e que seus líderes são muito dependentes de potências estrangeiras.

Há muito tempo o governo iraquiano passa por atritos na relação próxima com os dois inimigos. Trump conversou com o primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi, ontem, e exigiu que o Iraque protegesse a embaixada.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, condenou  os ataques dos EUA. O Irã convocou um enviado suíço, que representa os interesses dos EUA em Teerã, para reclamar sobre o que descreveu como palavras "bélicas" de Washington.

Inimizade histórica Apesar de décadas de inimizade entre Irã e Estados Unidos, milícias apoiadas pelo Irã e forças norte-americanas se viram do mesmo lado durante a guerra do Iraque entre 2014 e 2017 contra o Estado Islâmico, com as duas potências ajudando o governo a recuperar território dos militantes que chegaram a controlar um terço do Iraque.

Desde então, tropas dos EUA ainda não foram embora, e as milícias apoiadas pelo Irã foram incorporadas às forças de segurança.

O primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi –que anunciou planos de renunciar diante de protestos antigoverno nos quais mais de 450 pessoas morreram– é apoiado pelo Irã e por seus aliados.

"Nosso protesto é eterno, até que o covil do diabo seja fechado para sempre, mas não dê a ninguém a desculpa para tornar a sua manifestação violenta. Não brigue com a segurança", disse um líder dos protestos ao público em um palco levantado na embaixada antes da retirada.

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