Redação
Jornalista Josias de Souza:
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“Nada de mal acontece ao governo no Congresso que não seja esplêndido diante do que ainda está por acontecer. No momento, o presidente da Câmara, Arthur Lira, articula a primeira grande derrota legislativa de Lula.
Engatilhou a derrubada de um par de decretos editados pelo presidente para modificar o Marco do Saneamento Básico aprovado pelo Congresso e sancionado por Bolsonaro em 2020. O tiro seria disparado na última quarta-feira. Lira optou por conceder a Lula prazo de uma semana para recuar. O Planalto rediscute o tema. Mas ainda não esboçou a intenção de dar meia-volta.
“Eu sempre disse que o orçamento é muito mais democrático se decidido por 600 parlamentares do que por dez ministros”, afirmou Lira ao Globo.
“Me elegi sem RP-9 e tenho tido uma boa relação sem ela. Não interfere em nada na minha vida. Mas, na governabilidade, sim. Sabemos o que os partidos querem: favorecimento de obras e serviços públicos para aumentar o seu escopo político e atender as suas bases. O governo precisa se organizar, mais especificamente a Secretaria de Relações Institucionais.”
descentralizar mais, confiar mais. Se você centraliza, prende muito. Há dificuldade, talvez pelo tempo que o PT passou fora do poder.”
Juntando-se todas as frases de Lira, o que ele disse, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: 1) A aprovação da PEC da Transição, antes da posse, não avaliza a tese segundo a qual a governabilidade é fava contada. 2) O governo ainda não dispõe de votos para prevalecer no Congresso. 3) O velho toma lá de ministérios já não assegura o da cá no plenário da Câmara. 4) O viés conservador do Congresso anulou a pretensão de Lula de fazer o que lhe dá na telha, como em mandatos anteriores. 5) Sem a sua intermediação, a distribuição de emendas via ministérios tampouco
Lira enxerga na CPI do golpe como palco para uma ‘guerra de narrativas’. Apresenta-se como fiel da balança. Atribuiu a adversidade a erros do Planalto. Não parece eximir Lula de responsabilidade.
Para dar certo, o governo precisa aprovar as reformas que prometeu. Esperava-se que fosse ágil, para aproveitar o vigor pós-eleitoral. Mas Lula retardou os planos do seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Supondo-se que o calendário de Lira possa ser levado a sério, as reformas econômicas serão votadas no Senado no segundo semestre. Nesta semana, a diretoria do Banco Central deve manter a taxa de juros rodando na casa dos 13,75% ao ano. Em público, Lula desferirá novas joelhadas em Roberto Campos Neto, o chefe do BC. Em privado, continuará se queixando de que Lira e as forças do atraso prejudicam o governo no Congresso. Trancos e queixumes servem como desculpa. Mas não resolvem os problemas.
Se os sinais de prosperidade não forem emitidos até o Natal, o brasileiro reclamará de Lula e do governo, não dos presidentes da Câmara e do Banco Central. Nessa hora, Lula talvez perceba que a falta de prosperidade é irmã siamesa da impopularidade.
Lira já não dispõe do apoio dos 464 deputados que o reconduziram ao comando da Câmara. Alguns preferem negociar diretamente com o governo. Mas o imperador da Câmara estruturou um bloco partidário que soma 173 votos. No final do ano, os integrantes desse bloco e seus assemelhados continuarão sendo um problema para o governo, só que bem mais caro.”
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