Bordado de Capela veste João Gomes no Prêmio Multishow

Publicado em 14/12/2025, às 19h40
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Nide Lins

“Iapois, muié, tô chique de doer”. Foi com esse áudio, carregado de sotaque e afeto, que Lu, do ateliê Mimos de Dona Peró (@mimosdepero), na cidade de Capela (AL), recebeu a confirmação de que seu bordado havia chegado longe — exatamente no dia mais importante da carreira de João Gomes. O cantor foi o grande vencedor do Prêmio Multishow 2025, levando para casa os troféus de Artista do Ano, Álbum do Ano, Capa do Ano e Forró e Piseiro do Ano, vestindo um blazer que carrega linhas, memória e identidade nordestina.

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“Foram três dias para bordar o blazer mais importante da história da música brasileira. Meus dedos doeram, foi muita emoção… adoeci”, relembra Lu, ainda tomada pelo impacto do momento. Cada ponto era feito com o coração acelerado e a certeza de que aquele trabalho artesanal estaria diante de milhões de pessoas.

O sonho começou com uma mensagem enviada ao produtor do cantor, Bruno. Lu escreveu sobre o desejo de bordar uma peça para João Gomes — e o destino respondeu com um “sim”. Na gola do blazer, ganharam forma os nomes de João Gomes, Maestro Mestrinho e Jota.pê, além de igrejinhas que remetem à fé e à paisagem do interior. Na manga, a homenagem a Dominguinhos, costurando gerações da música nordestina em um único traje.

Agora, o próximo sonho de Lu — compartilhado por muitos alagoanos — é assistir ao show do pernambucano em Maceió, de perto, levando no peito o orgulho de quem bordou história.

Quem é Lu, de Mimos de Dona Peró

Desde 2008, linhas e agulhas contam histórias e preservam a memória cultural de Alagoas pelas mãos de Luciana, a Lu. Em seus bordados surgem o folguedo alagoano, a festa de São Sebastião, os cortadores de cana-de-açúcar, as lavadeiras do rio. “Também criamos a coleção Há Lagoas, com ícones do Jaraguá, Pontal da Barra, Museu Pierre Chalita, pescadores…”, conta.  Lu é uma das bordadeiras que dão vida ao Mimos de Dona Peró .

O nome Mimos de Dona Peró é uma homenagem carregada de afeto. Dona Peró, ou Perolina, nasceu em Capela e fundou, em 1963, uma escolinha de artes que formou gerações. Professora exímia de bordado à mão e pintura em tecido, ela desenhava riscos tão perfeitos que já pareciam bordados prontos.

O destino tratou de unir as histórias dessas duas capelenses. Aos 13 anos, Luciana foi aluna de Dona Peró. “Aprendi rápido a pintura em tecido, mas sempre fui inquieta. Queria ir além. Comprei uma revistinha, estudei sozinha e fui me aprofundando”, relembra.

Hoje, cada peça criada pela equipe do Mimos de Dona Peró carrega não apenas técnica, mas herança, resistência e amor — prova de que o bordado alagoano também desfila nos grandes palcos do Brasil, costurando emoção, identidade e pertencimento.

 

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