Brasil é despejado de consórcio internacional de astronomia

Publicado em 12/03/2018, às 16h36

Redação


LEIA TAMBÉM

O Observatório Europeu do Sul (ESO), maior consórcio de pesquisa astronômica do mundo, finalmente se cansou de esperar pelo Brasil. Sete anos depois de assinar um acordo para admitir o país como primeiro integrante não-europeu do grupo, o Conselho do ESO decidiu rescindir o contrato com o governo brasileiro — que, nesse meio tempo, nunca fez qualquer pagamento nem chegou a ratificar em definitivo o acordo.

“Considerando ser improvável que a ratificação do Acordo de Acesso seja concluída num futuro próximo, o Conselho do ESO decidiu suspender o processo até que o Brasil esteja numa posição de completar a execução do Acordo, possivelmente por meio de uma renegociação”, diz uma “nota de esclarecimento” divulgada pelo ESO hoje. “Com apoio unânime de todos os Estados Membros, o ESO continuará aberto a acolher o Brasil a qualquer momento. Os arranjos vigentes, porém, estarão suspensos a partir de 1 de abril de 2018.”

A entrada do Brasil para o ESO foi negociada no fim de 2010 pelo então ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e seria uma forma de garantir o acesso da comunidade científica brasileira a alguns dos maiores e melhores telescópios do mundo, que são operados pelo consórcio europeu nos Andes Chilenos — como o ALMA e o Observatório Paranal. O acordo também previa a participação do Brasil na construção e operação do Extremely Large Telescope (ELT), o maior telescópio do mundo, que está sendo construído agora no Deserto do Atacama.

O valor do acordo era de EU$ 270 milhões (cerca de R$ 1 bilhão), que o Brasil deveria pagar em várias parcelas até 2021. Nenhum centavo jamais foi pago, apesar de o ESO, numa demonstração de boa-fé, ter tratado o Brasil já como uma espécie de membro interino do grupo durante esse período. Mesmo sem a ratificação definitiva do acordo, os projetos de astrônomos brasileiros eram avaliados pelo grupo — para fins de obtenção de tempo de observação nos telescópios — como se o Brasil fosse um estado membro do consórcio, o que oferecia uma série de vantagens competitivas. Agora, com a rescisão do contrato, os cientistas brasileiros que quiserem usar os observatórios do ESO terão de concorrer por tempo como representantes de um país não membro, o que implica numa disponibilidade tempo muito menor e critérios mais rígidos de seleção.

“A gente perde muita coisa. O acesso aos telescópios fica bem mais complicado, o que é lamentável”, disse ao Estado o astrônomo Gustavo Rojas, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e representante de Divulgação Científica do ESO no Brasil. Segundo ele, a exclusão vai dificultar o avanço da astronomia brasileira. “O Brasil nunca vai conseguir construir uma infraestrutura de pesquisa desse porte sozinho; ao a gente se junta a esses grandes consórcios internacionais ou vamos ficar para trás.”




Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Pedreira da Ilha de Páscoa dá pistas de estátuas enigmáticas dos polinésios Novo estudo sugere que neandertais canibalizavam mulheres e crianças forasteiras Cientistas alertam para poderes de 'armas-cerebrais' que podem controlar memória, percepção e comportamento Estudo investiga o potencial de microdoses de cannabis no tratamento de Alzheimer em idosos