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“O público é avido por tragédia desde a Grécia”, diz o perito Ricardo Molina em determinado momento de “Isabella: o caso Nardoni”, documentário que estreia na quinta-feira (17) na Netflix. Em parte, isto explica por que, em 2008, o Brasil ficou vidrado na história da menina de 5 anos jogada da janela do apartamento do pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá, em São Paulo. Mas a frase de Molina também pode sugerir, nas entrelinhas, por que, 15 anos depois, com Alexandre e Anna condenados pelo crime — ela cumprindo pena em regime aberto desde junho; ele, no semiaberto, desde 2019 —, a plataforma de streaming convoca espectadores a reviverem a história.
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Dirigido por Claudio Manoel e Micael Langer, o filme de uma hora e 44 minutos se apoia principalmente em depoimentos exclusivos da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, e da avó materna, Rosa Oliveira, que permitiram o acesso da produção a fotos e outros objetos pessoais. Somando a presença destes personagens-chave (os Nardoni e os Jatobá não quiseram falar com a produção) ao distanciamento histórico, a dupla, que também assina o roteiro, sentiu que dava para retomar o assunto. O lançamento, que coincide com o 15º aniversário de morte da menina, foi por acaso, eles frisam.
— Todo mundo lembra, mas a grande maioria das pessoas esquece de muitos detalhes. Faltava compilar tudo com que nós, como sociedade, fomos alimentados de uma maneira totalmente caótica — diz Micael Langer, que reconstruiu, com a equipe de cenografia, o apartamento dos Nardoni. — E temos como diferencial a participação da família Oliveira. Eles nunca se colocaram dessa forma em outro projeto. Foi fundamental tê-los. Eles viraram o coração do filme.
A produção afirma ter feito mais de 118 horas de entrevistas com outros nomes importantes do caso, a quem Micael chama de “os cérebros”. O promotor Francisco Cembranelli, que ia a todos os programas de TV na época, não podia faltar. O estrelado advogado Roberto Podval, que assumiu a defesa do casal no meio do caso, também. Personagens de um mundo nunca antes habitado pela dupla de diretores, cujos projetos mais famosos sempre estiveram circunscritos a personalidades artísticas. São deles os documentários “Simonal: ninguém sabe o duro que dei” (2009) e “Chacrinha: eu vim para confundir, e não para explicar” (2021) e a série documental do Globoplay “Meu amigo Bussunda”, também de 2021.
— O primeiro atrativo para entrar no projeto foi esse: ser algo que nunca fizemos — diz Claudio Manoel, ex-integrante do “Casseta & Planeta” como ator e redator. — Até os tipos de pessoas com quem lidamos eram inéditos para nós: delegados, peritos, promotores... Mas o que junta tudo é experiência humana.
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