Catalães fazem greve para pressionar Madri

Publicado em 03/10/2017, às 08h54

Redação

Dois dias depois do plebiscito favorável à independência da Catalunha e da repressão policial do governo da Espanha, milhares de catalães são esperados nesta terça-feira, 3, em Barcelona para uma nova demonstração de força contra Madri. Uma greve geral deve paralisar a cidade e interromper as redes de transporte, instituições de ensino e o funcionalismo, para pressionar o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, a abrir negociações com vistas à secessão do país.

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O movimento de greve foi convocado pelos maiores sindicatos da Catalunha e por partidos políticos que compõem o governo local. A perspectiva é de grande mobilização, em resposta às cenas de violência do domingo, quando agentes das tropas de choque da Guarda Civil e da Polícia Nacional, enviados por Madri, tentaram fechar escolas e apreender urnas, cédulas e sistemas informáticos que seriam usados para o plebiscito.

Mesmo com a repressão ordenada por Rajoy e amparada pelo Tribunal Constitucional, mais de 2,2 milhões de catalães teriam votado na consulta popular, considerada ilegal pela Justiça. O “sim” à independência venceu com 2 milhões de votos, ou 90% do total, com uma participação da ordem de 42% do eleitorado.

Ontem, ao longo de todo o dia entidades de trabalhadores e instituições públicas, como a Universidade da Catalunha, museus e fundações anunciaram um a um a adesão à greve geral. Em paralelo, ao longo de todo o dia houve manifestações em Barcelona e em cidades do interior da região, como Girona.

Em todas, as multidões reunidas entoaram gritos de “Nós votamos!”, que ao mesmo tempo desafia o governo de Madri, contrário à votação, e lembra do expressivo resultado em favor da independência. Um primeiro movimento teve início nos jardins da Universidade de Barcelona, no centro da capital, de onde os manifestantes partiram para a Praça da Catalunha e a seguir para a Praça Sant Jaume, para uma concentração em frente ao Parlamento regional.

Os manifestantes demonstravam descontentamento com a ação da polícia e com o discurso político de Mariano Rajoy, que atribuiu a responsabilidade da violência aos organizadores do plebiscito, afirmando que a intervenção das forças de ordem foi “ firme e serena”.  “Eu votei pelo sim, porque a Catalunha é o meu país e vamos continuar buscando esse ideal”, afirmou o aposentado Xavier Benderem.

Negociações

Em meio às manifestações, Puigdemont, o presidente regional da Catalunha, pediu ontem a intermediação da União Europeia para negociar com a Espanha os próximos passos do processo de secessão, que deseja levar a cabo. A perspectiva é de que a declaração independência unilateral aconteça entre a quinta e a sexta-feira, após a proclamação dos resultados oficiais do plebiscito. Mas há divergências internas no movimento, como a prefeita de Barcelona, Ada Colau, que definiu a declaração como “um erro estratégico”.

O processo político, no entanto, está longe do fim. Depois da eventual declaração, os indepedentistas teriam de dar início a uma Assembleia Constituinte para liquidar o direito espanhol. Ontem, ministros do governo de Rajoy vieram a público reiterar que a independência está fora de cogitação. “Se alguém pretende declarar independência de uma parte do território em relação à Espanha, será necessário fazer tudo o que a lei permite”, afirmou o ministro da Justiça, Rafael Catalá.

Ontem, Rajoy reuniu-se com líderes políticos de oposição, como o secretário-geral do Partido Socialista (PSOE), Pedro Sanchez, e com o presidente do Ciudadanos, Albert Rivera, dois partidos que garantem ao primeiro-ministro a permanência no cargo mesmo com uma minoria frágil no Parlamento. Uma eventual proposta de voto de desconfiança de qualquer um desses partidos derrubará o governo a qualquer momento. Sanchez, que defende a adoção do federalismo na Espanha, exortou o premiê a abrir negociações imediatamente.

Canal

A batalha entre Madri e Barcelona sobre a independência da Catalunha vem sendo também uma batalha de informação – e a maior prejudicada vem sendo a opinião pública da Espanha.  

A crítica intensa à atuação dos veículos de imprensa no domingo gerou um debate sobre o papel da Televisión Española (TVE), serviço público de informação teoricamente independente. Ao longo de todo o domingo, o canal tomou partido da ofensiva da polícia na Catalunha. Os próprios jornalistas do grupo criticaram a o canal. A maior queixa diz respeito à atuação da RTVE, o canal de notícias 24 horas do grupo, que privilegiou a versão do governo e não abriu espaço para os catalães.

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