Com o fracasso de sua ofensiva diplomática, UE tenta salvar acordo com o Irã

Publicado em 08/05/2018, às 17h04

Redação

À espera de que Donald Trump anunciasse a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, potências europeias articularam nas últimas semanas uma extensa ofensiva diplomática para convencê-lo a mudar de ideia ou ao menos mitigar o dano previsto.

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Seus esforços foram frustrados. O anúncio finalmente veio nesta terça-feira (8), quando o presidente americano discursou em Washington oficializando a desistência do tratado. Governos europeus agora se mobilizam para encontrar maneiras de manter o pacto vivo. Mesmo na ausência dos Estados Unidos, se for preciso.

Minutos após o discurso de Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que "o regime de não-proliferação nuclear está em jogo". "Nós lamentamos a decisão americana de deixar o acordo."
Em seguida, Macron divulgou um comunicado conjunto com a chanceler alemã, Angela Merkel, e a primeira-ministra britânica, Theresa May. Os três líderes afirmaram que planejam manter o acordo.

"Nossos governos seguem comprometidos em garantir que o pacto seja preservado, e trabalharemos com as partes restantes para assegurar ao povo iraniano a continuidade dos benefícios relacionados ao acordo", disseram.

"Encorajamos o Irã a mostrar comedimento em sua resposta à decisão americana. O Irã tem de continuar a cumprir com suas obrigações dentro do acordo. Em troca, deve continuar a receber o alívio das sanções."
Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que "as políticas de Trump vão ser recebidas por uma abordagem unificada europeia". Esse assunto será discutido durante a semana que vem em Sofia, a capital da Bulgária, segundo o anúncio feito por Tusk.

Uma das estratégias em discussão é garantir que os três países mais influentes da União Europeia -​França, Reino Unido e Alemanha- mantenham a sua parte no acordo iraniano. Ou seja, que as empresas europeias que começaram a fazer negócios em Teerã sigam com suas atividades.

Isso pode ser dificultado, porém, pela ameaça de que as sanções econômicas americanas afetem também os países que negociem com o Irã. O mecanismo é conhecido como "sanções secundárias".

No ano passado, o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, havia afirmado que o país poderia manter a sua parte no acordo desde que a Europa cumprisse com a sua. "A resistência contra os EUA nos mostrará se o tratado nuclear pode ser levado adiante ou não", disse.

Dentro dessa estratégia, a Europa terá também de recrutar Rússia e China para se manterem no pacto, enquanto convence o governo e o público do Irã das vantagens de não retomar seu programa nuclear, mesmo com a saída americana.

É uma missão difícil. O acordo nuclear não representou vantagens econômicas imediatas para a população iraniana, por isso, a pressão contra o tratado tem crescido no país. Sem empresas europeias negociando, fica ainda mais difícil argumentar.

Outros países impactados por esse cenário, como o Japão e a Índia, podem ser fundamentais no processo de salvar o pacto. Com esse tipo de dinâmica, o resultado é o possível isolamento de Trump, em um mundo que negocia coletivamente para se ajustar às decisões do presidente.

O acordo nuclear em questão foi estabelecido em 2015 por Barack Obama, antecessor de Trump, com o objetivo de frear o programa nuclear iraniano. Como contrapartida, as sanções econômicas impostas ao regime de Hassan Rouhani deveriam ser canceladas. A avaliação feita pelas principais potências europeias, como a França e o Reino Unido, é de que o texto teve até agora sucesso em interromper a ambição nuclear iraniana, avaliação da qual Trump discorda.

Desde sua eleição em 2016, o presidente americano ameaçava romper o tratado, que ele chegou a descrever com o "o pior acordo já negociado". Ele afirma, por exemplo, que o texto não abrange o programa de mísseis balísticos iranianos nem lida com o papel fundamental de Teerã nas guerras de países da região, como Síria e Iêmen.

Por isso, europeus tentaram convencer os EUA de que, caso mantivessem o acordo, poderiam rever suas cláusulas e, assim, incluir as exigências americanas no texto. O presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a repetir isso após o discurso de Trump. O problema dessa solução -que afinal não convenceu o americano- era que o Irã dificilmente aceitaria a revisão de seu pacto sem exigir a inclusão de novas condições.

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