Redação
Continuidade de texto da BBC Brasil/Yahoo Notícias sobre a absurda desigualdade econômica e social no país que sedia a Copa do Mundo deste ano:
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“Segundo a ONG Human Rights Watch, ‘os trabalhadores migrantes — e seus dependentes — ainda devem contar com seus empregadores para facilitar a entrada, residência e emprego no país, o que significa que os empregadores são responsáveis por solicitar, renovar e cancelar suas autorizações de residência e trabalho’.
‘Os trabalhadores podem ficar sem documentos sem que tenham culpa por isso quando os empregadores falham em realizar tais processos, e são eles, não seus empregadores, que sofrem as consequências’, disse a HRW em relatório publicado em 2020.
‘O Catar continua a impor penalidades severas por ‘fuga’ — quando um trabalhador migrante deixa seu empregador sem permissão ou permanece no país além do período de carência permitido depois que sua permissão de residência expira ou é revogada. As penalidades incluem multas, detenção, deportação e proibição de reentrada’, acrescentou.
No ano passado, a HRW apontou que os trabalhadores estrangeiros ainda sofrem com ‘deduções salariais punitivas e ilegais’ e enfrentam ‘meses de salários não pagos por longas horas de trabalho extenuante’.
E, segundo a ONG Anistia Internacional, as empresas ainda pressionam os trabalhadores para impedi-los de trocar de empregador.
Um porta-voz do governo do Catar disse à BBC que as reformas implementadas pelo país estão melhorando as condições de trabalho da maioria dos trabalhadores estrangeiros.
‘Foi feito um progresso significativo para garantir que as reformas sejam efetivamente aplicadas’, disse o porta-voz.
‘O número de empresas que quebram as regras continuará diminuindo à medida que as medidas de fiscalização forem implementadas’, acrescentou ele.
Copa do Mundo
Para a Copa do Mundo, o Catar construiu sete estádios, além de um novo aeroporto, sistema de metrô, uma série de estradas e cerca de 100 novos hotéis.
Uma cidade inteira foi construída em torno do estádio que sediará a partida final.
O governo do Catar diz que 30 mil trabalhadores estrangeiros foram contratados apenas para construir os estádios. A maioria vem de Bangladesh, Índia, Nepal e Filipinas.
Segundo o jornal britânico The Guardian, 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que o país foi escolhido para sediar o Mundial.
Esse número é baseado em dados fornecidos pelas embaixadas dos países no Catar.
No entanto, o governo catariano disse que essa cifra é enganosa, porque nem todas as mortes registradas eram de pessoas que trabalhavam em projetos relacionados à Copa do Mundo.
E acrescentou que muitos dos que morreram trabalharam no Catar por vários anos e podem ter morrido de velhice ou outras causas naturais.
O governo catariano informou que seus registros de acidentes mostraram que, entre 2014 e 2020, houve 37 mortes de trabalhadores nas obras de construção de estádios da Copa do Mundo, apenas três das quais foram “relacionadas ao trabalho”.
No entanto, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) diz que esse número é subestimado. O Catar não contabiliza as mortes por ataques cardíacos e insuficiência respiratória como relacionadas ao trabalho — embora esses sejam sintomas comuns de insolação, causados por trabalhos pesados em temperaturas muito altas.
A organização compilou seus próprios números para incidentes relacionados à Copa do Mundo, coletados de hospitais públicos e serviços de ambulância no Catar.
Segundo a OIT, 50 trabalhadores estrangeiros morreram e mais de 500 ficaram gravemente feridos apenas em 2021, enquanto outros 37.600 sofreram ferimentos leves a moderados.
O serviço árabe da BBC também reuniu evidências apontando que o governo do Catar subestimou as mortes entre trabalhadores estrangeiros.”
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