Como funciona esquema internacional de drogas em portos do Rio

Publicado em 30/11/2024, às 20h35
Receita Federal apreendeu 1,039 tonelada de cocaína no Porto de Itaguaí - Divulgação/Receita Federal

Extra Online

Na última sexta-feira, a Receita Federal apreendeu 1,039 tonelada de cocaína no Porto de Itaguaí, na Baía de Sepetiba, o equivalente a 75% das apreensões de cocaína em quase todo o ano de 2023 nos portos do estado. O entorpecente tinha como destino a Serra Leoa, na África Ocidental, e estava em meio a uma carga de argamassa para assentamento de azulejo. Só no ano passado, quatro operações deflagradas entre janeiro e outubro, apreenderam mais de 1,5 tonelada da droga dentro de fardos de café, latas de tinta, carga de minério e contêineres.

LEIA TAMBÉM

Uma investigação da Polícia Federal e da Receita Federal mostrou que a maior facção do Rio e outro grupo criminoso de São Paulo vêm usando o Porto de Itaguaí, na Baía de Sepetiba, para enviar drogas trazidas, principalmente, do Peru e da Bolívia para a Europa, África e até Oceania. O esquema teria a participação de empresários que, em galpões perto do cais, escondem a droga junto a produtos em contêineres que serão exportados. Antes, a carga ilícita passa um tempo em favelas do Rio, cidade considerada entreposto do tráfico internacional.

No fim do ano passado, agentes federais prenderam um suspeito de integrar a organização criminosa e cumpriram 25 mandados de busca e apreensão um dia depois de a Polícia Militar apreender 900 quilos de maconha na Nova Holanda, no Complexo da Maré, que estariam na rota para exportação. A carga foi avaliada em R$ 21 milhões. A investigação desse esquema começou com a Operação Nephelos, realizada em abril de 2021, em Itaguaí — muito antes da implementação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que tem como alvo impedir a passagem de armas e drogas por portos e aeroportos do Rio e de São Paulo.

Cocaína em toras

Em 2021, agentes da Receita Federal encontraram 342 quilos de cocaína escondidos em toras de madeira dentro de um contêiner. Foi a primeira apreensão de droga no porto, aberto em 1982, o que chamou a atenção da Polícia Federal. O cais já era alvo de investigações, segundo fontes da Receita, por ser utilizado como base para a prática de contrabando de produtos piratas. Antes, o tráfico usava mais o Porto do Rio para escoar a droga.

— Eles começam a fazer remessa da droga por um ponto e, quando percebem que a Receita está fazendo apreensões, mudam a rota. Foi o que aconteceu nos portos. Os navios em si não são objetos de fiscalização da Receita, então a gente tem que ter uma investigação prévia para localizar esses produtos — explicou Ewerson Augusto, auditor fiscal da Receita Federal.

As toras recheadas de cocaína iam para a Espanha e depois para a Eslovênia, pelo Mar Adriático. Essa rota vem sendo usada pela facção do Rio, mas é alvo de cobiça dos bandidos paulistas, que têm como alternativa ficar com os pontos no norte da Europa. Os empresários que integram o esquema também já tentaram enviar drogas em cargas de mangas, latas de tinta, minério, fardos de café e até aves congeladas.

Em quase três anos, de 2021 até outubro de 2023, foram 2,5 toneladas de cocaína encontradas pelo setor de inteligência da Divisão de Vigilância e Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita Federal nos portos do Rio e de Itaguaí. Só de janeiro a outubro, quatro operações descobriram uma tonelada de cocaína em Itaguaí, um aumento de 279% em relação a todo o ano passado. Nesse período, as ações não localizaram contrabando de armamento em Itaguaí. No entanto, no Porto do Rio, foram apreendidas 1.330 armas.

Para estancar esse comércio ilegal, o presidente Lula autorizou no início deste mês uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) apenas em portos, aeroportos e nas baías de Guanabara e Sepetiba. Além dos militares, PF, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras estão atuando para impedir a entrada de armas e drogas no Rio e em São Paulo. A decisão do presidente foi tomada após a execução de três médicos por milicianos na Barra da Tijuca e o ataque a 35 ônibus, incendiados em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

TSE encerra teste público de segurança das urnas eletrônicas Grávida de gêmeos viraliza após mostrar técnica inusitada para evitar parto prematuro; veja O que os brasileiros mais procuraram em 2025? Google divulga ranking com surpresas Ícone nacional vai ganhar um parque temático no Brasil; veja detalhes