TNH1 com TV Pajuçara
O Conselho Regional de Odontologia em Alagoas afastou por 30 dias a dentista que teria aplicado silicone industrial durante procedimentos estéticos ilegais em clientes, em Arapiraca, no Agreste de Alagoas. Segundo o Conselho, quatro vítimas estão internadas no Hospital Regional de Arapiraca. O quadro clínico delas ainda não foi divulgado.
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Em entrevista ao Fique Alerta, da TV Pajuçara/Record, Carlos Macedo, presidente do CRO-AL, afirmou que tomou conhecimento do caso após uma denúncia anônima ser feita no site do Conselho.
"Recebemos essa denúncia na sexta-feira, meio-dia. De imediato, pela gravidade, liderei a equipe de fiscalização para constatar o fato. Infelizmente, era real, porque a denúncia chegou de forma anônima. No hospital, encontramos duas pacientes. Foi feito o relatório. A fiscalização chegou em Maceió à noite. Marquei uma plenária, pois vi a gravidade. Porque poderia ir a uma pena maior antes que corresse o processo ético, que é muito parecido com o criminal, tem as formalidades até chegar na parte final".
"Com essa plenária, de imediato foi determinada a suspensão cautelar, que é exatamente o afastamento dela como cirurgiã-dentista na realização de qualquer procedimento na área de odontologia, durante 30 dias, em todo o território nacional. Tanto no serviço público como no serviço privado", comunicou Macedo.
A Polícia Civil de Alagoas instaurou um inquérito para investigar as denúncias. De acordo com a polícia, algumas vítimas procuraram a delegacia para registrar boletins de ocorrência.
"Algumas vítimas precisaram de intervenção cirúrgica para a retirada dessa substância, que causou necrose em partes do corpo. As investigações continuam para identificar a responsabilização dessa profissional. Ela pode responder pelo exercício ilegal da medicina e também por lesão corporal, de natureza gravíssima, por causa das lesões gravíssimas causadas nessas vítimas", explicou o delegado Edberg Oliveira, que está à frente das investigações.
Ainda de acordo com o presidente do CRO-AL, nem todos os procedimentos na face podem ser feitos por esse tipo de profissional.
"No procedimento de harmonização orofacial, o nome já está dizendo: é na face, a área de atuação é na face. Mas não quer dizer que todos os procedimentos estão liberados. Existe uma resolução (230) que proíbe blefaropastia (pálpebra), a rinoplastia (nariz), a otoplastia (orelha). Todos os procedimentos cirúrgicos atualmente ainda estão bloqueados pela harmonização orofacial, com exceção da bola de Bichat (região da bochecha). Pigmentação, tatuagem, nada disso pode ser realizado, mesmo que seja na face, não pode ser realizado pelo cirurgião-dentista".
Saiba mais sobre a Resolução CFO 230/2020.
Prática é considerada criminosa
A aplicação ilegal do silicone industrial no corpo humano é considerada crime contra a saúde pública previsto no Código Penal – exercício ilegal da medicina, curandeirismo e lesão corporal.
O silicone dito industrial, que tem aspecto oleoso, se injetado no organismo pode gerar diversas anomalias, seja na hora da aplicação ou com o passar dos anos, como deformações, dores, dificuldades para caminhar, infecção generalizada, embolia pulmonar e, até mesmo, a morte.
"Tanto que tem mais 10 a 12 pacientes que provavelmente não sentiram o mesmo sintoma inicial, mas a tendência é que o organismo não aceite aquele corpo estranho, porque não são medicamentos absorvíveis, é um tipo de produto permanente. Então, o organismo vai rejeitar isso", comentou Carlos Macedo.
A denúncia citada pelo CRO-AL apontava que as aplicações eram feitas pela dentista na residência das vítimas, com instrumentos improvisados e sem condições sanitárias adequadas.
O TNH1 não conseguiu contato com a defesa da dentista e com as vítimas citadas na matéria. O espaço segue aberto.
Como denunciar?
Carlos Macedo detalhou que é preciso acessar o site do Conselho Regional de Odontologia em Alagoas e formalizar a denúncia no link: (www.croal.org.br).
"É a primeira (denúncia). Infelizmente, a gente só toma conhecimento quando chega alguma denúncia através do portal de denúncias, que pode ser feito com identificação ou anônima. Essa, inclusive, chegou de forma anônima. Como temos obrigação de averiguar, foi quando detectamos. Pode ser até que tenha outros casos dessa mesma profissional em outros municípios, mas até agora não tomamos nenhum conhecimento".
"Peço para a comunidade que, se tiver, nos comunique, pelo menos no formato anônimo. Os servidores do CRO estão orientados sobre as denúncias no portal. Hoje, a denúncia não pode ser verbalizada no Conselho, ela tem que entrar no portal da denúncia, porque é monitorado tanto pela justiça como CFO (Conselho Federal de Odontologia) e o CRO. Se eu não tomar as medidas necessárias, vou responder por prevaricação".
Macedo disse que tomou conhecimento que a profissional denunciada também atendia no serviço público em outros municípios. "Não posso citar, porque tudo que corre dentro do Conselho é de forma sigilosa".
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