Ele mora na rua, mas oferece um "lar" para quase 20 cães

Publicado em 16/11/2015, às 09h43
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Redação

Morador de rua supera o abandono e improvisa lar para cães em Maceió (Crédito: Jonnathan Firmino)

Na solidão que é a vida de um morador de rua, Gilberto da Cunha Alves é um exemplo de superação. Ele foi abandonado pela família há cerca de quinze anos quando perdeu sua mãe.

Naquele período, sem lar, o senhor se instalou em uma calçada e conviveu com o silêncio até decidir procurar por companhias que, assim como ele, estavam abandonadas.

Como resultado, Gilberto não conseguiu apenas um parceiro, mas sim, onze grandes amigos (o que até o fim da reportagem, aumentou para dezessete). Esses amigos eram cães e, desde o primeiro abraço, nunca mais se separaram. Hoje, todos dividem o desconfortável e frio aconchego de uma calçada, a alimentação e, sobretudo, o tempo.

Parece uma introdução de um conto. Mas o que poderia ser pura fantasia, Seu Gilberto, como é conhecido, mostrou ser uma dura realidade que depende de muita luta para se conviver. 

Desde que se acomodou em frente a um galpão na Avenida Durval de Góes Monteiro, parte alta de Maceió, ele tem utilizado do ambiente inclusive para conseguir alguns trocados, com que garante a alimentação dele e de toda a carinhosa matilha.

Todos os dias, o senhor enfrenta a avenida e em meio a movimentação do trânsito, pede ajuda e, às vezes, até improvisa um malabarismo na tentativa de sensibilizar os condutores que trafegam no trecho. 

“Ás vezes é difícil conseguir algo. Em alguns dias, foi mais fácil conseguir para os cães do que para mim”, afirma Gilberto que, em seguida, ressaltou solidariedade de algumas pessoas que o ajudam com frequência, as quais ele chama de “patrão”. O representante comercial Fabrício Furtunato é um deles. Confira na reportagem abaixo a entrevista que ele concedeu, além de um pouco mais da emocionante história de seu Gilberto e os onze cães adotados:

SOLIDARIEDADE PERIGOSA

Para a coordenadora do programa de adoção e entomologia do Centro de Controle de Zoonoses de Maceió (CCZ), Lidyane Lima, Seu Gilberto, por meio da atitude, demonstra o desejo de mudar o futuro dos animais abandonados e chama a atenção da população com uma história comovente. “Temos aí uma pessoa de um coração imenso”, afirma.

Porém Lidyane explica que, mesmo tendo a melhor das intenções, o acúmulo de animais pode gerar graves riscos tanto para a saúde dos bichos, como para quem convive com eles. “Sobretudo, é preciso ver a importância do quesito saúde pública”, destaca.

ZOONOSES

Entre os problemas citados pela profissional que o acúmulo de animais abandonados pode ocasionar estão as zoonoses, doenças provocadas por parasitas hospedados em animais ou por microrganismos, como vírus, bactérias e fungos, sendo a raiva uma das mais conhecidas, presente na saliva do animal infectado, e que pode atingir o sistema nervoso central.

A coordenadora explica que, para evitar esses tipos de doenças, é necessário um acompanhamento periódico dos animais, que inclui a vacinação necessária. “É muito importante que qualquer pessoa que se torne responsável pela posse de um animal esteja ciente das necessidades físicas e acompanhamento médico veterinário”, acrescenta.

Número de cães e gatos abandonados no Brasil chega a 30 milhões 

O número de cães adotados por Seu Gilberto demonstra o tamanho dessa população que vaga pelas ruas em busca de um lar. Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) referente a 2014 divulgou que somente no Brasil são 30 milhões de animais abandonados, dos quais 20 milhões são cachorros e 10 milhões são gatos.

Se comparado esse número com a estimativa de habitantes do Brasil, divulgada este ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a quantidade de cães e gatos é o dobro de pessoas que moram nos estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, que no total se aproximam dos 15 milhões.

Em Maceió, o CCZ não conseguiu estimar a quantidade e disse desconhecer um órgão no estado que conceda tal levantamento. No entanto, destacou que abandonar animal doméstico ou exótico é crime previsto no artigo 32 da Lei Federal 9.605/98, que trata dos crimes ambientais.


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