Empresário alagoano revela que perdeu mais de R$ 2 milhões com o vício nas bets

Publicado em 12/06/2025, às 17h58
Empresário alagoano revela que perdeu mais de R$ 2 milhões com o vício nas bets - Reprodução / TV Pajuçara

TNH1 com TV Pajuçara

O programa Fique Alerta exibiu, nesta quinta-feira, 12, uma reportagem especial (assista no fim da matéria) sobre as consequências do vício em jogos de apostas online. Um empresário alagoano revelou que perdeu mais de R$ 2 milhões com o vício nas bets. Tudo começou há três anos.

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"O jogo dá a capacidade de você ganhar. Nisso, com R$ 100, a gente conseguia ganhar mais R$ 100. Depois perdia e colocava mais", disse o homem que não foi identificado na matéria especial.

"Botava R$ 100 e ganhava mais R$ 100. Depois botava R$ 1.000. Quando começou na brincadeira, a gente começava a jogar mais à noite. Aí depois a situação foi virando mais séria, se tornando aquele vício, aí já não tinha mais horário para jogar", continuou.

A reportagem especial foi conduzida pela jornalista Maria Maciel (Foto: Reprodução / TV Pajuçara)

 

A situação saiu do controle e, de 100 reais, as apostas aumentaram de volume e começaram a custar os bens da família, como imóvel e carros.

"Um simples valor de R$ 50, R$ 100, onde tudo começou, já estava em mais de R$ 300 mil juntando o valor do carro, mais R$ 100 mil da reserva financeira que eu tinha. Então, já ia ali totalizando R$ 300 mil. E o psicológico cada vez mais abalado".

A planilha feita pelo empresário mostra os inúmeros depósitos realizados. A compulsão em jogar era tão grande que, em um dia, em menos de uma hora, ele perdeu mais de R$ 40 mil. Em apenas um site de apostas, o prejuízo foi de quase R$ 1,5 milhão.

Extrato mostra a quantidade de transferências feitas por conta do vício (Foto: Reprodução / TV Pajuçara)

 

"Graças a Deus nunca cheguei a pegar empréstimo com agiotas. Eu pegava meu cartão de crédito, que tinha um limite bom, e saía estourando os cartões todos. Passava na minha maquineta, depois pegava em dinheiro. Peguei empréstimo pessoal com o banco. E aí quando foi totalizando nisso, hoje que meu nome está sujo no Serasa com cartão de crédito e empréstimo, vai aproximadamente uns R$ 800 mil", detalhou.

Casamento evitou o pior

Casado e pai de dois filhos, o empresário contou com o apoio da esposa para se reerguer.

"Eu sabia que era um vício como uma droga, como o álcool, que era um vício que, se eu não passasse com ele por aquele deserto, sei que o pior poderia acontecer. Tive um propósito muito grande junto com ele para unirmos forças e sair disso juntos. Ou eu saía e o abandonava, que era o caminho mais fácil, ou ficava com ele. Foi difícil, desesperador, angustiante, foi horrível. Ele não merecia isso. O coração dele é de um menino muito bom. Ele foi criado com condutas muito sérias, bondosas, rigorosas também, mas ele não merecia passar por isso, ser sabotado dessa forma", afirmou a esposa dele.

Já são seis meses de tratamento sem fazer nenhum tipo de aposta, mas o medo da recaída é um fantasma que ainda assombra o homem.

"A partir do momento em que comecei a ver dessa vez que era o cúmulo, o estopim, para mim já não dava mais aquilo ali. Procurei essa ajuda médica, psicológica, me aproximar com Deus também, fui para a academia. Esse momento foi horrível na minha vida".

"O jogo foi comprovadamente que é um jogo manipulado. Isso daí não é de agora que sabemos que são todos manipulados. O nome já diz: é um jogo de azar. Então, o jogo jamais vai querer que as pessoas ganhem, as pessoas vão perder. O recado que eu dou para as pessoas que ainda estão jogando é que saiam enquanto é tempo, porque vai acontecer uma tragédia na vida de alguém", reconheceu ele.


Vício pela aposta precisa ser tratado

O médico psiquiatra Aldacyr Cunha explicou como a mente humana age nesses tipos de situações.

"Funciona mais ou menos como as outras dependências e compulsões. Da mesma forma que uma pessoa, por exemplo, que tem compulsão de transtorno alimentar muitas vezes quer emagrecer, aquilo (comer) dá prazer a ela, isso alimenta o sistema dopaminégico com aquilo. O ato de comer, da mesma forma que o ato de jogar, alivia uma tensão que ela está sentindo. Muitas vezes essas pessoas têm alteração de personalidade, como baixa autoestima, alguma questão relacionada a sociabilidade com as pessoas. E ali, naquele momento, ela se sente aceita".

O médico psiquiatra Aldacyr Cunha (Foto: Reprodução / TV Pajuçara)

 

Pesquisas apontam que no Brasil 10 milhões de pessoas apresentam sintomas de dependência em jogos e apostas online.

"A questão do tratamento envolve psicoterapia, medicamento, terapia individual e em grupo. A terapia que geralmente a gente recomenda é a terapia com abordagem cognitiva comportamental, mas não significa que outras abordagens não possam funcionar. Geralmente utilizamos medicações que são conhecidos antidepressivos. Primeiro é preciso que a pessoa aceite tomar o medicamento. Veja como é difícil, da mesma forma que acontece com o dependente químico. É semelhante o comportamento".


Legislação antiga preocupa a polícia

O delegado Lucimério Campos, da Polícia Civil de Alagoas, chegou a depor como convidado na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Bets. Foi ele que conduziu em Alagoas a operação Game Over, que desvendou um esquema que envolvia a promoção ilegal de jogos por meio de plataformas digitais, utilizando "Contas Demonstração" que simulavam apostar reais, porém tinham o objetivo de captar apostadores/seguidores de forma irregular, causando prejuízo financeiro e emocional a diversas pessoas.

"Na polícia, a sociedade espera que ela (CPI DAS BETS) consiga trazer um controle maior, porque como estamos falando em finanças da sociedade, dinheiro de pessoas mais vulneráveis, cometimento de crimes, esperamos que a legislação seja aperfeiçoada. Porque a legislação não é suficiente para tratar do fenômeno. Não temos, por exemplo, uma parte criminal. As polícias hoje trabalham com contravenção penal de 1950. Uma lei de 1950 para fazer frente a um fenômeno diferente do mundo virtual, muito mais rápido, com um potencial de prejuízo muito maior".

Delegado Lucimério Campos (Foto: Reprodução / TV Pajuçara)



O encerramento da investigação na Game Over ocorreu após a celebração de acordos de colaboração premiada entre os influenciadores investigados e a Polícia Civil de Alagoas.

"No ano passado, em agosto, o próprio Banco Central disse que as Bets tiraram de beneficiários do Bolsa Família, que já recebem aquele rendimento mínimo existencial para comprar mantimentos, tiraram cerca de R$ 3 bilhões só naquele mês de agosto", disse o delegado.

"O jogo jamais vai querer que as pessoas ganhem. As pessoas vão perder. Chegou momento da gente não ter nada dentro de casa, porque o dinheiro ia todo para o jogo", desabafou o empresário.

Veja a reportagem na íntegra:

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