Entenda a discussão sobre a ida de Lula ao semiaberto e o que pode acontecer com ele

Publicado em 01/10/2019, às 22h25
Reprodução/Folha -

Folhapress

Na última semana, o Ministério Público Federal no Paraná pediu à Justiça que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passe a cumprir o restante de sua pena no regime semiaberto. Preso há mais de um ano, Lula disse que não pretende barganhar sua liberdade e que quer ser inocentado.

LEIA TAMBÉM

Segundo especialistas, o ex-presidente seria obrigado a ir para o semiaberto caso a Justiça assim ordenasse. Contudo, poderia recusar certas condicionantes que podem ser impostas e, com isso, permanecer no regime fechado.

O caso é complexo, visto que normalmente é o próprio preso que pleiteia sair da prisão. Abaixo, veja perguntas e respostas para entender o que pode acontecer com o petista.

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CASO LULA

O que é o regime semiaberto?

Nesse tipo de regime, o preso deixa a unidade penal de dia para trabalhar ou estudar e retorna à noite. Como há carência de estabelecimentos adequados, a Justiça pode permitir que o preso fique em casa, sob algumas condições. Na situação de Lula, espera-se que ele tenha restrições às visitas e, possivelmente, monitoramento por tornozeleira, como ocorreu com outros presos da Lava Jato.

Quais as condições necessárias para que um preso vá para o semiaberto?

Quando o réu é primário e foi condenado por crime não hediondo -caso de Lula-, é necessário que tenha cumprido 1/6 da pena e tenha bom comportamento. Outra condição necessária graças a uma lei sancionada pelo próprio Lula quando presidente é que o condenado por crimes contra a administração pública repare o dano causado. No caso do petista, isso equivale ao pagamento de R$ 2,4 milhões, segundo fixou o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O que mudou no posicionamento do MPF quanto à necessidade da reparação de danos?

Em outros processos da Lava Jato, o Ministério Público e a Justiça exigiram o pagamento da reparação dos danos para que o preso tivesse direito à progressão de regime. No caso de Lula, porém, a Procuradoria afirma que o fato de o petista ter tido bens bloqueados já é suficiente para garantir que, mais tarde, o valor seja pago.

Quem pede a progressão de regime?

E quem decide se ela deve ser concedida? Na vasta maioria das vezes o pedido é feito pela defesa do preso, mas a lei prevê que possa ser feito pelo Ministério Público -o que aconteceu com Lula. Cabe à Justiça decidir se aceita o pedido. No caso do petista, essa decisão será tomada pela juíza federal Carolina Lebbos.

Lula é obrigado a ir para o semiaberto?

Em tese, sim, se houver decisão judicial determinando a progressão de regime. Contudo, os juízes podem definir certas condições que precisam ser cumpridas para que o preso tenha direito à progressão, como o uso de tornozeleira eletrônica para quem vai cumprir pena em casa.

Lula é obrigado a usar a tornozeleira?

Não, ele pode se recusar.

E o que acontece se ele se recusar?

Nesse caso, ele não progride de regime.

Ele sofreria algum tipo de punição?

É difícil dizer, uma vez que o cenário é inusual. Alguns advogados consultados pela reportagem afirmaram que possivelmente ele deixaria de ter bom comportamento e, com isso, perderia a chance de futuramente pleitear a mudança de regime, mas não há consenso. Alguns especialistas também acreditam que Lula poderia responder por descumprimento de decisão judicial, e outros acham que a lei não prevê punições para casos do tipo.

A tornozeleira é uma condição necessária para um preso progredir de regime?

Não, e não há tornozeleiras suficientes no país. Essa, contudo, tem sido a prática adotada pela Justiça em relação aos presos da Lava Jato no Paraná.

Outras formas de monitoramento já foram autorizadas pelo Judiciário. Em 2017, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, autorizou que o doleiro Lúcio Funaro passasse a cumprir pena em regime domiciliar. Como não havia tornozeleiras disponíveis, a solução apresentada pela defesa e aceita pelo magistrado foi que Funaro instalasse câmeras na fazenda onde ele ficaria e de onde não poderia sair.

O que motiva Lula a não querer progredir de regime? 

O petista tem dito que não vai barganhar sua liberdade e que só sai da cadeia inocentado. Com isso, ele pressiona o STF a julgar o pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, que o condenou no processo em que cumpre pena. Se o pedido for aceito, sua condenação é anulada, e ele sai da cadeia. O julgamento foi iniciado em junho, e espera-se que seja retomado ainda neste ano.

Como funciona o semiaberto no Paraná?

Em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, há um estabelecimento destinado ao cumprimento de pena em regime semiaberto, a Colônia Penal Agrícola. Há outras duas unidades parecidas no interior do estado. Lá, os presos trabalham durante o dia, no estabelecimento ou fora, e se recolhem à noite.

Lula poderia ir para uma dessas unidades?

Isso é pouco provável. O STF entendeu que o petista tem direito a cumprir pena em uma sala de Estado-maior, que oferece condições especiais. São raros, porém, os estabelecimentos que têm esse tipo de alojamento. Além disso, por questões de segurança, a Justiça pode determinar que ele cumpra o resto da sentença em casa -há precedente na Lava Jato. Hoje ele está preso em um cela especial da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba e não tem contato com os outros presos.

Lula poderia cumprir pena no semiaberto em São Paulo?

Poderia, desde que fosse autorizado pela Justiça.

Se a Justiça autorizar Lula a cumprir pena em casa, ele poderá fazer discursos em público ou pronunciamentos nas redes sociais?

Depende das condições estabelecidas pela juíza Carolina Lebbos ao determinar a progressão de regime. Em tese, Lula teria de ficar recolhido em casa à noite e aos finais de semana, saindo apenas para trabalhar. A Justiça também pode definir outras condições, como proibição do uso de internet e de que ele se encontre com pessoas que cumprem pena. Se ele descumprir, pode ter que voltar para a cadeia.

Se Lula sair da cadeia, ele poderá ser candidato nas próximas eleições?

Não. Segundo a Lei da Ficha Limpa, políticos condenados em segunda instância ficam inelegíveis da condenação à data em que se completam oito anos do cumprimento da pena. Considerando a situação atual do petista, ele só poderia se candidatar novamente a partir de 2035, quanto terá 89 anos.

Por quais crimes Lula foi condenado?

Ele cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro referentes à reserva de um tríplex em Guarujá (SP) pela OAS como parte de acertos do PT em contratos na Petrobras. A pena fixada pelo STJ é de 8 anos e 10 meses de prisão.

O que mais há contra ele?

Para além do caso do tríplex, Lula foi condenado em primeira instância a 12 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia (SP). Ele recorre da sentença. O petista também é réu em outros sete casos.

SAIBA QUAIS SÃO OS CASOS NO STF COM IMPACTO PARA LULA

Suspeição de Moro

Lula pede ao STF a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos casos do petista que tramitam ou tramitaram no Paraná. Se o pedido for aceito, a sentença do tríplex de Guarujá (SP), que originou a prisão do ex-presidente, pode ser anulada, e Lula sairia da cadeia. O caso é julgado na Segunda Turma

Prisão após condenação em segunda instância

O julgamento deve decidir, de forma definitiva, se a execução da pena após a condenação em segunda instância é constitucional. Inicialmente estava previsto para abril, mas foi adiado por Dias Toffoli, presidente do Supremo.

Caso a corte reverta o entendimento atual e decida que, salvo condições especiais (como risco à sociedade), uma pessoa só pode cumprir pena após o trânsito em julgado do processo (quando não cabem mais recursos), Lula sairia da cadeia. Ele ficaria livre até que todos os recursos possíveis fossem julgados

Delatores x Delatados

A Segunda Turma anulou a condenação, proferida por Moro, do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine por entender que ele deveria ter tido mais tempo para se defender de acusações feitas por delatores julgados no mesmo processo. Fachin decidiu levar a questão ao plenário, desta vez no caso do ex-gerente da Petrobras Márcio de Almeida Ferreira. No julgamento da última quinta (26), a corte formou maioria para confirmar o entendimento da Segunda Turma. Os ministros ainda devem discutir de que forma a decisão pode impactar outros processos

O caso do sítio de Atibaia (SP), em que Lula foi condenado em primeira instância, seguiu o rito agora rejeitado no STF. A depender do que decidam os ministros, a sentença pode ser anulada, e o processo retrocederia fases. Ainda não se sabe se isso aconteceria automaticamente ou se a defesa do petista precisaria pedir a anulação. O julgamento será retomado na quarta (2)

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Líder do PL na Câmara dos Deputados nega desvios de verbas Protótipo de carro voador produzido no Brasil faz primeiro voo Polícia prende segundo homem envolvido no roubo de obras de arte em SP Polícia Federal mira deputados em operação que apura desvio de cotas parlamentares