Especialistas criticam demora do governo em agir para conter derramamento de óleo no Nordeste

Publicado em 05/12/2019, às 16h25
Agência Senado -

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Especialistas convidados para depor na comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga o derramamento de óleo nas praias do Nordeste criticaram a demora do governo em agir de forma a minimizar os impactos do desastre.

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O professor Daniel Brandt Galvão, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), lembrou que o governo levou mais de 40 dias para criar uma força-tarefa para conter o vazamento. “O tempo inteiro, a gente pedia às autoridades competentes que enviassem embarcações e boias de contenção para áreas sensíveis, como mangues e corais, e nada disso foi feito”, afirmou.

“É melhor o governo dizer que atrasou com mais de 40 dias e tentou colocar a força-tarefa em campo. Acho que não é digno dizer que estava desde o início. Os voluntários, sim, estavam 24 horas por dia, esperando o óleo chegar”, disse Galvão.

Pré-sal
Daniel Brandt Galvão questionou ainda o porquê de o governo não cogitar que a origem do óleo pudesse ser dos poços de petróleo da camada pré-sal. Segundo ele, o próprio Executivo especulou diversas origens das manchas de óleo que não foram comprovadas, como sendo da Venezuela ou de navios fantasmas.

“Se é poço de petróleo e se o governo sabia disso, será que o governo fez tudo para esconder por causa do leilão do pré-sal? Não são acusações, apenas [questões] para colaborar com as investigações”, declarou.

“Quantos milhões de reais foram economizados com a eficiência, a produtividade e a rapidez com que os voluntários retiraram o óleo dos ecossistemas? Qual seria o prejuízo se esse óleo tivesse sido retirado em 1 mês, ao invés de ser em 5 dias?”, perguntou Galvão.

Previsibilidade
O professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho Júnior, disse que os especialistas e os voluntários tinham uma previsibilidade da chegada do óleo nas praias com base apenas na movimentação das correntes marítimas e destacou que o governo poderia ter se antecipado para evitar que o desastre tivesse a proporção que tomou.

“Sabíamos a que horas o óleo ia chegar: temos a hora da maré, a velocidade do vento, esses dois componentes são full time, e a gente tinha essa informação”, disse.

Coelho Júnior afirmou que ainda não dá para avaliar o impacto do óleo no ecossistema e na saúde das pessoas, mas disse que o efeito cumulativo pode ser sofrido por décadas. Ele pediu que o governo acompanhe a saúde de todas as pessoas que tiveram contato direto ou indiretamente com o óleo.

“Pode ter um efeito direto de toxicidade, matando organismos, e que transfere para a cadeia alimentar. E no topo [dessa cadeia] não está só o tubarão, está o ser humano. No México, se monitora há nove anos a saúde de pessoas [contaminadas por óleo]”, ressaltou.

Origem do óleo
O relator da CPI, deputado João H. Campos (PSB-PE), informou que há mais de 80 nomes para serem ouvidos e que ainda outros nomes poderão surgir. Ele destacou que o importante é ouvir todos os envolvidos para saber a versão das autoridades, dos voluntários e dos especialistas.

“O grande desafio é descobrir a origem [do óleo]. Temos um prejuízo por não ter tido tempo para fazer isso desde o início, já que o governo federal demorou para agir”, afirmou Campos.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), também criticou o atraso do governo para atuar e conter o vazamento.

“Nenhuma estrutura do governo foi utilizada. O Brasil fica discutindo onde vai se gastar os bilhões do pré sal sem parar para pensar na crise de sustentabilidade em que vivemos”, disse Agostinho.

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