Família diz que jovem cego foi morto pela PM durante operação na Baixada Santista

Publicado em 27/02/2024, às 14h22
Foto: Reprodução -

Francisco Lima Neto/FolhaPress

Familiares afirmam que a Polícia Militar executou um jovem cego durante operação na Baixada Santista. Segundo a família, a vítima não tinha envolvimento com o crime e estava dentro de casa, que teria sido invadida pelas forças policiais.

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O jovem de 24 anos era cego de um olho e tinha apenas 20% da visão do outro, o que impedia que enxergasse qualquer coisa a mais de 30 centímetros de distância, ainda segundo os familiares.

O caso ocorreu no último dia 7, quando o jovem recebeu a visita de um amigo em casa, na avenida Oswaldo Toschi, em São Vicente. De acordo com a família, policiais da Rota invadiram a residência, sem câmeras nos uniformes, empunhando fuzis. Foram até o cômodo onde o jovem conversava com o amigo e dispararam contra os dois. Ambos foram socorridos, mas não resistiram aos ferimentos. O amigo morreu no mesmo dia, e o jovem cego morreu dois dias depois.

A denúncia consta em relatório produzido pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo sobre violações de direitos humanos durante a Operação Verão, continuidade da Operação Escudo. O relatório foi entregue nesta segunda (26) ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo. Iniciada após a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, no dia 2, a Operação Verão provocou a morte de 33 pessoas em supostos confrontos com policiais até a última sexta (23).

No registro da ocorrência, os policiais relatam que entraram no imóvel em razão de uma denúncia de tráfico de drogas e que houve reação.

A família nega a versão da polícia. E apresentou laudos para comprovar que desde 2016 a vítima sofria de doença ocular chamada ceratocone bilateral avançado, "tornando improvável a versão policial de que ele tivesse ameaçado os policiais com uma arma de fogo".

No dia 11, a Ouvidoria da Polícia esteve na Baixada Santista para conversar com vítimas e familiares. O relatório apresenta cinco casos ocorridos em Santos e São Vicente entre os dias 7 e 9 de fevereiro, que envolvem oito mortes.

Questionada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que os casos de mortes decorrentes de intervenção policial são consequência direta da reação violenta de criminosos à ação da polícia no combate ao crime organizado, que tem presença na Baixada Santista e já vitimou três policiais militares desde 26 de janeiro. "A opção pelo confronto é sempre do suspeito, colocando em risco a vida do policial e da população", diz a pasta.

O relatório da Ouvidoria também apresenta o caso de um homem deficiente físico que foi morto com tiros de fuzil no morro do São Bento, em Santos, no dia 9. Versão oficial da polícia afirma que ele e um amigo saíam de área de mata armados e reagiram à abordagem, por isso foram atingido em confronto.

A família, que nega a versão da polícia, apresentou laudos de que o homem, por usar muletas, "não conseguiria atirar andando".

Ainda segundo o relatório da Ouvidoria, os familiares foram impedidos de se aproximar das vítimas, que após os tiros teriam ficado no local por cerca de duas horas, ainda vivos e agonizando, antes de serem levados por uma ambulância para a Santa Casa de Santos, onde as mortes foram constatadas.

Em outro caso, ocorrido no dia 9 em Parque Bitaru, em São Vicente, um homem, funcionário da prefeitura que trabalhava na limpeza de um córrego, foi baleado na perna e no peito por se recursar a colocar as mãos na cabeça durante abordagem policial. O pai dele, um idoso que usa bengala, também foi agredido. A ação foi gravada por testemunhas.

Segundo a Ouvidoria, os familiares das vítimas procuraram a delegacia, mas foram impedidos de registrar a ocorrência —o que só foi feito dois dias depois, com o auxílio do ouvidor Claudinho Silva.

O homem baleado foi internado no Hospital do Vicentino e precisou ser intubado em razão de uma perfuração no pulmão. De acordo o relatório da Ouvidoria, funcionários do hospital relataram que "policiais militares adentraram a UTI local, onde o jovem estava e, de forma manifestamente ilegal, proferiram escárnio como —'esse aí não subiu ainda?'—, tirando foto do rapaz e publicando em redes sociais posteriormente, imagem esta que circulou nos grupos de WhatsApp de policiais e foi encaminhada à Ouvidoria".

A SSP afirma que as corregedorias das suas forças de segurança estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra agentes públicos, reafirmando o compromisso com a legalidade, os direitos humanos e a transparência. Diz, ainda, que os casos citados no relatório são investigados pelas polícias Civil e Militar, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.

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