Grande marcha toma Santiago em 8º dia de protestos no Chile

Publicado em 25/10/2019, às 22h41
Reprodução/Twitter -

Folhapress

No oitavo dia de protestos no Chile, a temperatura seguiu altíssima nas ruas. Mais de 820 mil pessoas se reuniram em uma manifestação pacífica na praça Itália -um dos principais locais dos atos, próxima ao palácio presidencial em Santiago. A cifra foi divulgada por um órgão da capital vinculado ao Ministério do Interior e da Segurança Pública.

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A convocação para a mobilização desta sexta (25), chamada pelos ativistas de "a maior marcha do Chile", foi feita pelas redes sociais, já que os movimentos que assolam o país não têm uma liderança clara.

A 110 km dali, na cidade costeira de Valparaíso, o Congresso Nacional foi esvaziado por volta do meio-dia de sexta por ordem do presidente da Câmara dos Deputados, Iván Flores, devido aos confrontos com a polícia que ocorriam do lado de fora.

Ele disse que a medida foi preventiva e que não havia muitos funcionários no prédio, onde ocorria uma sessão da Comissão de Trabalho. "Não é uma evacuação, mas sugeri que eles [os parlamentares] voltassem para casa", disse Flores, acrescentando que a tensão social que o país vive é "sem precedentes".

Há uma semana, um protesto estudantil contra o aumento do preço das passagens de metrô resultou em uma explosão social sem precedentes, a mais grave em quase 30 anos desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

As mobilizações cresceram e logo congregaram diversas reivindicações sociais, como melhoria no acesso à saúde e à educação, serviços privatizados e que consomem boa parte da renda dos chilenos. O Chile é uma das economias mais estáveis, mas, ao mesmo tempo, mais desiguais da América Latina.

O sistema previdenciário também é outro ponto nevrálgico, muito criticado pelos baixos vencimentos e pagamentos atrasados. Em pronunciamento após o início dos protestos, o presidente Sebastián Piñera anunciou aumento de 20% nas pensões.

Manifestações semelhantes foram convocadas para esta sexta em outras cidades do Chile, que está quase totalmente sob vigilância militar desde que o presidente decretou um estado de emergência na madrugada de sábado (19), primeiro em Santiago e depois em outras regiões.

O dia começou com caravanas de caminhões bloqueando o fluxo nas principais rodovias de acesso à capital, em um ato contra a cobrança de pedágios em estradas, que foram concedidas em sua maior parte ao setor privado a partir da década de 1990.

Santiago tinha mais linhas de metrô operando parcialmente em relação aos últimos dias. É uma lenta recuperação em comparação ao fim de semana passado, quando o serviço suspendeu completamente seu funcionamento na esteira de ataques a dezenas de estações.

Os protestos resultaram até agora em mais de 6.000 detidos e ao menos 18 mortos, segundo a subsecretária do Interior, apesar do toque de recolher em vigor durante a semana e que foi decretado novamente nesta sexta.

A Justiça também investiga se agentes de segurança cometeram abusos no uso da força para reprimir as manifestações, como apontam organizações de defesa dos direitos humanos locais.

Em meio à onda de violência, Piñera pediu ajuda uma de suas maiores adversárias políticas, a ex-presidente Michelle Bachelet, atual Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, para que investigue a situação.

Bachelet aceitou o convite do governo, feito na quinta (24), e anunciou que irá mandar uma missão para analisar denúncias de violações que teriam sido cometidas pelas forças de segurança contra os manifestantes.

A Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), chefiada por Luis Almagro, denunciou o que descreveu como um "padrão" de desestabilização inspirado na Venezuela e em Cuba nos países da América Latina, primeiro na Colômbia e no Equador e agora também no Chile.

Em um comunicado divulgado na noite de quinta, o escritório da Almagro insistiu nas colocações que havia feito antes, transferindo a responsabilidade das massivas mobilizações antigovernamentais na região aos governos de Nicolás Maduro, na Venezuela, e Miguel Díaz-Canel, em Cuba.

"As brisas do regime bolivariano impulsionada pelo 'madurismo' e pelo regime cubano traz violência, saques, destruição e um objetivo político de atacar diretamente o sistema democrático e tentar forçar interrupções nos mandatos constitucionais", disse o secretariado da OEA em seu texto.

O Equador foi abalado na primeira quinzena de outubro por violentas manifestações antigovernamentais causadas pela eliminação dos subsídios aos combustíveis e o consequente aumento de preços de até 123%. O presidente equatoriano Lenín Moreno acusou Maduro de estar por trás dos distúrbios, que deixaram oito mortos e mais de 1.300 feridos.

No final de setembro, a Colômbia acusou Maduro perante as Nações Unidas de receber grupos armados colombianos do Exército de Libertação Nacional (ELN). A Secretaria-Geral da OEA afirmou que a Colômbia foi o país mais afetado pelos "crimes contra a paz do regime maduro".

Almagro, diplomata uruguaio que lidera a OEA desde 2015, é um feroz oponente de Maduro, um ditador a quem atribui graves violações dos direitos humanos com o apoio de Havana.

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