Valor Econômico
A inflação anual argentina ultrapassou a barreira dos três dígitos e chegou aos 102,5% em fevereiro, anunciou ontem o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) da Argentina. O índice é o maior desde setembro de 1991.
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O índice mensal ficou em 6,6% no mês passado. Só nos primeiros dois meses de 2023, a inflação acumulou uma alta de 13,1%.
Especialistas estimam que o quadro de alta inflação não deve se resolver em curto prazo, principalmente em um ano eleitoral — em outubro, os argentinos vão às urnas para escolher um novo presidente.
“O que se nota é que o governo [do presidente Alberto Fernández] está, na prática, de mãos atadas para agir contra a inflaçao”, disse o analista Nicolás Alonzo, da consultoria Orlando Ferreres & Asociados. “Para reverter o quadro inflacionário, em primeiro lugar, o governo deveria acabar com as incertezas na frente fiscal, mas as exigências de um ano eleitoral e a queda da receita provocada por uma quadro de recessão e de seca dificultam avanços neste sentido”, afirmou.
“As necessidades financeiras têm obrigado o banco central a manter a emissão monetária na ordem do dia e, em meio a este quadro, estima-se que 2023 feche com uma inflação de 110%”, prosseguiu Alonzo.
A expectativa do mercado é de que os preço ao consumidor sigam em alta nos próximos meses. “A inflação argentina já incorporou um componente inercial importante e dificilmente a equipe econômica poderá alcançar avanços importantes para baixar os índices no período que resta de mandato [de Fernández]”, afirmou, por seu lado, Guido Lorenzo, diretor da consultoria LCG, ao jornal “Ámbito Financiero”.
De acordo com o Indec, a alta de fevereiro foi puxada pelos alimentos — sobretudo a carne bovina, que mais pesou no aumento de 9,8% em relação ao mês passado. Comunicações (com 7,8%) e gastos com restaurantes e hotéis(7,5%) também colaboraram com o aumento do índice.
A taxa acima dos 100%, na verdade, já era esperada desde o final de 2022, mas o programa de controle de preços implementado pelo ministro da Fazenda, Sergio Massa, conseguiu manter o índice em 94,8%. Especialistas, porém, haviam indicado que o represamento dos preços deveria resultar em aumentos consecutivos das taxas mensais — o que se verificou ontem pelo quarto mês seguido.
Há um ano, a Argentina Fechou um acordo com o Fundo Monetário Internacional para rolar uma dívida de US$ 44,5 milhões e uma das contrapartidas do acordo era que o governo mantivesse a alta de preços numa meta de 50% ao ano.
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