Isenção do Imposto de Renda: fazendo caridade com chapéu alheio

Publicado em 05/10/2025, às 11h00

Flávio Gomes de Barros

Texto de Ricardo Kertzman:

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"Não sou saudosista, ainda que memórias afetivas de um passado relativamente distante permeiem com certa frequência minhas reflexões. Cinquentões – como eu -, sessentões, setentões e beyond costumam, de forma nem sempre muito leve e feliz, pensar sobre o que passou e o que está por vir. Segundo Oswaldo Montenegro, 'O melhor da vida ainda vai acontecer. Segundo outros – a maioria -, 'Envelhecer é uma merda'. Particularmente, não vejo alternativa à 'merda', senão a morte. Ou seja…

A digressão acima é pelo anos 1980. Ter vivido a adolescência naquela década foi sem dúvida especial. No carnaval de 1982, no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, a União da Ilha do Governador ficou em 5º lugar, mas seu samba-enredo, 'É hoje', marcou época e fez história. No primeiro lugar, a Império Serrano , com um samba-enredo igualmente histórico: 'Bum-bum paticumbum prugurundum'. Por que isso? Bem. Apenas para lembrar: 'Acredito ser o mais valente. Nesta luta do rochedo com o mar'.

Uma brincadeira popular – ou citação filosófica, vá saber – alterou a frase para: 'Na luta do rochedo contra o mar, quem sai machucado são os mariscos'. Pois na briga entre um governo populista e perdulário e congressistas populistas e perdulários, quem paga a conta são os burros-de-carga de sempre a classe média e a classe média alta, tida peloIBGE e pela esquerda brasileira como super-ricos – e não por serem, mas por viverem em um país em que 90% da população ganha até R$ 3.5 mil reais mensais.

Segundo os “justiceiros sociais”, igualdade social e justiça tributária não se fazem cortando gastos públicos e combatendo toda sorte de desperdícios, benesses e corrupção, mas por aumento de impostos. Isentar de imposto de renda de quem ganha até R$ 5 mil reais por mês é mais do que justo; é obrigação. Mas custear tal medida, cobrando (duplamente) de quem já paga imposto de renda em seus negócios e atividades profissionais – anos-luz distante de rendimentos bilionários – é injusto, abusivo e confiscatório.

Os verdadeiramente 'super-ricos' estão se lixando, pois alguns tostões a mais, ou melhor, a menos não farão diferença. Até porque, a maioria deles irá recuperar a perda com isenções fiscais e outros benefícios estatais. As pessoas pobres, em um primeiro momento, se formalizadas, irão deixar de pagar, em média, R$ 300, o que é bastante significativo. Já os médios empresários, profissionais liberais e trabalhadores autônomos podem dar adeus ao estudo dos filhos no exterior, à troca do imóvel ou à previdência privada.

Não entendi, Ricardo”. Bem, tais afortunados, depois de pagarem duas, três, quatro vezes por tudo – impostos, escolas particulares, planos de saúde etc. – verão parte da sobra de seus ganhos migrar para o novo imposto, e assim perderão a capacidade de poupança, de aquisição de bens e serviços de maior valor agregado e de financiamento de educação de melhor qualidade para seus filhos. Ao invés de promover o desenvolvimento social dos mais pobres, no Brasil promove-se o empobrecimento dos mais ricos."

 
 
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