Jogo da Champions pode ter espalhado coronavírus a milhares na Itália

Publicado em 09/04/2020, às 16h56
DiaEsportivo / Folhapress -

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O 19 de fevereiro seria o dia mais importante da história da Atalanta Bergamasca Calcio. Pela primeira vez a equipe jogaria uma partida eliminatória pela Champions League, a principal competição de clubes da Europa.

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Isso fez com que cerca de 35% da população de Bergamo (a 600 km de Roma), no norte da Itália, viajasse os 50 km que a separam de Milão para ver o jogo contra o Valencia.

O confronto entrou para a história, sim. A Atalanta obteve um surpreendente 4 a 1 e depois avançou às quartas de final pela primeira vez em sua história. Mas ficará marcado também como o jogo que explodiu a pandemia de coronavírus no país, segundo autoridades. O prefeito de Bérgamo, Giorgio Gori, o definiu como uma "bomba biológica."

"Não podemos menosprezar o impacto que esta partida teve na propagação do vírus. Eu creio que foi grande pelas circunstâncias. É só você olhar a porcentagem da população que esteve no estádio e no fato de que a província de Bergamo se tornou um dos focos do coronavírus na Itália poucas semanas depois. Se você analisar todo o cenário, não pode ser coincidência", afirma Walter Riciiardi, presidente do Instituto Nacional de Saúde no país.

Quatro dias após a goleada, a província teve o primeiro caso. O jornalista Kike Mateu, que esteve no estádio San Siro, em Milão, naquele dia, voltou a Valência e, dias depois, começou a apresentar os sintomas. Ele se recuperou, mas é considerado o "paciente zero" do Covid-19 na Espanha.

O time italiano não pôde utilizar seu estádio, o Gewiss, com capacidade para 21 mil pessoas, por estar em reforma e não atender às exigências da Uefa.

Até quarta (8), a província de Bergamo era a segunda na Itália com mais casos identificados de coronavírus. Eram 9.868 confirmados, mas não foi divulgado o número de mortos. A cidade fica na região da Lombardia, considerada o principal foco da doença no país, com 52.325 infectados e 9.484 vítimas fatais. Em todo o território italiano, são mais de 135 mil contaminados e 17 mil mortos.

A constatação das autoridades, como o prefeito Gori, é que o momento histórico da Atalanta, que vive ápice em campo desde sua fundação, em 1907, fez com que os torcedores viajassem em caravanas ou lotassem trens até Milão. Isso facilitou a propagação do vírus que ainda não era a preocupação principal do sistema de saúde.

"Sabemos que crianças faltaram a escola para irem ao jogo acompanhados dos pais e naquele momento, mais de 40 mil pessoas de Bérgamo no mesmo espaço facilitou muito que o vírus se espalhasse. A pandemia não avançou desse jeito no país por causa da partida da Atalanta, mas ajudou, claro", completa Ricciardi.

"Se o vírus já estava em circulação, tivemos 40 mil torcedores infectados naquela noite apenas. Pela importância da partida, muita gente viajou em grupo", concorda Gori.

Quando o confronto de volta aconteceu em Valência, em 10 de março, a presença de público já estava proibida. Os jogadores da Atalanta comemoram a classificação com camisas que demonstravam o quanto o Covid-19 havia se tornado um problema: "isso é para você, Bérgamo. Não desista", era a mensagem.

Dias depois, a Champions League e o futebol em toda a a Europa (menos em Belarus) foi interrompido sem data para voltar. Os cartolas farão de tudo para que a temporada seja completada em campo para evitar pagar multas às emissoras de TV que compraram os direitos de transmissão.

A Atalanta jamais venceu o título da Série A e tem como conquista máxima a Copa da Itália de 1963. O goleiro dessa campanha, Zacaria Cometti, morreu por complicações causadas pelo coronavírus.

"Ninguém esperava por isso. Quando tudo passar vou me reencontrar com meus companheiros sul-americanos, mas primeiro está a saúde e o esforço dos médicos que lutam para salvar vidas. Em Bergamo estão todos muito tristes", conta o zagueiro argentino José Luiz Palomino, da Atalanta, ao canal TyC Sports.

O clube também tem um jogador brasileiro no seu elenco. O zagueiro Rafael Tolói, ex-São Paulo e Goiás, participou das duas partidas das oitavas de final. Mas alegando que o clube proibiu seus atletas de dar entrevistas, recusou-se a falar sobre o assunto.

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