Jovem negro é agredido e ameaçado em shopping no Rio ao tentar trocar relógio

Publicado em 08/08/2020, às 11h01
Foto: Reprodução -

G1

Um caso de discriminação e racismo provocou indignação nesta sexta-feira (7) no Rio de Janeiro e ganhou as redes sociais. A vítima foi um jovem que queria dar um presente para o pai.

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Uma família em choque. Matheus, de 18 anos, chora toda vez que se lembra da humilhação e da violência que enfrentou. Tudo o que ele queria era trocar um relógio, um presente de R$ 269, divididos em oito vezes, que seu Josenildo ganharia no Dia dos Pais.

Nesta quinta-feira (6), Matheus voltou ao Ilha Plaza Shopping, na Zona Norte do Rio. As imagens mostram o rapaz chegando na loja Renner, por volta das 19h. Logo atrás dele, dois homens. Matheus afirma que, além do relógio, estava com a nota fiscal.

A outra câmera já mostra o rapaz sendo abordado pelos dois homens: o de vermelho arrasta Matheus. O outro, acompanha. “Eu comecei a gritar que eu não sou ladrão, que você estava me confundindo, que eu estou aqui todo dia trabalhando. Eu não era ladrão e eles estavam me tratando como um”.

Assim que deixa a loja, Matheus é levado à força para a saída de emergência do shopping. Um segurança uniformizado acompanha tudo e não socorre Matheus. “O de camisa vermelha me deu uma banda e me imobilizou. Nisso que ele me imobilizou, ele sacou a arma e botou na minha cabeça”.

Matheus só foi liberado depois que um amigo chamou a atenção de outras pessoas. Esse amigo, que também é entregador de um restaurante do shopping, diz que foi proibido pelo shopping e pelo restaurante de voltar lá para trabalhar.

Matheus registrou queixa na delegacia e prestou depoimento durante uma hora. Desde o início da pandemia, ele tem trabalhado como entregador de aplicativo; sempre buscava encomendas em restaurantes do próprio shopping. Nunca foi incomodado, até aparecer por lá sem a mochila com a identificação do aplicativo, como um cliente comum, e com a embalagem de um relógio nas mãos.

A polícia está tentando identificar os agressores. Funcionários prestaram depoimento e, segundo o delegado, disseram que os dois homens trabalham como seguranças do shopping. Um deles seria policial.

“Tudo indica que o Matheus sofreu essa violência em razão da cor da sua pele. Por isso, a polícia tipificou esse fato como crime de racismo, pena de reclusão de um a três anos”, afirma o delegado Marcus Henrique Alves.

Matheus estava orgulhoso; era o primeiro presente para o pai com o primeiro cartão de crédito dele próprio. Dona Alice, a mãe, vive uma mistura de sentimentos: “Eu posso ir no shopping, eu posso mexer em todas as roupas, eu posso comprar o que eu quiser. Eu posso, inclusive, provar as coisas de graça. Agora, se ele está sozinho, ele não pode fazer nada disso, como foi o que aconteceu. Ele sozinho não pode comprar um relógio. Será que sempre vai ter que estar com a mãe do lado? Tem que estar com alguém do lado, alguém branco?".

O Ilha Plaza Shopping declarou que repudia qualquer tipo de violência ou discriminação, lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com Matheus. O shopping voltou a afirmar que os agressores não são funcionários e que o vigilante do Ilha Plaza, que aparece uniformizado no vídeo, atuou de forma a contornar pacificamente a situação.

A loja Renner, onde Matheus tentou trocar o relógio, lamentou a agressão. Disse que entrou em contato com a família do Matheus para dar apoio e afirmou que os agressores não são funcionários ou prestadores de serviço da loja.

A Polícia Militar declarou que não compactua e pune, com rigor, qualquer desvio de conduta ou abuso de autoridade.

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