Lembra dele? Adhemar, o ídolo do São Caetano que quase parou no futebol americano

Publicado em 28/04/2020, às 08h22
Divulgação/São Caetano -

Ogol

Conversar com Adhemar é fazer uma reflexão: um craque tem que, necessariamente, jogar uma Copa do Mundo? Um ídolo precisa, de fato, de uma galeria de títulos invejável? Afinal, o que são os ídolos no futebol que não aqueles personagens que cativam quem tem amor pelo jogo. 

LEIA TAMBÉM

Para cativar, não necessariamente é preciso estar na elite. Adhemar começou na várzea, o que só aumenta os méritos de sua carreira e agrega significado ao lugar onde chegou. O ex-jogador, com seus 48 anos recém-completados, tem orgulho quando fala, para a reportagem de oGol, sobre seu início. 

"Comecei na várzea. Não cheguei ao profissional por categoria de base nenhuma. Fui fazer teste em vários clubes e fui reprovado, por causa da altura. Ninguém queria um atacante com 1,69 cm. Aí treinava de lateral direito, meia-direita, volante, e acabei não passando. Aí fui na várzea. Ganhava um dinheirinho jogando, com 15 anos, contra todas as categorias. Fiquei na várzea até os 19 anos, quando um amigo meu que falou que tinha um clube que precisava de um jogador no sub-20, que era o Estrela, de Porto Feliz. Como eu já era mais malandro, por ter jogado na várzea, eu fiquei só uns três jogos no sub-20 e logo subi ao profissional", começou por contar Adhemar.

Idolatria no São Caetano

Adhemar só ficaria conhecido do grande público anos depois, quando chegou no São Caetano. O ex-atacante, porém, faz questão de tratar com orgulho seu início de carreira e nos faz refletir.   

"Eu comecei cedo, mas a mídia realmente só está no alto rendimento. Então na hora que você aparece no alto rendimento é que as pessoas te acompanham. Mas eu comecei cedo, desde cedo nas escolinhas de futebol, depois jogando em segunda divisão, terceira divisão. É que a hora que você chega para disputar uma final de Brasileiro, você torna-se visto. Isso é um mal que temos na mídia, que só cobre Série A e acaba deixando de lado muita gente que realmente necessita de explorar um pouquinho da sua imagem", refletiu. 

Da várzea, até os gramados paulistas. Daí, para os campos do Brasil e do mundo. Adhemar se tornou ídolo do São Caetano com a campanha do vice-campeonato brasileiro de 2000, na famosa João Havelange. 

"Não só eu, como todos os que estavam no grupo do São Caetano não tínhamos ideia de que poderíamos chegar onde a gente chegou. Óbvio que todos querem vencer, mas você sabe também das limitações que tem. Nós quebramos muitas barreiras, tabus. Um projeto de três anos, de 1997, início da gestão, até 2000. Saímos de terceira divisão de Paulista e Brasileiro para disputar uma final de Brasileiro. Nem o mais otimista do grupo acreditava nesse sucesso", confessa. 

As campanhas no São Caetano projetaram Adhemar para o futebol europeu. O ex-jogador faz questão de ressaltar a trajetória no clube, apesar de não ter levantado muitas taças. 

"Fomos campeões da Série A2 do Paulista em 2000, mas batemos na trave no Brasileiro em 2000, 2001 e na Libertadores, que acho que foi uma lástima não ter conseguido aquela Libertadores. Mas aí coroou em 2004 com o Muricy no título Paulista. Mas ser vice-campeão de uma competição é muito difícil. É que aqui no Brasil o segundo colocado é o primeiro dos piores. Na Europa, uma equipe chega nas quartas de final de Champions e é lembrada pelo resto da vida. Nunca é campeão do seu campeonato, mas uma vaga nessas Copas já é uma marca... Então pela história do São  Caetano, de 30 anos de vida que tem, a gente ter conseguido tudo isso, creio que é um belo fato, apesar do pouco tempo de vida em relação a muitos clubes que têm mais de 100 anos", analisou.


Da várzea para a Europa e quase para os EUA

Depois da primeira passagem pelo São Caetano, Adhemar foi jogar no Stuttgart, da Alemanha. O brasileiro ficou um ano e meio na Alemanha, jogando uma das principais ligas de futebol do mundo. 

"Fiquei lá por quase dois anos. Adorei a Alemanha, gostaria de ter ficado lá, mas, por problemas familiares, na época não tinha a comunicação como tem hoje e acabei não cumprindo o contrato até o final. Mas gostei de ter jogado em um alto nível na Bundesliga, um dos melhores campeonatos do mundo, com grandes jogadores. Foi maravilhoso ter saído lá do campinho de terra em Tatuí, em Porto Feliz, e ter jogado em uma arena na Alemanha", contou.

Depois de sua experiência na Alemanha, Adhemar ainda teve duas passagens pelo São Caetano, clube onde tem a honra de ser o principal goleador.  

"Quando se fala em São Caetano, se fala em Adhemar. Quando se fala em Adhemar, fala em São Caetano. As pessoas, quando ouvem um nome, ligam um ao outro. É uma coisa que não é fácil. Muitos passam e não deixam a sua marca. Apesar de, até hoje, ter o título de maior artilheiro da história do clube, sei que um dia alguém pode passar. Mas fico muito feliz em fazer parte da história desse clube", se orgulha.

Depois de se aposentar, Adhemar recebeu um convite curioso: conhecido como o "Canhão do Azulão", foi convidado a se tornar kicker de futebol americano (posição onde o atleta tem a incumbência de chutar os field goals, extra points e kickoffs). Adhemar quase parou na NFL...  

"Surgiu um convite quando eu me aposentei para fazer um teste aqui em São Paulo. Fui lá com um empresário americano. Chutei dez bolas de 50 jardas, acertei nove. O empresário ficou maluco, mas tinha que ir para lá, para ir para a Universidade, para depois jogar um ano, depois ser draftado, aí não poderia ter visto de trabalho... Então preferi ficar aqui no Brasil para curtir a minha aposentadoria do que arriscar começar de novo todo um trabalho, concentração, treinamento", recordou. 

Longe dos gramados dos Estados Unidos, Adhemar seguiu no Brasil e, recentemente, retornou ao São Caetano. O ídolo do Azulão ajuda na formação dos craques do futuro do clube.

"Eu tenho quase oito meses de volta ao clube. Voltei como coordenador da categoria de base. Para a gente estruturar a base do clube, poder captar jovens valores e tentar lançá-los no profissional do que sair atrás correndo em busca de jogadores no profissional sem conhecer o perfil do atleta. Então a gente vai tentar criar pratas da casa para que, no futuro, a gente possa vir a negociar esses meninos". 

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Com tornozeleira eletrônica, jogador brasileiro pode ser campeão após sair da cadeia Neymar afirma que jogará mesmo lesionado: "me sinto cada vez melhor" Ceará x Cruzeiro com exclusividade na RECORD neste sábado (29) Presidente da CBF rebate Abel sobre arbitragem: "Quando favorece não fala"