Médicos investigam lesões oculares em recém-nascidos por causa da zika

Publicado em 08/01/2016, às 18h49

Redação

Em texto divulgado na revista científica The Lancet na noite de quinta-feira, cientistas da Fundação Altino Ventura, do Hospital dos Olhos de Pernambuco (HOPE) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descrevem uma associação entre a infecção de mulheres grávidas pelo vírus e a descoberta das lesões nos recém-nascidos.

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Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil tem 3.174 casos suspeitos da má-formação registrados até o dia 2 de janeiro, em 21 Estados.

Assim como outras viroses e infecções bacterianas – como a rubéola, a toxoplasmose e a sífilis –, o vírus da zika, quando contraído nos primeiros meses da gravidez, pode causar diversos tipos de lesões cerebrais no bebê, além da microcefalia.

Esta, no entanto, é a primeira vez em que lesões oculares associadas à zika são descritas em recém-nascidos, de acordo com o oftalmologista Rubens Belfort Junior, professor da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.

"Fazendo exames, vemos que o aspecto dessas lesões é diferente das que são causadas por outras infecções", disse Belfort à BBC Brasil.

"Mas também estamos examinando as mães para ter certeza de que elas não tinham alguma deficiência visual que o bebê pudesse ter herdado."

A ocorrência das lesões oculares é a primeira descoberta documentada após a realização de mutirões de exames em Recife e Salvador – duas das cidades com maior número de casos de microcefalia.

"Queremos produzir mais informações sobre a doença e orientar os pacientes. O impacto econômico e psicológico dessa epidemia é devastador."

Ajuda no diagnóstico

O trabalho descreve os casos de três bebês com microcefalia examinados pela equipe.

Nos três foram encontrados problemas como o distúrbio pigmental da retina (parte do olho responsável pela formação de imagens) e diferentes graus de atrofia da retina, da coroide (estrutura que absorve a luz) e do nervo óptico, que, segundo Belfort, podem causar perda total ou diminuição da visão.

"Quando enviamos este texto para a revista, estávamos começando a examinar os pacientes. Agora, já temos cerca de 100 crianças e 100 mães examinadas em Pernambuco e na Bahia, com resultados semelhantes", diz o pesquisador.

Para Belfort, os exames também podem revelar se o zika vírus estaria causando problemas visuais mesmo em bebês que não tiveram a microcefalia.

"Já temos algumas crianças que não tem microcefalia, mas têm lesões na retina e no sistema nervoso central. Isso tornaria o problema maior e mais grave", afirma.

O caso brasileiro é o primeiro no mundo que associa o vírus à ocorrência de microcefalia em bebês. Por isso, casos como estes ainda não estão presentes na literatura científica sobre a doença e suas consequências.

Além disso, a dificuldade em diagnosticar a zika depois que a pessoa teve a doença torna difícil saber se todos os casos notificados de microcefalia estão realmente associados ao vírus. Por essa razão, os autores da pesquisa acreditam que o exame nos olhos dos bebês pode ajudar.

"Em todo o mundo, o diagnóstico da zika é quase sempre feito pela exclusão de outras doenças e pela associação dos sintomas. É como na época da descoberta de Aids, quando ainda não havia teste", diz.

"Com o exame oftalmológico, podemos identificar as lesões nas crianças e saber se elas podem ter sido causadas por este vírus ou por outras razões."

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