Folhapress
Um depoimento colhido pela Polícia Civil nessa sexta-feira (5) apontou que a técnica de enfermagem Raíza Bentes foi orientada por uma colega a não aplicar adrenalina na veia do menino Benício Xavier. A criança, de seis anos, morreu logo após receber a medicação, em um hospital de Manaus, capital do Amazonas.
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De acordo com a também técnica de enfermagem Rocicleide Lopes de Oliveira, Raíza foi informada dos riscos de aplicação intravenosa. Ela contou que disse para profissional que os 3 ml de adrenalina, quantidade usada em Benício, só poderiam ser injetados na veia em casos de parada cardiorrespiratória. Rocicleide estava cobrindo o intervalo da colega na sala de medicação pediátrica do hospital Santa Júlia.
Rocicleide ainda contou que orientou sobre a quantidade prescrita, que deveria ser administrada por nebulização. Por isso, chegou a preparar um kit para que Raiza administrasse na criança.
"Raiza, a prescrição EV (intravenosa) nesse volume de 3 ml não pode ser feito via EV, e, sim, por nebulização", teria afirmado à colega. Mas a defesa de Raiza negou a versão. "Raiza questionou como proceder com a prescrição. Ela pediu pra Raiza seguir a prescrição médica", afirmou.
Raíza Bentes (foto) foi alertada por outra técnica de enfermagem (Crédito: Rede Amazônica)
Rosicleide disse que percebeu que a seringa para aplicação já estava aspirada e reforçou o alerta. "A seringa (que já estava aspirada em 3 ml) não poderia estar aspirada em razão de que um 1 ml se faz apenas em uma parada cardiorrespiratória e acima de 1 ml de adrenalina pura é feita somente por via inalatória!", contou, ainda segundo o registro de depoimento.
Ela perguntou se Raiza havia entendido as orientações, e ela respondeu que sim. A profissional disse que se dirigiu para o setor onde trabalhava e, instantes depois, ouviu gritos de Raiza.
Ao voltar para sala de medicação onde estava Benício, ouviu de Raíza que havia aplicado a adrenalina na veia do menino. "Roci, eu fiz a medicação EV (via intravenosa) e ele foi ficando branco", teria dito Raiza para a colega.
A técnica disse à polícia não saber por que a colega não seguiu a orientação. Contou também que, em nenhum momento, afirmou para Raíza que ela deveria seguir estritamente a prescrição eletrônica e que, pela sua experiência, interpretou que a médica queria a via por nebulização, e não intravenosa.
Ainda segundo Rocicleide, comentários no hospital apontavam que Raiza não gostava de receber orientações. Por causa disso, a técnica foi transferida de um plantão anterior para aquele em que atendeu Benício devido a atritos com a equipe médica.
A profissional destacou ainda que o hospital oferece treinamentos de protocolos de segurança. E relatou que estranhou Raiza ter afirmado que não havia procedimentos implementados.
Benício estava 'amarelado'
O depoimento de outra técnica de enfermagem reforça versão de Rocicleide. Nilda de Souza Evangelista, que também estava no plantão no dia do caso, relatou à polícia que ouviu Raiza gritar o nome de Rocicleide e correu até a sala de medicação pediátrica.
Ela viu que o menino estava "amarelado" e que colegas já prestavam o primeiro atendimento. Segundo ela, Raiza afirmou naquele momento que havia aplicado a adrenalina por via intravenosa, "conforme aparecia na prescrição".
Nilda contou que não presenciou se Raíza pediu ajuda para confirmar a via ou a dose da medicação antes da administração. Ela disse também que já tinha recebido uma prescrição duvidosa de um médico, em outro momento, e que procurou o profissional, tendo a receita corrigida. A técnica não se recorda, entretanto, se isso ocorreu com a médica Juliana Brasil, que fez a prescrição de adrenalina para Benício.
A técnica ainda afirmou que viu Juliana durante atendimento. Ela não se lembra, entretanto, de tê-la visto executando alguma conduta direta no paciente naquele momento.
Nilda também mencionou que o sistema usado para prescrição e evolução dos pacientes "às vezes, apresenta instabilidade". Quando isso ocorre, a equipe registra as informações em papel e depois atualiza o sistema.
Médica muda versão
Em acareação com Raiza na quinta, Juliana afirmou que o erro na prescrição foi do sistema. A versão contraria prints de mensagens enviadas por ela, vazadas nas redes sociais, em que ela assume duas vezes ter errado na forma como prescreveu a aplicação.
Juliana também informou que fez a prescrição errada em um relatório feito à direção do hospital Santa Júlia. No documento, ela disse que, apesar de prescrever o remédio de forma errada, orientou verbalmente à mãe do menino que a adrenalina não deveria ser intravenosa, e sim por nebulização.
A Polícia Civil pediu perícia no sistema do hospital. O objetivo é atestar se procede a versão da médica de que houve erro eletrônico, e não médico, na prescrição.
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