Náusea e dor foram guia para 'Democracia em Vertigem', diz diretora

Publicado em 25/06/2019, às 21h19
Diego Bresani/Divulgação -

Folhapress

Em um primeiro momento, Petra Costa até tentou fazer um documentário objetivo. Mas logo desistiu: "Não colava bem, ficava frio". A opção por contar a história da crise política recente a partir da sua história familiar culminou no corte final de "Democracia em Vertigem", novo filme da diretora.

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"Eu não sabia, antes de começar o filme, que era tão sofrido perder um projeto de país. O trauma e a dor da minha relação com a democracia foram meu guia nesse filme", disse Petra. A diretora debateu o documentário em evento organizado pela Casa do Baixo Augusta e pela Folha de S.Paulo, na segunda-feira (24).

No filme, Petra narra eventos como o impeachment de Dilma Rousseff, a prisão do ex-presidente Lula e a eleição de Jair Bolsonaro em paralelo à sua história. Neta de um dos fundadores da empreiteira Andrade Gutierrez e filha de dois militantes de esquerda presos durante a ditadura militar (1964-1985), ela votou em Lula no pleito que o elegeu, se decepcionou com as alianças feitas durante os governos petistas e se chocou com a vitória de Jair Bolsonaro no ano passado.

"Vertigem era o que eu sentia desde o início. Fui motivada para fazer esse filme pela náusea", afirmou. Sua produtora, a Busca Vida Filmes, bancou as filmagens iniciais, e logo obteve fundos de pelo menos cinco fundações.

A Netflix adquiriu os direitos de distribuição em 2017 e financiou o projeto a partir de então. "A parceria com a Netflix foi muito boa porque deu repercussão internacional ao documentário", afirmou Petra.
Disponível na plataforma desde a semana passada, "Democracia em Vertigem" tem dividido opiniões. Enquanto a esquerda, de modo geral, elogia a narrativa de Petra, pessoas identificadas com a direita tendem a discordar

A diretora afirmou no debate que é importante romper as bolhas. "O exercício de escuta é o caminho para a democracia. A erosão foi tão grande que temos que voltar para o básico e tentar encontrar pontos de diálogo com o outro lado."

Para Fábio Zanini, que editou o caderno Poder durante boa parte da crise política recente, o pior erro que a esquerda cometeu – e ainda comete, ocasionalmente – é culpar inimigos externos, como a imprensa, pelos seus fracassos.
"A esquerda precisa fazer mais autocrítica e procurar menos bodes-expiatórios", disse, no que foi vaiado por parte dos presentes.

Zanini é responsável hoje por um blog dedicado a cobrir e analisar o crescimento da direita no Brasil. "Havia o estigma de ser de direita. Isso acabou", disse. "As pessoas ainda têm pudor de se chamarem de extrema-direita, mas é questão de tempo para que isso acabe também."
Também presente no debate, o historiador Luiz Felipe de Alencastro, ligado ao PT, entregou sua cota de autocrítica.

"Nós todos sabíamos que a Dilma nunca tinha tido um voto, e que tinha uma inexperiência política muito grande no trato."

Ele citou como exemplo o caso do senador potiguar Garibaldi Alves (MDB), que foi ministro da Previdência Social de Dilma durante seu primeiro governo (2011-2015). "A presidente nunca abriu a agenda para ele. Era a Gleisi Hoffmann que despachava com ele."

Alencastro elogiou o filme. A mediação do encontro foi feita pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, que afirmou que o filme está causando uma catarse. 

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