O alto custo, inclusive ambiental, da alternativa energética brasileira

Publicado em 14/07/2025, às 06h50

Flávio Gomes de Barros

Economista Daniel Lima Costa:

"Num país com abundância de sol, vento e água, o sistema elétrico brasileiro vive um paradoxo, enquanto fontes renováveis são descartadas, termelétricas caras e poluentes são priorizadas, sem leilão, sem a devida concorrência, e com alto custo.

Foram aprovadas 12 usinas térmicas por seis geradoras, em um total de 39 ofertas, ao preço médio de R$ 1.186,45 por MWh — número que escandaliza frente às fontes solares e eólicas, que custam menos de R$ 250/MWh em leilões recentes.

Ainda mais preocupante é saber que o leilão originalmente previsto foi postergado pelo próprio governo, substituído por contratações diretas sem critérios claros. Essa postergação não apenas compromete a transparência, mas abriu caminho para decisões questionáveis que ignoram o planejamento técnico e priorizam fontes fósseis.

A escolha da Porto Pecém I, a única usina movida a carvão aprovada, reforça esse retrocesso. Mesmo com 14 ofertas de usinas a gás natural disponíveis, optou-se por uma das fontes mais poluentes — revelando descompromisso ambiental em plena véspera da Cop30.

Enquanto isso, usinas como Uruguaiana (R$ 2.140,22/MWh) e Norte Fluminense (R$ 2.236,28/MWh) foram contratadas, apesar de valores que superam em até 10 vezes as fontes limpas. E, ironicamente, o curtailment continua a afetar eólicas e solares, forçando usinas renováveis a parar de gerar energia por falta de infraestrutura, mesmo com condições climáticas favoráveis.

Mas há luz possível no fim desse túnel. Uma solução de curtíssimo prazo já existe e é viável, os sistemas de armazenamento por baterias. Amplamente utilizados em países com redes modernas, eles permitem:

- Armazenar o excesso de energia renovável e liberá-la nos momentos de pico;

- Evitar curtailment, garantindo maior uso da geração limpa;

- Reduzir drasticamente a dependência de térmicas emergenciais;

- Estabilizar a rede e proteger o consumidor de tarifas infladas.

Ignorar essa alternativa revela um sistema que opta conscientemente pelo atraso, sustentado por interesses que lucram com o desequilíbrio. O leilão, que deveria ser a ferramenta de justiça e competição, foi adiado — e no seu lugar, instalaram um jogo fechado que penaliza a sociedade.

A pergunta que não se cala é: por que pagar caro pela energia suja, quando a limpa é mais barata e já está disponível?

A quem interessa esse caos que consome o que temos de mais valioso, nosso meio ambiente e o bolso da população?"

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