Hipocrisia: “mensaleiros” pregando moralidade

Publicado em 23/09/2025, às 17h50

Flávio Gomes de Barros

Texto de Ricardo Kertzman:

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“No dia 7 de setembro passado, a Avenida Paulista foi ocupada por bolsonaristas que pediam anistia para os condenados do 8 de Janeiro. Entre os oradores, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, abriu o ato em São Paulo defendendo a causa. Condenado no mensalão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, cumpriu parte da pena em regime fechado e só recuperou a liberdade graças a um indulto natalino editado por Dilma Rousseff no fim de 2015 e aplicado pelo Supremo em 2016.

No domingo, 21 de setembro, foi a vez da esquerda ocupar as ruas. Em Brasília, José Dirceu – o ‘guerreiro do povo brasileiro’ – discursou contra a chamada PEC da Blindagem, popularmente PEC da Bandidagem, proposta que praticamente impede investigações e processos contra parlamentares criminosos. Também condenado no mensalão, cumpriu pena, voltou à prisão na Lava Jato e, assim como Valdemar, beneficiou-se do mesmo indulto natalino, que o livrou definitivamente da condenação.

Dois lados supostamente opostos e uma mesma contradição. Valdemar e Dirceu dividem não só a ficha corrida pregressa, mas também o privilégio de terem saído pela porta da frente (moralmente, a porta de trás), graças a um perdão presidencial. Hoje, continuam em palanques eleitorais populistas e demagógicos, bradando moralidade e bons costumes, jurando combater a corrupção e a defesa da democracia. As bolhas que militam nesses campos já não querem nem saber. O importante é apoiar.

Bolsonaristas, com Valdemar à frente, clamam por uma anistia ampla, geral e irrestrita para os golpistas mequetrefes e os tubarões dos palácios e ministérios, notadamente o líder da organização criminosa (segundo o STF), Jair Bolsonaro. Petistas, com José Dirceu de microfone em punho, denunciam a blindagem parlamentar como se fossem – justo eles, os protagonistas do mensalão, petrolão e agora INSS – guardiões da ética. Um acusa o outro de proteger corruptos, mas ambos carregam, protegem e idolatram os seus.

Ao menos desde o mensalão, portanto, o Brasil não foi capaz de produzir novas lideranças nacionais – com autoridade moral minimamente incontestável. O espaço foi ocupado por reciclados de toda sorte: condenados perdoados, beneficiários de anistias, sobreviventes de escândalos.

É com esses rostos que a política nacional insiste em se apresentar ao eleitor que, cada vez mais cansado, se torna presa fácil para outsiders messiânicos, com discursos radicais, prontos para tomar o poder e subverter a ordem institucional.

Eis por que a eleição de 2026 caminha para ser mais uma reprise deste show de horrores. Lula, símbolo dessa ausência de renovação, à esquerda, contra algum preposto de Jair Bolsonaro, à direita.

Uma alternativa viável parece miragem, principalmente enquanto Eduardo Bolsonaro e Donald Trump alimentam o lulopetismo tarifas e sanções, oferecendo o inimigo externo ideal. E com o bolsonarismo e suas bandeiras indecorosas (anistia e blindagem) auxiliando, o país, encurralado, tende a manter-se como está.”

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