Redação
O local onde funcionava a comunidade terapêutica na qual a esteticista Cláudia Pollyane Faria de Santa'Anna morreu tinha um cômodo chamado de "quarto da tortura" pelos internos, segundo informou a Polícia Civil. A situação foi verificada durante operação na manhã desta segunda-feira (25). A parede, de acordo com as delegadas Ana Luiza Nogueira e Maria Eduarda, estava suja (circulada em vermelho na foto em destaque), possivelmente com manchas de sangue causadas pela violência praticada contra pacientes.
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"De acordo com informações prestadas, também havia o cometimento de crimes de violência física, de violência psicológica e até de crime de estupro [no quarto da tortura]", disse a delegada Ana Luiza Nogueira, da Polícia Civil alagoana.
As polícias Civil, Militar e Científica, o Corpo de Bombeiros, a Vigilância Sanitária e demais órgãos estiveram na casa com o objetivo de cumprimento de mandados de busca e apreensão e da perícia. O local foi interditado.
Dentro do imóvel com quatro quartos as condições precárias chamaram a atenção, como a presença de mofo e falta de manutenção. Além das torturas, cerca de 20 pacientes internados eram submetidos a regras crueis, como tomar banho com o tempo cronometrado em apenas dois minutos.
"As pessoas que foram ouvidas no inquérito policial deixaram claro isso. A situação deixa muito evidente o cometimento de crime de tortura", salientou a delegada.
A Polícia Civil informou nesta manhã que apura se há mais gente envolvida nas denúncias de abuso e violência contra pacientes que eram internados no local.
O caso - A família da esteticista Cláudia Pollyanne registrou um Boletim de Ocorrência para solicitar exames complementares após ter sido informada na Unidade de Pronto Atendimento de Marechal Deodoro, na região Metropolitana de Maceió, sobre hematomas no corpo da mulher, que morreu no sábado, 9 de agosto.
Ainda no sábado, o representante da clínica também registrou B.O. para informar o óbito às autoridades. A reportagem do TNH1 teve acesso aos dois boletins de ocorrência registrados junto à Polícia Civil.
No relato, o homem diz que a paciente teria entrado em surto de abstinência. Que ela teria sido medicada, jantado e ido dormir. "Ao amanhecer, um colaborador bateu na porta do quarto e foi informado por outras acolhidas que Cláudia Pollyanne não estava bem". O homem afirmou que a levou rapidamente para a UPA de Marechal Deodoro, onde foi constatado o falecimento dela. Disse ainda que a família foi comunicada.
A família da mulher detalhou no boletim de ocorrência que, ao chegar na UPA, foi informada por uma assistente social e pelo médico de plantão que a vítima já estava em óbito há pelo menos 4 horas e que a Cláudia apresentava hematomas por todo o corpo e olho roxo.
De acordo com a delegada Liana Franco, titular do 17º Distrito Policial, depois da repercussão do caso da esteticista, a polícia passou a receber mais denúncias. Após o resgate de uma adolescente de 16 anos, também paciente da clínica, na noite da quinta-feira, 14, a proprietária da clínica foi presa. A menina contou aos policiais que teria sofrido abusos sexuais praticados pelo dono clínica, marido da proprietária.
Uma vítima contou à polícia que, nos nove meses em que ficou internada na clínica, sofreu abusos, foi dopada e que havia até um cachorro da raça pitbull nas dependências da 'comunidade terapêutica' como forma de intimidação.
O resultado do exame cadavérico feito no corpo da esteticista Cláudia Polllyane Faria de Santa'Anna, de 41 anos, apontou como causa da morte uma insuficiência respiratória aguda. O documento também revelou a presença de diversas lesões traumáticas no corpo da esteticista.
O proprietário da clínica era considerado foragido desde o dia 15 de agosto - data em que a polícia prendeu a esposa dele, que também é proprietária da clínica. Ele foi preso escondido em um motel, no dia 22 de agosto, em Jacarecica, Litoral Norte de Maceió.
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